Leia a matéria de Cássia Almeida para o jornal O Globo, publicada em 04/05:
RIO – Especialista em educação e mercado de trabalho, o economista Naercio Menezes Filho, do Insper, [e memro titular da ABC] diz que várias gerações terão o desempenho futuro prejudicado no mercado de trabalho em razão da situação econômica atual. Segundo ele, o jovem terá renda 31% menor que a de seus pais se, quando ingressar no mercado de trabalho, a taxa de desemprego for o dobro daquela que os próprios pais enfrentaram quando começaram a trabalhar.
Qual impacto na vida dos jovens dessa situação econômica tão adversa?
Quando você entra no mercado de trabalho em recessão, isso vai afetar sua carreira, aumentar a probabilidade de ficar desempregado mais para frente, seu salário vai diminuir, sua participação no mercado de trabalho, também.
Numa recessão não fica fácil encontrar o emprego ideal rapidamente. Agarram o que tiver. Restringe-se o leque de opões, isso vai afetar o salário dele no futuro.
A desigualdade vai aumentar?
O impacto será maior para os menos escolarizados e para os negros. O impacto muito desigual da crise vai ajudar a reproduzir a desigualdade no futuro. Vários fatores impactam, tanto de escolaridade como de saúde.
Negros estudam mais em escolas públicas do que os brancos, e elas estão sem aula. Se ficam doentes, vão para o sistema público de saúde que já está com capacidade esgotada, tanto por Covid-19 como por outros doenças. Brancos vão para hospitais privados, que ainda têm um pouco de capacidade. Crises como essas sempre tendem a atingir quem é mais vulnerável e ampliar as desigualdades.
Como fica a ascensão social que vinha aumentando ?
O aumento da mobilidade tem a ver com permanência na escola por mais tempo do que os pais. Há 20 anos, os pais dos jovens dos 20 anos hoje não chegavam nem ao ensino fundamental completo. Essa geração dos anos 2000 conseguiu completar o ensino médio, muitos conseguiram entrar nas universidades.