Leia a seguir entrevista do Acadêmico Paulo Artaxo ao Jornal da Ciência, publicada em 4 de novembro:
Considerado um dos pesquisadores brasileiros mais influentes no mundo, o físico Paulo Artaxo não viu muitos motivos para comemorar a liberação dos recursos que faltavam no orçamento de 2019 para o pagamento de bolsas de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), anunciada quinta-feira (31/10).
Para ele, embora necessária, a verba não resolve o déficit orçamentário da Ciência e Tecnologia (C&T) brasileira que já vem de alguns anos, e que se acentuou com o atual governo. As bolsas de estudo, frisa o pesquisador, são apenas uma parte da C&T, enquanto a outra parte, o fomento à pesquisa, segue “estrangulado”.
“Além de bolsas, é preciso viabilizar os recursos para que os bolsistas possam executar seus projetos de pesquisa e isso se dá através do financiamento de projetos na alínea do fomento”, disse Artaxo que é professor titular do Instituto de Física da USP e integrante permanente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês).
Artaxo acrescentou que “o orçamento do CNPq para fomento em 2020, que está atualmente no Congresso Nacional, é o mais baixo de toda a história do CNPq” e que são necessários recursos para os bolsistas executarem seus projetos de pesquisa. Para ele, a comunidade científica tem que continuar lutando para que a pesquisa científica brasileira tenha um fomento mínimo – “nem estamos falando em ampliação” – que permita sobreviver ao atual governo.
Em um post publicado em sua página pessoal no Facebook na mesma quinta-feira, ele criticou a instabilidade na qual o sistema de C&T está sendo mantido pelo governo federal. Ao Jornal da Ciência ele afirmou que a liberação dos recursos a conta-gotas é prejudicial, pois ciência precisa de investimento seguro, de médio e longo prazo. “Você não faz ciência pensando em recursos mês a mês, como o atual governo está fazendo. Isso é de propósito para sufocar a ciência do Brasil”, afirmou.
Paulo Artaxo disse que a luta da comunidade científica inclui mostrar ao sistema produtivo brasileiro que deixar de investir em inovação e progresso científico e tecnológico é condenar o País a um atraso que vai custar muito caro para as próximas gerações.
“Existem setores dentro do setor produtivo brasileiro que estão seriamente preocupados com a competitividade da indústria, do agronegócio e toda a questão da inovação tecnológica que hoje é chave para o desenvolvimento de qualquer país do nosso planeta”.
Ele alertou que, uma vez que o sistema de C&T seja destruído, reconstruir num próximo governo vai ser muito mais difícil e muito mais caro. “Sai muito mais barato manter o sistema de C&T com as universidades funcionando, os institutos de pesquisa funcionando, com fomento e bolsistas que serão os futuros cientistas do país”.