Confira trechos da reportagem publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos em 21/11/2022, com entrevistas dos Acadêmicos José Marengo, Paulo Artaxo e Philip Fearnside

Os compromissos assinalados pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP27, na última quarta-feira, 16-11-2022, têm repercutido positivamente entre os ambientalistas brasileiros que esperam uma guinada na agenda ambiental do novo governo.

Na avaliação do físico e meteorologista José Marengo, membro do grupo que produz o Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, o pronunciamento de Lula foi “sincero, esclarecedor e cheio de esperança. Finalmente o Brasil vai voltar a ter uma agenda ambiental onde a conservação de recursos naturais, povos indígenas, mudanças de clima, saúde, educação vão ter a importância que deveriam ter, como foi antes do governo atual”.

O físico e membro da equipe brasileira responsável pelo Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, Paulo Artaxo interpreta o pronunciamento do presidente Lula como uma indicação dos rumos da nova agenda ambiental. “Ele basicamente vai fazer com que seja estancado o processo atual de destruição dos ecossistemas brasileiros, que o atual governo está fazendo”, disse.

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O biólogo Philip Fearnside, que acompanha de perto as inúmeras transformações socioambientais que têm ocorrido na Amazônia nas últimas décadas e é um dos críticos das grandes obras de impacto socioambiental realizadas nos governos petistas, afirma que muitos pontos positivos marcaram o discurso do presidente eleito.

Mas, para além do entusiasmo imediato, pondera, “são importante também os aspectos não mencionados” no pronunciamento público. “A promessa é de combater o desmatamento ‘ilegal’, mas, do ponto de vista do clima e da biodiversidade, é todo o desmatamento que tem que parar e não apenas a ilegal. Um hectare desmatado legal ou ilegalmente tem o mesmo impacto sobre o clima. E é importante lembrar que há duas maneiras de acabar com o desmatamento ilegal: uma é de coibir a corte das árvores e a outra é de legalizar o desmatamento que está acontecendo”, observa. A proposta de criação de um novo ministério para a questão indígena, complementa, é positiva, “no entanto, o que mais precisa é uma afirmação de que o governo brasileiro vai respeitar a Convenção 169 da OIT e a legislação brasileira correspondente (violadas por Belo Monte, entre outras obras durante o primeiro governo Lula). Esta exige consulta aos povos indígenas sobre obras que os impactam, e garante uma voz na decisão sobre a implementação ou não da obra. O caso da BR-319 é a mais emblemática no momento. Até agora Lula não tem se comprometido claramente sobre a Convenção 169 da OIT”.

Confira as entrevistas completas com os cientistas no site do IHU.