Clarissa Alves da Rosa nasceu em Cruz Alta, no estado do Rio Grande do Sul. Cresceu com a mãe, que era funcionária pública e morou em diversas cidades do estado: Cruz Alta, Santana do Livramento, Caxias do Sul, Três Coroas e Gramado.
Sua infância foi muito livre, brincando na rua e na roça da casa da avó paterna com os dois irmãos, um mais novo e um mais velho. Gostava de esconde-esconde, andar de bicicleta, subir em árvore e jogos de estratégia. No colégio, preferia matemática e química.
Ela diz que sempre foi sistemática e curiosa. Gostava de desvendar mistérios e caminhar em trilhas, tinha interesse em saber como e porque as coisas acontecem. “Desde pequena eu queria ter um trabalho investigativo quando crescesse, pensava em ser jornalista ou detetive. Por outro lado, também queria exercer uma profissão que me permitisse viver ao ar livre”, relata. Na adolescência, Clarissa lia muito a National Geographic e queria ser fotógrafa da natureza. “Cheguei a fazer vestibular de fotografia e ecologia e passei nos dois”, conta a cientista.
Acabou optando pela ecologia, que cursou na Universidade Católica de Pelotas. Procurou um estágio voluntário no primeiro semestre de faculdade, e nunca mais parou. Clarissa conta que se apaixonou pela história natural, até se aprofundar em questões ecológicas mais complexas. “Tive dois professores na graduação que me inspiraram muito. Uma professora me inspirou pela sua paixão pela ecologia: mesmo com mais de 70 anos, ela dava ótimas aulas, que realmente nos faziam pensar, e ia para campo como uma jovem de 20 anos. O outro professor foi muito importante para minha iniciação científica, pois desde o início me tratou como profissional, então aprendi a ter responsabilidade com meu trabalho desde o início”, contou a Acadêmica.
Clarissa fez mestrado e doutorado em ecologia Aplicada na Universidade Federal de Lavras. “Fui muito bem recebida na UFLA, as pessoas da pós-graduação em ecologia aplicada se davam muito bem no geral e foi ótimo integrar uma equipe como aquela, muito proativa”, lembrou. Mas viveu uma experiência negativa também: sofreu assédio moral, o que a levou a trocar de orientador no meio do doutorado. “Quem faz ciência são pessoas e precisamos levar em conta as emoções e as dificuldades dessas pessoas para que a equipe e a pesquisa não sejam comprometidas. Nunca pensei em desistir, mas o apoio do meu novo orientador foi essencial para terminar o doutorado”, desabafou.
Hoje ela declara que se sente muito realizada trabalhando na Coordenação de Biodiversidade (Cobio) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Rosa atua como membro do Grupo de Assessoramento Técnico do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Javali (Sus scrofa) no Brasil. Foi a idealizadora da Rede de Especialistas em Ecologia de Transportes, que presidiu no biênio 2019-2021.
Seu trabalho tem foco nos efeitos negativos e positivos causados por atividades humanas na conservação de ecossistemas. Também atua no uso de recursos naturais por comunidades locais, incluindo uso de espécies exóticas invasoras, caça de animais selvagens, retirada de madeira e outros produtos da floresta. “O objetivo da minha pesquisa é buscar alternativas para aliar a conservação ao desenvolvimento sustentável das atividades humanas, através do diálogo com as comunidades locais e poder público”, explicou Clarissa Rosa. Como resultado do seu trabalho, Rosa já conseguiu a melhoria da legislação no que diz respeito ao licenciamento ambiental de rodovias e ferrovias e a criação de planos de controle populacional, em nível local e nacional, para a espécie invasora javali (Sus scrofa).
Ela diz que sua paixão pela ecologia acontece por ela ser diferente de outras ciências, como física e matemática. “Na ecologia existem muitas exceções às regras e uma investigação simples pode ter resultados imprevisíveis. Então para mim um desafio diário, adoro a sensação de desvendar algo novo, mesmo que seja novo somente para mim”, declarou a Acadêmica.
Clarissa Rosa diz que tem um estilo de vida minimalista. “Coisas servem para juntar poeira. Adoro viajar e ter contato com a natureza, por isso sempre morei em locais mais afastados da cidade e, depois do doutorado, fiquei dois anos morando em uma Kombi-home. Mesmo durante esse tempo não deixei de pesquisar e produzir”, relata a cientista, que se aventura em rios e cachoeiras. “Sou apaixonada por música e invisto em uma coleção de vinis, sobretudo de rock e mpb. Gosto de filmes de ficção e livros autobiográficos, conservação, feminismo e espiritualidade”, ressalta Rosa.
A Acadêmica recebeu o título de membro afiliado da ABC como um reconhecimento por todo o seu esforço e dedicação à ciência nos últimos 15 anos, assim como entendeu ser uma grande responsabilidade. Ela pretende fortalecer a pesquisa ecológica na região norte do Brasil. E quer trabalhar com o público, com a sociedade. “Acho de fundamental importância sairmos de nossas salas, exercer nossa função social como cientistas, que é o interesse coletivo. Quero tornar a ciência mais atrativa e mais próxima da população. Precisamos ouvir mais as pessoas e focar nossas pesquisas nas demandas reais, que possibilitem o aumento da qualidade de vida da sociedade como um todo”.
E Clarissa Alves da Rosa quer construir espaço na ABC para o debate sobre assédio moral e sexual nas universidades e instituições de pesquisa. “Vi excelentes estudantes de pós-graduação abandonarem a carreira acadêmica por esses motivos. Alunos e professores de universidades possuem altas taxas de ansiedade e depressão”, apontou a cientista. Ela conta que teve oportunidade de conviver com pesquisadores de ponta dentro e fora do Brasil e viu que muitos deles se preocupam não somente com a pesquisa, mas com o bem-estar de sua equipe. “Acho fundamental a ABC discutir essas questões, pois têm impacto direto na qualidade da ciência produzida no Brasil.”