Nós nem percebemos, mas os materiais que conhecemos definem boa parte do que podemos fazer e até mesmo conceber em nosso processo criativo. Épocas inteiras foram descritas a partir do domínio de tecnologia em relação aos materiais, como a Idade da Pedra ou a Era do Bronze, e hoje em dia já desenvolvemos tanto que é até difícil imaginar o que ainda podemos criar.
É exatamente nessa fronteira de conhecimento que trabalha o engenheiro Manuel Houmard, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nascido em São Luis do Maranhão, Manuel cresceu em Rouen, na França, e viveu a vida inteira no país europeu, até voltar ao Brasil durante um período do seu doutorado, e mais tarde no pós-doutorado.
Durante a infância, além do futebol e da queimada, Manuel nutria um carinho muito especial pelas aulas de física e química na escola, suas preferidas. “Sempre fui uma criança curiosa por fenômenos naturais”, relata.
Por conta desse interesse, ele já sabia desde cedo que gostaria de engenharia, restava saber qual. A curiosidade por entender como são feitas as coisas o fez optar pelo curso de Engenharia de Materiais na Escola Nacional de Eletroquímica e Eletrometalurgia de Grenoble. Lá, além de amizades que levou pra vida, Manuel descobriu também o gosto pela pesquisa científica, ao realizar mestrado concomitante aos últimos anos de graduação, no Instituto Politécnico de Grenoble, quando teve contato mais de perto com a rotina de um laboratório.
Obteve o título de mestre com um estudo sobre a influência do processo de laminação a frio sobre a superficie de aços inoxidáveis. Nesse período, foi orientado pelos professores Jean-Charles Joud e Gregory Berthomé. No doutorado, continuou no Instituto Politécnico de Grenoble, dessa vez sob orientação de Michel Langlet e Gregory Berthomé, quando começou a se aprofundar no processo sol-gel, onde em determinado momento ocorre a transição de uma solução para um estado de gel, formando então um novo material. Esse processo é muito usado para fabricar materiais sintéticos nanoestruturados na forma de filmes finos ou de material mesoporoso, por exemplos.
Durante o doutorado, Manuel teve a oportunidade de passar um período na Universidade Federal de Minas Gerais, onde viria a ser professor. Mas antes de retornar, o novo Acadêmico fez dois anos de pós-doutorado no Lawrence Berkeley National Laboratory, nos EUA, onde se aprofundou no desenvolvimento de biomateriais.
Desde 2012, Manuel é professor da Escola de Engenharia da UFMG, primeiro como adjunto e agora como associado. “As pesquisas que meu grupo realiza consistem em adequar quimica e estruturalmente diversos materiais, com intuito de desencadear ou melhorar propriedades especificas, em particular para aplicações ambientais”, descreveu.
Em uma dessas pesquisas, Manuel Houmard utiliza a fabricação sol-gel na produção de materiais mesoporosos com alta capacidade de captação de água. Essas propriedades podem ser usadas para aplicação em regiões que sofrem com estiagens, para diminuir o desperdício e reaproveitar inclusive a água que evapora. “A ciência, em geral, permite descobrir novas soluções para diferentes problemas da sociedade e assim melhorar a vida de todos. Em minha área, desenvolvemos novos materiais para aproveitar os recursos naturais e para mitigar a poluição industrial”, explica.
Agora na ABC, o Acadêmico conta que a eleição vem numa data muito especial, após completar uma década de docência na UFMG. “Espero poder ajudar a sociedade a enxergar melhor o papel importante da educação e da pesquisa para o desenvolvimento do país”.