Ricardo Martínez García nasceu e passou seus primeiros anos em 1988, em Pontevedra, capital da província de Galiza, na Espanha. Passou a primeira infância em sua cidade natal e depois foi para Menorca (Ilhas Baleares) e Tenerife (Ilhas Canárias). Martínez García conta ter várias memórias felizes da infância, praticando esportes como futebol e tênis, e sempre acompanhado dos amigos da rua e do irmão mais velho.
Quando criança, Ricardo conta que não tinha um interesse especial pelas ciências. Nos primeiros anos escolares, ele amava história e matemática – realidade que só foi modificada perto do vestibular. Nos últimos anos do ensino médio, em Tenerife, teve um professor de matemática e física, Juan Francisco Hernández, que o impressionou profundamente e fez com que Ricardo começasse a se interessar cada vez mais pela física.
No último ano da escola, o professor sugeriu a Ricardo a possibilidade de participar das Olimpíadas de Física. “Durante muitos meses, passamos tardes no preparação para os testes, resolvendo problemas e vendo material mais avançado”, lembrou. “Eu me divertia, estudar física e matemática não era um sacrifício tão grande quanto as outras disciplinas e eu era bom nisso”. O cenário era favorável: havia uma faculdade de física muito boa em Tenerife e Ricardo também gostava muito de morar por lá. Era uma oportunidade de unir o útil ao agradável.
Em 2006, Ricardo Martínez García iniciou o curso de física na Universidad de La Laguna (ULL), nas Ilhas Canárias. Durante os quatro anos de curso, ele fez parte de dois projetos de iniciação científica. No terceiro ano, porém, assumiu que estava decepcionado com as matérias e a carreira em geral, até começar a estudar disciplina de física estatística. Após uma conversa com o professor da disciplina, ele trabalhou por dois anos em um pequeno projeto de óptica quântica, o que foi fundamental para que recuperasse o interesse pela física.
No final do terceiro ano de graduação, ele conseguiu uma bolsa de iniciação científica para trabalhar durante dois meses no Instituto de Física Interdisciplinar e Sistemas Complexos (IFISC), um instituto de investigação em Mallorca, nas Ilhas Baleares. “Foi lá que comecei a aplicar a física estatística ao estudo de problemas ecológicos e para onde voltaria mais tarde para fazer o mestrado e o doutorado. Foi também a minha primeira experiência de trabalho como pesquisador em tempo integral, num centro de primeiro nível, com muitos alunos de doutorado e pós-doutores, e fora de Tenerife. Adorei a experiência e decidi que queria me dedicar à pesquisa”, relatou o pesquisador.
Após a conclusão da graduação, em 2010, Ricardo voltou no IFISC para concluir o mestrado (2011) e o doutorado (2014), ambos em física. Ele continuou os estudos com um pós-doutorado no Departamento de Ecologia da Universidade de Princeton, EUA. A referência do irmão mais velho, que cursou biologia e tornou-se pesquisador na Itália, foi forte para Ricardo Martínez García e ficou clara nessa época. Graças a influência dele, o cientista mudou gradualmente seus interesses da física teórica para a ecologia.
Atualmente, o projeto de pesquisa do Acadêmico está direcionado para a aplicação do formalismo matemático da física estatística ao estudo de problemas ecológicos, ou seja, a tentativa de entender como funcionam alguns dos ecossistemas que nos cercam. Para isso, são criadas representações desses ecossistemas na forma de modelos matemáticos, muitas vezes com o auxílio de simulações computacionais. Alguns objetivos mais específicos da pesquisa incluem entender como os animais se movem em diferentes ambientes e como algumas plantas interagem com outras através de suas raízes. “Neste último problema, por exemplo, o uso de modelos matemáticos é especialmente importante porque nos permite ‘ver’ processos que ocorrem sob o solo, totalmente escondidos de nossos olhos”, contou, empolgado.
Martínez García relata que seu trabalho tem muitas aplicações, principalmente relacionadas à preservação do meio ambiente. “Os modelos nos permitem ter representações simples dos mais complexos sistemas e assim podemos entender melhor como eles se comportam ou prever como responderão a mudanças externas. Por exemplo, modelos para descrever o movimento de certas espécies animais nos permitem entender quanto espaço eles precisam para viver ou quais propriedades têm as regiões em que tendem a viver com mais frequência. Com essas informações, podemos prever como e quanto as intervenções humanas no ambiente afetarão a sobrevivência dessas populações animais e podemos projetar essas intervenções de forma que o impacto seja mínimo”, explicou.
Desde 2019, Ricardo Martínez Garcia recebe a bolsa de Jovem Pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), atuando no Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT/Unesp) e no Instituto Sul-Americano para Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR). Também é pesquisador associado Simons no Instituto Internacional de Física Teórica (Abdus Salam/ICTP), na Itália. Desde 2020, integra o time de pesquisadores apoiados pelo Instituto Serrapilheira.
Para Martínez Garcia, o que mais o atrai na ciência é a estimulante sensação de trabalhar em um problema cuja solução é desconhecida. Ele também gosta muito do ambiente cooperativo que envolve a pesquisa científica e da possibilidade de conhecer pessoas em muitas partes do mundo e trabalhar com elas. “Eu me considero muito afortunado por poder trabalhar no que quero, por passar meu tempo estudando um problema que eu escolho e por fazer isso com pessoas incrivelmente inteligentes, com as quais aprendo continuamente.” Seu maior estímulo é o contato com os alunos, que estão sempre com desejo de aprender e saber mais. “Ajudá-los a obter o máximo de si mesmos e vê-los alcançar seus objetivos é provavelmente a maior satisfação deste trabalho”, afirmou.
Fazer parte da ABC é motivo de grande orgulho para o pesquisador, que considerou o convite uma oportunidade única de se inserir totalmente no sistema científico brasileiro. “Acredito que a ABC oferece um espaço único para interagir com cientistas de diferentes áreas que atuam em diferentes estados do país. Estou ansioso para trabalhar com eles e contribuir com tudo que puder para deixar as futuras gerações de cientistas com um sistema ligeiramente melhor do que o encontramos.”
Quando não está trabalhando, o Acadêmico gosta muito de praticar esportes e de qualquer atividade relacionada ao mar. Ele também aprecia conhecer novos lugares e culturas. “Nesse sentido, vir morar no Brasil foi uma oportunidade incrível de viver em meio a uma natureza tão rica e uma cultura maravilhosa. Mas apesar de ter vivido em muitos lugares e
em diferentes países, e ter gostado de todos eles, Pontevedra, onde nasci, é para mim um lugar especial no mundo”, comentou.