O historiador José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 2000 e da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2004, morreu na madrugada de 13 de agosto, aos 83 anos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, em consequência de complicações da covid-19. Deixou um filho, Jonas Lousada de Carvalho.
José Murilo de Carvalho era considerado um dos maiores historiadores e intelectuais brasileiros. Bacharel em sociologia e política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre e doutor em ciência política pela Universidade de Stanford, na Califórnia, onde defendeu tese sobre o Império Brasileiro, foi professor e pesquisador visitante nas universidades de Oxford, Leiden, Stanford, Irvine, Londres, Notre Dame, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton e na Fundação Ortega y Gasset, em Madri. Atuou por 20 anos como professor no antigo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Foi professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, publicou um bilhete ao amigo: “Querido amigo José Murilo, grande intelectual, defensor da democracia, da história, da ciência, da cultura, das artes… Você sempre esteve presente na vida da nossa Academia. Seu legado será sempre reverenciado. Seu jeito de ser sempre será lembrado e seu humor sempre invejado. Hoje lhe dizemos até breve e muito obrigada pela parceria. Abraços da Helena.”
Entre as 19 obras escritas por ele estão “Os Bestializados” (melhor livro de 1988 da Associação Nacional de Pós-graduação em Ciências Sociais), “A Formação das Almas – O Imaginário da República do Brasil” (Prêmio Jabuti de 1991) e “D. Pedro II” (Prêmio Jabuti de 2008), todos considerados fundamentais para a interpretação do Brasil. Em 2019, Carvalho relançou o livro “Forças Armadas e Política no Brasil”, que tinha sido publicado originalmente em 2005 e se mostrava cada vez mais atual. A obra ganhou uma nova edição em 2019, tendo o autor incluído no prefácio que o livro era “uma nova e mais pessimista interpretação do papel das Forças Armadas na história da nossa República e na construção de nossa ainda claudicante democracia”.
Relato exclusivo dos médicos Margareth Dalcomo e David Nigri
“Infelizmente, um dia dos pais muito triste. O professor Jose Murilo de Carvalho sofria de uma doença terrível chamada de fibrose pulmonar idiopática, chamada no passado de síndrome de Hamman-Rich. É uma doença progressiva, que vai tornando o pulmão duro e não funcional.
A medicina progrediu nos últimos dez anos com duas medicações que não curam esta doença, apenas retardam a velocidade da progressão da mesma. Porém, mesmo com com estas medicamentos, quando ocorrem viroses (e no caso dele foi a covid-9) e outras agressões, estas podem funcionar como o gatilho para a agudização da doença de base, no caso do professor a fibrose, que levou a pulmões extremamente rígidos, de difícil ventilação, mesmo no respirador com todas as melhores tecnologias existentes.
A quantidade de dióxido de carbono aumentou muito e o levou a ter três paradas cardíacas, sendo a ultima fatal. Transmitimos aos familiares e amigos nossas sinceras condolências e registramos o privilégio de ter tratado desse ser humano, tão amável e especial quanto ele.”