Julio Cesar Batista Ferreira nasceu em 1980, na capital do estado de São Paulo. Teve uma infância muito prazerosa e rica em estímulos, para ele rápida e passageira. No colégio, suas matérias preferidas eram educação física, biologia, história e geografia. Sendo uma criança muito ativa, gostava de brincar de tudo que envolvesse movimento. Seus pais trabalhavam no setor privado, na área de contabilidade. Sendo o mais velho de dois irmãos, foi o único a cursar o ensino superior.  

Sua aproximação com a ciência se deu de maneira indireta. Ele conta que ao longo de sua vida sempre praticou diversas modalidades esportivas e, portanto, o interesse pelo esporte foi um fator determinante na escolha e no norteamento de sua carreira. “Sempre me interessei em entender como nosso corpo se adapta ao exercício. E para isso me aproximei da ciência”, diz. Entrou para o curso de bacharelado em esportes na Universidade de São Paulo (USP) com a ideia de ser técnico de natação. Ao longo da graduação, no entanto, se interessou bastante por bioquímica e metabolismo energético, tema atual de sua pesquisa.  Sua graduação foi concluída em 2003.

No terceiro ano da faculdade, “vivenciou” a ciência por meio da iniciação científica e ficou fascinado com a liberdade de testar hipóteses e, como ele descreve, a montanha russa que é realizar pesquisa, com sucessivos fracassos e sucessos ao longo do processo. “Achei fantástica essa experiência e decidi apostar na carreira de cientista”, contou.

Ao longo de seu percurso como estudante e como pesquisador, teve várias influências que usou e continua usando para moldar seus caminhos pessoais e profissionais, dentre eles, sua família, amigos, mentores e profissionais que admira.

Em 2006 conclui seu mestrado em biodinâmica do movimento pela USP e logo em seguida, no mesmo ano, deu início ao doutorado na mesma área e na mesma universidade. “Fiz graduação, mestrado e doutorado na Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFEUSP). Durante esse período, procurei explorar e conectar as diferentes áreas do conhecimento que me interessavam, incluindo fisiologia, bioquímica e farmacologia”, relatou.

A seguir, realizou um estágio de pós-doutorado na Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos, onde teve a oportunidade de adquirir novos conhecimentos em biologia molecular química, além de desenvolver outros projetos multidisciplinares. A partir dessa experiência em Stanford, Ferreira participou de um programa recém-criado na universidade chamado SPARK, que visava transformar descobertas em soluções para a sociedade, através de trabalho cooperativo entre acadêmicos e não acadêmicos. “A experiência foi única e atualmente criei uma extensão desse programa na USP, em parceria com Stanford, onde trabalhamos na identificação e orientação de projetos acadêmicos com potencial para gerar soluções (diagnósticos ou terapias) para demandas na área da saúde. Essa parceria funcionou tão bem que atualmente sou professor associado ao Departamento de Química e Biologia de Sistemas da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford”, conta.

Atualmente, Ferreira é professor associado do Instituto de Ciências Biomédicas e da Faculdade de Medicina da USP e professor associado da Universidade de Stanford, além de fundador e diretor do programa SPARK-Brasil. Suas áreas de pesquisa abrangem a descoberta e validação de processos celulares que contribuem para a progressão de doenças cardiovasculares e musculoesqueléticas. “No laboratório, estudamos como o metabolismo do nosso corpo se adapta perante estímulos saudáveis, como o exercício físico, e degenerativos, como doenças cardíacas. Utilizamos essas informações para desenvolver e testar novas moléculas sintéticas capazes de tratar doenças, como a insuficiência cardíaca”, explica. O laboratório já criou três moléculas que estão em fase de desenvolvimento em parceria com o setor privado, para talvez um dia ajudar pessoas com doenças cardíacas.  

“Entendo que esse é um dos grandes significados e obrigações da ciência: produzir conhecimento e canalizá-lo para a melhora da qualidade de vida das pessoas, de forma equilibrada e sustentada”, ressalta.

Como reconhecimento pela qualidade de suas pesquisas e de sua contribuição para a ciência, Ferreira recebeu diversos prêmios: Carlos Chagas, do Departamento de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia, em 2019; Tese Destaque USP, na área de ciências biológicas, em 2018; Prof. Dr. Cantídio de Moura Campos Filho, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), em 2015; primeiro lugar na III Olimpíada USP de Inovação, em 2014; International Early Career Physiologist Award, da The American Physiological Society, em 2012; e Young Investigator Award, do Instituto Cardiovascular da Universidade de Stanford, em 2008.

Ferreira afirma que ser membro titular da ABC significa um importante reconhecimento pelos seus pares, além de uma excelente oportunidade para conhecer e trabalhar com novas pessoas. Ele assegura que pretende atuar junto à Academia de forma participativa e ativa em discussões, grupos de trabalho e no delineamento de estratégias de curto, médio e longo prazo que visem o desenvolvimento da ciência e, consequentemente, o progresso da sociedade brasileira.

Em seu tempo livre, gosta de explorar novos ambientes com a família e alterar a rotina. “Geralmente leio livros que agreguem conhecimento sobre temas que desconheço. Música é sempre complicado, depende do humor! Filmes, qualquer um ao lado da família. Lugares, praia com família e pista de skate (tudo junto); em último caso, praia com família sem pista de skate. Estilo de vida, easy going!”, brinca. 

Duas coisas encantam Ferreira na ciência e em sua área específica: o progresso e os desafios. “Acredito que para termos uma vida equilibrada, inspiradora e com um significado real, precisamos buscar grandes desafios pessoais, sociais e profissionais, e transformá-los em oportunidades para mudanças, que certamente agregarão valor e contribuirão para a humanidade. Essa é uma tarefa árdua que busco exercer diariamente, sempre lutando contra a inércia que a vida nos impõe ao longo do tempo”, acrescenta.