O porto-alegrense Walter Orlando Beys da Silva nasceu em 28 de outubro de 1980 e é o terceiro de quatro irmãos, sendo hoje uma graduada em direito, um graduado em administração e outro em educação física, que o motivaram a ingressar na universidade.

Desde os tempos de colégio, sua matéria preferida era ciências/biologia. O interesse na área foi despertado por conta de sua paixão pela praia e pelo amar, além de gostar de mexer com plantas: desde pequeno, ele gostava de limpar e arrumar os canteiros da avó e fazer mudas de árvores e outras plantas. Seu principal modelo nas Ciências foi seu padrinho, Fernando Meyer, biólogo e coordenador do Museu Anchieta de Ciências Naturais, parte do Colégio Anchieta, onde o Acadêmico estudou. Ele foi o responsável por despertar o amor de Walter pela natureza. Ele compartilhou algumas memórias de infância: “Lembro, desde muito cedo, de ficar mexendo nas plantas, alimentando os peixes dos aquários, aranhas e conhecendo os animais que faziam parte do acervo, fazendo o meu ‘estágio’ com ele no Museu.”

A escolha da carreira acabou sendo algo muito natural. Para ele, nunca houve outra opção. Quanto à carreira no magistério, Walter enxerga na mãe sua maior influência, “um exemplo de dedicação e profissionalismo”, em suas palavras. A mãe foi professora de história por 39 anos e sempre cumpriu com muito gosto, responsabilidade e dedicação sua vocação. “Lembro que sempre acordava muito cedo, 4, 5 horas da manhã, para corrigir pilhas de provas antes de ir trabalhar”, comentou, ao mencionar seu maior exemplo.

Em 1999, ele iniciou o bacharelado e licenciatura em ciências biológicas com ênfase molecular e funcional na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Apesar de ter iniciado a graduação pelo gosto que tinha sobre plantas e a praia, Walter descobriu sua verdadeira paixão ao cursar as disciplinas de biologia molecular e bioquímica, no segundo semestre. Graças a namorada (e atual esposa), Lucélia Santi, ele ficou sabendo de uma oportunidade de iniciação científica em um projeto na área. Sua responsabilidade seria purificar e caracterizar uma queratinase (enzimas que decompõem proteínas como a queratina) de um extrato bacteriano – tarefa que foi cumprida em menos de um ano. Ele lembrou como foi o processo seletivo para conseguir a bolsa, marcado por uma agradável coincidência: “Na entrevista com o Professor Termignoni (chefe do laboratório), ele perguntou se eu tinha algum treinamento e porque tinha escolhido a biologia. Respondi que escolhi a biologia por influência do meu padrinho e por passar muito tempo ajudando-o no Museu Anchieta. Pra minha surpresa, ele perguntou se meu padrinho era o Fernando Meyer. Respondi que sim e ele disse ‘então foi bem treinado, a vaga é tua’. Havia acabado de descobrir que o Professor Termignoni estudou no mesmo colégio que eu e conhecia muito bem o meu maior influenciador e, por uma surpresa da vida, foi indiretamente responsável pela minha primeira oportunidade na pesquisa.”

No ano seguinte, surgiu a oportunidade de trabalhar em outro laboratório em um projeto relacionado a controle biológico e o estudo da infecção do fungo Metarhizium anisopliae, onde trabalhou com a namorada e atual esposa. No novo laboratório, ele teve a oportunidade de transitar pela microbiologia, bioquímica e biologia molecular em inúmeros

projetos acadêmicos e biotecnológicos. Com os coordenadores do laboratório, Professora Marilene Vainstein e o Professor Augusto Schrank, Beys da Silva firmou uma parceria que permaneceu durante o TCC, o mestrado e o doutorado. No seu primeiro pós-doutorado, foi supervisionado pelo Professor Jorge Almeida Guimarães, a quem considera um dos mais brilhantes e generosos cientistas do país e que, desde então, passou a ser seu mentor nas decisões acadêmicas tomadas e um dos seus principais colaboradores em projetos de pesquisa. Para além dos professores e orientadores, a pessoa mais importante da sua trajetória acadêmica foi – e continua sendo – sua esposa, com quem sempre dividiu a bancada e a classe desde o início da faculdade: “Talvez não tivesse seguido na pesquisa sem ter ela ao meu lado sempre. Hoje tenho orgulho de dividirmos a coordenação do Laboratório de Microbiologia Molecular e Proteômica na Universidade onde fizemos juntos toda a nossa formação”.

Beys da Silva realizou o mestrado (2005) e o doutorado (2009) em biologia celular e molecular também na UFRGS. Acumula quatro pós-doutorados, sendo dois (2010 e 2012) na UFRGS; um no The Scripps Research Institute (SCRIPPS), na Califórnia (EUA), sob supervisão do Professor John Yates III, um dos maiores pesquisadores do mundo na área de Proteômica, concluído em 2014; e o mais recente, em 2018, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Desde 2018 é professor adjunto da UFRGS.

Atualmente, o biólogo trabalha com o estudo de infecções microbianas e com proteômica aplicada na caracterização de processos fisiopatológicos (distúrbios funcionais e significado clínico) e de interesse biotecnológico. As aplicações das pesquisas que ele desenvolve nestas áreas envolvem o entendimento de doenças que afetam seres humanos como a zika, a criptococose e a COVID-19. Além disso, ele também estuda a infecção de um fungo biocontrolador que possa ser utilizado para melhorar a capacidade de controlar pragas de interesse sanitário e agropecuário, como o carrapato bovino. A proteômica, que é a pesquisa que envolve a identificação e caracterização de proteínas, permite um entendimento amplo de processos fisiopatológicos que ajudam a prever potenciais alvos terapêuticos, doenças associadas e novas hipóteses em modelos de estudo complexos.

Para ele, a possibilidade preditiva de futuros cenários e a possibilidade de entendimento de fenômenos complexos através da elaboração de hipóteses e delineamentos experimentais simples sempre o encantaram na ciência e continuam movendo seu interesse. Ter sido eleito membro afiliado da ABC é uma “grande e satisfatória responsabilidade”, uma vez que ele estará representando a comunidade científica, suas trajetórias e histórias. “O título representa o reconhecimento da minha trajetória até o momento, mas, principalmente uma responsabilidade enorme de continuidade e progresso das pesquisas que estou desenvolvendo e de outras futuras”, comentou.

Além da ciência, suas paixões incluem a filha Gabriela, a família, o cuidado com as plantas, fotografar, viajar, ir para a praia, assistir filmes e praticar esportes.