Em termos globais, menos de 30% da população total das comunidades científicas são mulheres, segundo a Unesco. Um número menor de mulheres é contemplado com prêmios prestigiosos, como o Nobel. Além disso, nas publicações 60% do total publicado é de homens. A situação é a mesma no caso das patentes e outras realizações.
De acordo com a química egípcia Amal Amin, fundadora do movimento de Mulheres na Ciência Sem Fronteiras (Women in science without borders – WISWB), essa desigualdade pode ser atribuída a diferentes e variadas razões conforme o país, entre elas: compromissos familiares e sociais e questões culturais; ausência de redes que podem ajudar na participação e integração das mulheres na ciência, sobretudo no início de carreira, período em que elas precisam de mais apoio; falta de cooperação efetiva entre homens e mulheres nas comunidades científicas; pouco destaque para histórias de sucesso e modelos de inspiração que podem compartilhar experiências e encorajar cientistas jovens e em meio de carreira ou mesmo incentivar estudantes a encontrar um caminho; às vezes, o problema também está ligado ao sistema de educação e ao lugar comum de que mulheres não combinam com trabalho pesado ou com determinados campos de estudo; pode ser que as mulheres sintam que não precisam perseguir seus sonhos, quando a expectativa social é que elas devem formar uma família e ter filhos; também pode-se atribuir ao fato de que nem sempre elas reclamam por seus direitos ou por posições de liderança.
“Os desafios são enormes. As mulheres têm que lidar com dificuldades dentro das comunidades científicas que vão desde a luta por oportunidades, financiamento e cargos iguais aos seus colegas homens até a busca por um equilibro razoável entre a vida profissional e cotidiana. Isso pode ser algo muito difícil de alcançar e faz com estejam sempre batalhando por postos e condições melhores e buscando tempo para serem parecidas ou mesmo comparáveis com seus pares masculinos”, afirmou, em entrevista à ABC.
Amal Amin possui amplo envolvimento com a pesquisa científica e busca fazê-lo de forma global, criando redes e parcerias. Ela salientou os princípios do movimento Mulheres na Ciência Sem Fronteiras e falou sobre o Fórum Mundial para Mulheres na Ciência, realizado pela primeira vez em 2017 no Egito, depois em 2018 na África do Sul, no Egito novamente em 2019 e, agora, no Brasil, no Rio de Janeiro, de 10 a 14 de fevereiro. Normalmente, o Fórum inclui metas sustentáveis relacionadas a um eixo de campos, tais como água, alimentos, energia, saúde e meio ambiente, em que pesquisas de ponta são discutidas em workshops pré-conferência para treinamento de mulheres em divulgação científica e liderança.
“O fórum foi originalmente fundado para facilitar a interação entre mulheres e homens, jovens ou não, com gestores, legisladores, ONGs e indústria, todas e todos envolvidos para contribuir no desenvolvimento científico da sociedade e do mundo na busca por sustentabilidade, especialmente em relação à igualdade de gênero. Então, nosso evento não é apenas uma Conferência, mas sim uma iniciativa científica construída pela própria comunidade com o intuito de integrar a ciência e a sociedade de maneira mais efetiva. Portanto, o evento no Brasil foi muito precioso para desenvolver a iniciativa por ser a primeira vez realizado fora da África”, salientou.
Amal Amin contou que a situação no Egito é muito melhor do que em outras áreas: o percentual de mulheres na ciência chega a 46%, embora isso esteja relacionado à situação econômica em que um grande número de homens prefere trabalhar na indústria, por causa dos altos salários.
“Precisamos ampliar as lideranças femininas na ciência. As funções das cientistas mulheres são muitas, na medida em que elas são pesquisadoras e mães, numa cultura que as torna a principal pessoa responsável pelas crianças. Independente da profissão, ela tem que criar os filhos da maneira ‘certa’. Por outro lado, agora nós temos cooperação entre esposas e maridos. Também temos boa legislação de licença maternidade e assuntos correlatos. Mas ainda falta incrementar a cooperação geral entre homens e mulheres cientistas, encorajando colaboração e projetos conjuntos de modo a integrar os dois lados na busca por desenvolvimento sustentável”, afirmou.
Leia o texto em inglês:
Amal Amin: “The challenges for women in science are very high”
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