Flávio Almeida Amaral é uma pessoa muito caseira. Quando não está na universidade, passa a maior parte do tempo com a família. Tem um grande interesse por esportes, apesar de praticar pouco – umas raras pedaladas na cidade ou em terra batida – mas assiste na TV as mais variadas modalidades esportivas, sejam campeonatos nacionais ou internacionais. Gosta de ouvir músicas de vários gêneros, com predileção pelo rock. E gosta de viajar, vivenciar culturas variadas e experimentar sabores locais.
Sempre teve interesse em biologia, porém sem o objetivo claro de ser cientista: nunca conheceu nenhum na infância. Seu pai era comerciante, trabalhando em tempo integral, e sua mãe professora de escola primária, em meio período. Integrante de uma família grande, Flávio tem duas irmãs e um irmão. A mais velha cursou fisioterapia em Belo Horizonte. Seu irmão, segundo na ordem de nascimento, iniciou faculdade de engenharia em Itaúna, embora não tenha concluído o curso. Flávio foi o terceiro a entrar na faculdade, seguido de sua irmã mais nova, que completou o ensino superior em comunicação social em Belo Horizonte.
Ele nasceu em 1979, no município de Pará de Minas, localizado a 90 km da capital do estado de Minas Gerais. Conta que teve uma infância muito proveitosa, na cidade de pouco mais de 90 mil habitantes, onde brincava na rua, em clubes e em fazendas de parentes. Praticava diversos esportes, dentre os quais futebol era o principal. No colégio, as matérias que mais lhe interessavam eram ciências, biologia, matemática e física, além de educação física.
Escolheu a graduação em ciências biológicas e passou para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele destaca que desenvolveu o interesse em pesquisa por meio de professores e orientadores que o estimularam e mudaram sua vida. “Comecei a me interessar pela carreira científica e docente durante os primeiros meses do curso de ciências biológicas principalmente quando comecei a fazer iniciação científica”, relata o cientista. No início do segundo período de biologia, começou a fazer estágio de iniciação científica no departamento de farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFMG), que obteve sua dedicação exclusiva até a metade do curso, quando iniciou o segundo estágio de iniciação científica no Departamento de Bioquímica e Imunologia. “Embora a realização dos dois estágios ao mesmo tempo tenha me exigido muito esforço, a minha motivação para seguir já era um sinal da minha paixão pela pesquisa, conseguindo desenvolver meus projetos com grande afinco e prazer”, conta Flavio Amaral.
Concluiu sua monografia com a pesquisa desenvolvida no primeiro estágio, quando conheceu a professora Maria Salete de Abreu Castro, uma forte inspiração para Amaral. E foi a partir dela que conheceu duas outras pessoas fundamentais para sua carreira: o Acadêmico Mauro Martins Teixeira e Danielle da Glória de Souza, ex-afiliada da ABC (2012-16). “Eles foram meus orientadores no mestrado e doutorado e me proporcionaram tudo que eu precisava para desenvolver meu trabalho. A capacidade intelectual, assim como a motivacional e a ética deles são exemplares”.
Amaral diz que aproveitou muito a graduação: participava de eventos locais que abrangiam diferentes áreas da biologia, o que foi essencial para sua formação e, também, para a decisão em qual área seguir sua carreira. “Além de fazer excelentes amigos, aprendi muito sobre os variados temas dentro da biologia, sempre motivado e com a certeza de que estava no curso certo”. Concluiu o mestrado em 2006 e no mesmo ano iniciou o doutorado, ambos em fisiologia e farmacologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Entre os anos de 2009 e 2012, realizou um pós-doutorado no Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, onde atualmente é professor associado.
Seu principal foco de estudos é relacionado aos mecanismos envolvidos na inflamação, lesão e dor de articulações, e como usar esse conhecimento para propor novas abordagens terapêuticas para controlar alguns tipos de artrite. “Dependendo da intensidade e da persistência da inflamação articular, pode haver danos irreversíveis de componentes da articulação acometida, como ossos e cartilagem, o que tende a causar importante perda de função e dor crônica. Assim, é importante conhecer os eventos que causam esses danos, que variam nos diferentes tipos de artrites, para indicar potenciais alvos para o controle da inflamação”, explica.
Amaral conta que entender o funcionamento de um sistema é um passo fundamental para elaborar soluções quando esse sistema é perturbado. “Num ambiente biológico, as interações teciduais, celulares e moleculares são bastante complexas, principalmente quando há um desequilíbrio, como ocorre em quadros de inflamação. O desafio de identificar os elementos que perturbam esse equilíbrio, entender como eles atuam e investigar se é possível reverter essas ações para controlar a inflamação me motivam bastante”, relata. Ele reafirma que poder contribuir de alguma forma na identificação de mecanismos de uma doença e possibilidades plausíveis para um tratamento mais eficaz é extremamente gratificante. “Eu também me sinto um privilegiado em participar da formação de novos pesquisadores, ciente da imensa responsabilidade de contribuir para o crescimento da ciência brasileira”, declara.
O título de membro afiliado da ABC, para Flávio Amaral, é uma honra e um reconhecimento ao trabalho que tem desenvolvido, além de ser uma experiência que contribuirá para seu crescimento pessoal e profissional. “Ter a oportunidade de interagir com pesquisadores qualificados de diferentes áreas é algo bem interessante para ampliar o conhecimento e romper barreiras dentro da ciência”, afirma. Ele almeja exercer uma boa representatividade dentro da classe científica brasileira em variadas instâncias e meios de divulgação científica, contribuindo com ações que beneficiem e protejam a pesquisa brasileira.