Não é um exagero dizer que a história de Matheus Pereira Porto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) começou ainda no berço. Nascido em 1982, o membro afiliado da ABC é filho de uma servidora da instituição e, por isso, deu seus primeiros passos no berçário da UFMG. Lá ele também cursou o ensino fundamental, o ensino médio, a graduação, o mestrado e o doutorado, e hoje atua como professor do Departamento de Engenharia Mecânica.

O fato de estar imerso em um local com muita área verde e sem muros certamente foi um diferencial para sua infância “Eu lembro de ter feito muitas trilhas no campus na minha infância, às vezes para encurtar caminho entre as unidades”, relata Porto. Apaixonado por futebol, ele começou a praticar o esporte com menos de dez anos, na companhia dos amigos do Centro Pedagógico (CP), onde estudam as crianças na UFMG, de vizinhos e dos primos. Fora do horário das aulas, existiam as escolinhas de futebol, de que ele participava e conta que passou boa parte da sua infância nos três campos de futebol da UFMG e nas quadras poliesportivas.

Ter sido aluno da UFMG desde a educação infantil em um país com estrutura de ensino precária foi um privilégio para o engenheiro, que diz ter adquirido grande respeito pela instituição. “É um respeito de admiração. Quem vive na universidade desde novo, aprende a respeitar a universidade. Não precisa ser ensinado a ter respeito, é um aprendizado natural.”

Para o pesquisador, a universidade não é apenas um caminho necessário para o mercado de trabalho. Com uma visão profunda sobre a importância dessas instituições, Porto declarou que quando se pergunta das memórias que os egressos têm, além das aulas e provas, quem fez somente o ensino superior na universidade irá relatar um sentimento nostálgico das calouradas (e só!). Mas diz que a universidade tem muito mais a oferecer. Ele enxerga a instituição como um espaço cultural e de reflexão sobre o que o ser humano é capaz de fazer de bom – além de ser um local para conversar com colegas e usufruir da liberdade para explorar novas ideias.

Matheus fez o vestibular e foi aprovado para o turno noturno do curso de engenharia mecânica em 2003. Gostou bastante desde o começo, em especial de estudar cálculo. Já no primeiro período, conseguiu um estágio em uma indústria em Contagem, cidade próxima, trabalhando com a coordenação de pinturas industriais. Seu segundo estágio foi em uma empresa chamada Sinergia Engenheiros Consultores, uma empresa de consultoria em engenharia mecânica, voltada para o setor de energia elétrica, da qual seu tio Licínio era um dos sócios. Durante os dois anos em que permaneceu na empresa, Porto estreitou laços com alguns professores de seu curso. Foi essa experiência com a indústria que o incentivou a fazer pesquisa: mesmo depois de ter saído da Sinergia, Porto manteve o contato com os professores – mas desta vez, em nível de pós-graduação.

Antes de concluir a graduação, em 2007, o Acadêmico saiu da empresa administrada pelo tio para trabalhar na Kotchergenko, corporação voltada para consultoria na área de mineração, onde trabalhou até parte do doutorado. Durante o mestrado (2008-2010) e o doutorado (2010-2013), firmou definitivamente a parceria com os professores Luiz Machado e Ricardo Koury, que conhecera nos tempos de Sinergia.

Conciliar o trabalho e a pós-graduação era uma tarefa árdua para o Acadêmico, que nunca desanimou. Contudo, ele tinha um grande sonho: viver uma experiência de pesquisa no exterior, algo que o doutorado sanduíche lhe proporcionaria. Após diversas tentativas, a oportunidade veio na forma de uma bolsa na Universidade da Califórnia em São Diego (UCSD). Na mesma época, recebeu uma proposta de cargo de chefia na Vale, como gerente da parte mecânica da mina de Brucutu – uma oportunidade única, da qual Porto declinou para ir atrás de seu sonho. “O cargo ia ser meu, se eu quisesse, mas foi colocado pelo entrevistador, que era gestor da Vale, que eu teria que abandonar o doutorado. Eu sabia que era uma oportunidade única, que eu poderia fazer grande carreira na Vale, mas o doutorado era um desafio do qual eu não queria abrir mão. Nem tudo na vida é retorno financeiro”, avaliou o cientista.

Em 2014, logo após concluir seu doutorado, o engenheiro foi aprovado no concurso para professor da UFMG, momento descrito como “uma alegria como ele nunca teve na vida”. Para sua mãe, em especial, o título foi o maior orgulho que ela já teve. Seu currículo agrega, em 2022, 31 artigos em congresso, 24 em revistas internacionais de impacto e três patentes, além de ter concluído as orientações de quatro alunos de doutorado e 13 de mestrado. É também o representante da UFMG na World Alliance of Universities on Carbon Neutrality (WAUCN), que conta com a participação de 27 universidades em todo o mundo. Porto recebeu ainda o Prêmio OutLab, da Fundep, pela excelência na coordenação do Laboratório de Termometria (LabTerm) da UFMG.

“Eu sempre me preocupei com a questão ambiental. É importante ter profissionais em todas as áreas do conhecimento e em todos os setores da sociedade que pensem na questão da sustentabilidade ambiental”, aponta o Acadêmico. Foi esse interesse que o levou para a sua atual área de pesquisa: o desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia elétrica renovável em larga escala, capazes de substituir os sistemas convencionais, que utilizam baterias de lítio. “O uso de sistemas de armazenamento de energia elétrica é necessário, uma vez que as fontes renováveis, como a eólica e fotovoltaica, são intermitentes, e a energia é utilizada de forma contínua”, explicou Porto.

E completou, refletindo sobre a importância dessas formas de armazenamento em grande escala num futuro próximo em que, espera-se, haja muitas fontes intermitentes em uso.

“Em geral, os sistemas de armazenamento que eu desenvolvo são mecânicos – utilizam água, ar e gás carbônico como fluidos de trabalho em um ciclo termodinâmico.”

Além das atividades já mencionadas, o engenheiro também realiza pesquisas na área de termometria e coordena o Centro Multiusuário de Termografia Científica (Cemtec), um laboratório de extensão da UFMG. “Hoje, com toda a história que eu tenho dentro da universidade, vejo professores que têm muitos anos de casa, mas que não conhecem a UFMG como eu conheço”, assegura Matheus Porto, com seu vínculo de quase 40 anos com a instituição. “Eles vêem um recorte muito pequeno da UFMG, em geral a unidade em que

eles trabalham. Quando muito, eles trocam experiência com outros iguais de outras unidades, o que cria uma redundância e uma visão distorcida da universidade.”

Matheus Porto diz que é um homem simples: gosta de viver a vida, ver pessoas, conversar com desconhecidos. O gosto pelo esporte ainda permanece, apesar de não praticar com a mesma frequência de antes. No tempo livre, ele confidencia que gosta de compor e tocar violão. “Eu gosto de conhecer a essência das coisas”, resume o pesquisador.