Confira trechos do artigo de autoria de Virgílio Almeida, diretor da ABC, em conjunto com Francisco Gaetani, publicado no jornal Valor Econômico hoje, 18/5. O texto aborda os desafios para consolidação do futuro tecnológico do Brasil e a urgência da criação de políticas que viabilizem a modernização digital – do contrário, a economia do país pode ficar para trás. Virgílio é Faculty Associate with the Berkman Klein Center for Internet and Society na Universidade de Harvard e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Três décadas de internet conectaram o mundo e o integraram em uma sociedade global, o que não significa que todos estejamos incluídos na esfera digital. Basta um breve exercício e imaginar a realidade da pandemia da covid-19, sem nossos dispositivos computacionais como smartphone, tablets e computadores para nos darmos conta de que já não concebemos mais a vida sem as possibilidades que a conectividade permite.

A inteligência artificial (IA) está embutida e cada vez mais potencializada na explosão de fenômenos associados ao avanço tecnológico, passando pelas plataformas de mídia social, internet das coisas, realidade aumentada, big data, blockchain, fintechs e todas mudanças em curso trazidas pela automação e transformação digital. Entretanto, perdido num presente confuso, cego para as oportunidades e as ameaças que o futuro digital apresenta, o Brasil parece ignorar o que vem pela frente.

Num recente debate na Universidade de Stanford, nos EUA, sobre o impacto da inteligência artificial na economia global, o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, traçou um cenário pessimista para os países em desenvolvimento como o Brasil. São três as principais razões que reforçam essa posição de Stiglitz. O potencial da IA para economizar mão de obra terá maior impacto em países com setores de produção e exportação intensivos em mão de obra. O potencial de IA para economizar recursos naturais irá causar impacto para os países exportadores de recursos naturais, mas com benefícios para os importadores. Por exemplo, a IA pode contribuir para reduzir a demanda por recursos naturais não renováveis. A concentração de poder tende a aumentar nas poucas empresas que dominam a tecnologia de IA, as chamadas “big tech’’, e nos poucos países que oferecem serviços de IA globalmente, com potencial para gerar grandes receitas para países avançados que dominam a IA. Qual a perspectiva para o Brasil nesse cenário?

O kit para o país se posicionar como um ator relevante na economia do futuro passa por três eixos essenciais: infraestrutura, força de trabalho qualificada e políticas públicas para a transformação digital. Além disso, para enfrentar esse futuro, os países em desenvolvimento precisariam também cooperar e se unir para ter poder suficiente para negociar regulamentação com os gigantes globais de tecnologia que reflita seus interesses.

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O Brasil teve momentos de lucidez coletiva importantes nas últimas décadas. Todos os governos, desde a redemocratização, acertaram estrategicamente em uma ou mais áreas. A inteligência artificial está transformando o mundo em velocidade crescente e vai mudá-lo ainda mais. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação publicou recentemente uma Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial. É pouco, muito pouco, frente ao desafio colocado para o Brasil em um mundo cada vez mais digital. O país segue ocupado demais em uma entropia dinâmica rumo ao passado, esquecendo de formular políticas públicas que pavimentem o caminho para um futuro moderno e inclusivo.

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A questão é: o Brasil precisa definir o que quer ser quando crescer. Alguns documentos publicados nos últimos anos sugerem que, a despeito de suas insuficiências, setores do Estado estão atentos ao problema. Mas o futuro digital depende principalmente do comprometimento da classe política, dos dirigentes empresariais, da academia e da sociedade civil. Nenhum país se desenvolve sem querer e trabalhar muito para isso.

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