Leonardo Cristiano Campos nasceu em 1980, na cidade de Contagem, a menos de 20km de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, onde passou a infância. “Belo Horizonte era uma capital que mantinha a atmosfera de cidade do interior”, conta. Assim, ele brincava livremente na rua, jogava futebol, subia em árvores e visitava frequentemente chácaras próximas, onde havia natureza, animais, riachos, nascentes, etc.
Leonardo diz que sente saudades da primeira escola, em que cursou o ensino fundamental. Gostava das aulas de poesia, de matemática e do contato quase familiar que havia entre as crianças e todos que trabalhavam lá. “Ainda não preferia nenhuma disciplina: gostava do todo, da escola em si”, declara.
Sua mãe não trabalhava fora e seu pai tinha um cargo de técnico em telecomunicações. Segundo filho do casal, Campos tem um irmão dois anos mais velho, que frequentou a faculdade de engenharia civil no mesmo período em que ele cursou sua graduação em física. Seus pais sempre reforçaram a importância de uma boa educação, porém ele afirma que sua família nunca interferiu na escolha de carreira. “Acredito que fizeram o melhor que puderam e trabalharam duro para que um dia tivéssemos a oportunidade de ingressar em uma universidade”, relata.
Ele conta que seu interesse pela ciência nasceu naturalmente. Sempre foi uma criança curiosa e vivia fazendo perguntas sobre coisas simples do cotidiano, como porque o barulho de um relâmpago chega depois da sua luz ou qual a diferença entre sua existência e a de outro animal qualquer”. Como consequência, Leonardo tinha seu próprio modelo – não científico – para explicar superficialmente suas grandes dúvidas. “A validade desses modelos não era importante e sim o hábito de refletir sobre as questões que me intrigavam, Foi o hábito de perguntar e desenvolver hipóteses que fizeram despertar a ciência em mim”, ressalta.
No ensino médio, identificou-se fortemente com a física. “Estudar física foi como voltar a ser criança e pensar nas coisas da natureza e da vida. Intensificou meu gosto por pensar sobre os fenômenos físicos e tentar entendê-los”, destaca. Mas a decisão de cursar física na universidade só veio quando trabalhou como auxiliar técnico de eletrônica em pequenas empresas durante dois anos. Embora ainda não tivesse maturidade entender quais as características que um pesquisador deve desenvolver, sua escolha se baseou na paixão pela física.
Leonardo Campos frequentou a graduação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) entre 2001 e 2004. Já no segundo ano fez estágio de iniciação científica, que foi seu primeiro contato propriamente dito com a ciência. “Nessa época, o que me chamou mais a atenção foi aprender as etapas de um projeto científico e entender como funcionam os equipamentos no laboratório”, relata. Um ano após o fim da graduação, iniciou o mestrado em física, na mesma instituição. Segundo ele, foi nesse período que começou realmente a fazer pesquisa num contexto mais amplo, no qual já era capaz de entender os desafios e propor estratégias, orientado pelo professor Rodrigo Gribel Lacerda, que tornou-se um parceiro na ciência. “Era uma época muitos desafiadora para mim e essa parceria com o Rodrigo me fez alcançar todos os objetivos propostos”, afirma.
Logo em seguida, em 2006, sentiu-se pronto para seguir em frente. Entre 2008 e 2009 fez doutorado sanduíche no Departamento de Física do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), nos EUA, no laboratório do professor Pablo Jarillo-Herrero. Destaque do grupo, Campos retornou ao MIT para o pós-doutorado, período muito complicado em sua vida. “O primeiro ano foi muito difícil. Tentei trabalhar com problemas quase que improváveis. Foi uma chance de ir para a fronteira da ciência”, afirma. Ele agradece imensamente o apoio recebido do professor Jarillo-Herrero, pela oportunidade de arriscar-se em projetos complicados e de crescer com o desenvolvimento deles.
Desde 2013, Leonardo Campos é professor do Departamento de Física da UFMG, e se dedica a três áreas da física da matéria condensada, todas atreladas à física dos materiais em duas dimensões. Produz e estuda as propriedades eletrônicas dos materiais bidimensionais, formados por uma ou poucas camadas de átomos. Ele explica que o que mais lhe estimula a estudar essa área é a versatilidade desses materiais e a possibilidade de modificar suas propriedades físicas empilhando-os uns sobre os outros, criando-se as chamadas hetero-estruturas de Van der Waals. “É possível criar condições físicas para que o mesmo material seja condutor de eletricidade, isolante de eletricidade, condutor de cargas elétricas sem perdas de energia, etc”.
Apaixonado pela ciência, Campos acha fantástica a possibilidade de entender a natureza a partir da física. “Vemos que algumas leis, que são escritas em equações diferenciais, simplesmente descrevem milhares de fenômenos. Isso é algo impressionante!”, entusiasma-se. Em sua área, entender novas propriedades, desenvolver aplicações baseadas em comportamentos provenientes delas e conseguir controlar a matéria de forma reversível e sistemática são aspectos que o fascinam.
O pesquisador afirma que ser membro da ABC representa o reconhecimento de todo seu trabalho e a oportunidade de poder atuar na Academia, na tentativa de melhorar a ciência e a educação no Brasil. “Pretendo participar ativamente das tarefas que me forem concedidas e tentar conectar-me com outras pessoas que também queiram que o Brasil se desenvolva e seja um país melhor para as próximas gerações”, assegura o físico.
Além da ciência, ele produz sua própria cerveja artesanal e é pai de duas crianças, por quem é o responsável nos finais de semana e durante a noite. “Acho que isso é o que hoje me dá mais prazer – e trabalho – na vida”, relata, rindo. Gosta de cozinhar e adora jogar futebol – atividade que pratica duas vezes na semana. Curte ouvir música, especialmente rock clássico, música clássica e samba. Dentre os romancistas brasileiros, seu preferido é Ariano Suassuna, “autor de obras cômicas e inteligentes”. Por fim, ele se define como “aquele tipo de pessoa que sente felicidade ao ver o nascer ou o pôr do sol”.