Fernando Galembeck e Cesar Victora

Investir em ciência no Brasil não é tarefa fácil, já que, tradicionalmente, a produção científica no país não é valorizada fora das universidades. Apesar de alguns avanços, ainda há um longo percurso pela frente. No setor privado, há empresas interessadas em fomentar e valorizar os trabalhos dos profissionais brasileiros, como é o caso da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que atua no desenvolvimento de novas tecnologias de nióbio e na diversificação das aplicações de seus produtos, que já são utilizados nos setores de infraestrutura, mobilidade, aeroespacial e energia.

Em sinergia com a sua atuação pioneira, pelo segundo ano consecutivo, a CBMM realizou uma premiação para reconhecer pesquisadores nas categorias de Ciência e Tecnologia. A companhia registou pouco mais de 270 inscrições vindas de todo o país, mas esse número poderia ser ainda maior se considerado o grande potencial brasileiro.

Os premiados, que receberam R$ 500 mil cada, são cientistas renomados, membros da Academia Brasileira de Ciências, que desenvolveram pesquisas que impactam diretamente a sociedade, trazendo diversos benefícios. Cesar Gomes Victora, vencedor na categoria Ciências, é um dos epidemiologistas mais premiados do país. Médico e professor emérito de epidemiologia na Universidade Federal de Pelotas (RS), já atuou como pesquisador e consultor em mais de 40 países, assessorando a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Unicef. Suas pesquisas incluem as áreas de saúde e nutrição materno-infantil, tendo resultado em mais de 700 publicações científicas. Suas principais contribuições científicas incluem a documentação da importância do aleitamento materno exclusivo para prevenir a mortalidade infantil.

“Espero que meus conhecimentos rompam a barreira das revistas cientificas internacionais e alcancem toda a comunidade. Atuo para uma mudança efetiva das políticas públicas em prol da amamentação e da nutrição infantil adequada. As curvas de crescimento que ajudei a criar, por exemplo, são atualmente usadas em mais de 140 países, incluindo EUA, Canadá, Inglaterra e Brasil”, comenta Victora.

O Acadêmico tem realizado importantes pesquisas junto a autoridades mundiais de saúde, sendo uma delas relacionada à possibilidade de transmissão de COVID-19 através do leite materno. “Esse estudo é essencial, pois as vantagens de interromper o aleitamento são muito pequenas e as desvantagens são enormes. Um comitê da OMS, do qual faço parte, logrou estimar que o risco de mortalidade infantil é cerca de 40 vezes mais alto se a criança for desmamada, do que seria o eventual risco de morrer por COVID-19. Este tipo de análise é essencial para que a sociedade tenha acesso às informações mais seguras”, finaliza.

Já o vencedor da categoria Tecnologia, Fernando Galembeck, é doutor em química pela USP e pós-doutorado pelas Universidades do Colorado e da California (EUA). Foi professor na USP e Unicamp, onde hoje é professor colaborador. Tem executado projetos com diversas empresas inovadoras, desenvolvendo processos avançados e sustentáveis de produção de matérias-primas industriais, de energia e de produtos de alta tecnologia, aplicados em vários setores industriais. Publicou 280 trabalhos e depositou 36 patentes, sendo várias delas estendidas para mais de 20 países. Oito produtos baseados nessas patentes foram introduzidos no mercado.

“Quando percebo estar diante de uma novidade científica, sempre me pergunto: isso me permite criar algum novo produto ou processo de fabricação, gerando um resultado econômico e criando empregos ou atendendo a uma necessidade social? Outras vezes, trabalho para responder a alguma necessidade de uma empresa, um órgão de governo ou muitas pessoas, fazendo algo que ainda não foi feito”, comenta Galembeck.

Um dos trabalhos mais relevantes de Galembeck foi a descoberta da higroeletricidade que é a coleta de eletricidade da atmosfera. “Sempre que a água evapora ou congela, que o vapor se condensa, o gelo funde ou a umidade do ar se deposita em uma superfície, ocorre separação entre os íons positivos e negativos da água. Em umidade alta, alumínio fica mais negativo, aço inoxidável fica mais positivo e assim se produz eletricidade. Vários grupos, em todo o mundo, estão criando aplicações a partir disso”, explica Galembeck.

O Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia foi criado em 2019 com o objetivo de reconhecer o legado de profissionais que contribuem significativamente para o desenvolvimento do Brasil. Para concorrer, os pesquisadores se inscrevem voluntariamente ou são indicados por instituições, empresas e profissionais renomados. A Academia Brasileira de Ciências é uma grande incentivadora da premiação, indicando, anualmente, cientistas que produzem trabalhos muito relevantes para o país.