Em 1997, foi publicado com destaque artigo intitulado “Demônio no diesel”, no “This Week Science and Technology News”, na página 4 da New Scientist de 25 de outubro. O texto, que tratava da 3-nitrobenzantrona, dizia que “os caminhões expelem o que talvez seja o produto químico mais carcinogênico já descoberto”.

Esta foi a substância química que atingiu a maior pontuação já relatada em um teste de Ames, que é uma medida padrão do potencial causador de câncer por produtos químicos tóxicos. Nos 20 anos seguintes vários estudos foram publicados sobre a 3-nitrobenzantrona (3-NBA) e a 2-nitrobenzantrona (2-NBA) sem, entretanto, indicar a quantificação inequívoca destes compostos no ambiente.

O material particulado atmosférico é composto por partículas com diâmetro aerodinâmico nas escalas micrométrica e nanométrica, sendo que as que apresentam maior potencial toxicológico são aquelas com diâmetro aerodinâmico menor que 2,5 micrometros (PM2,5), pois podem atingir os alvéolos pulmonares.

A 3-NBA e a 2-NBA são, de certa forma, substâncias negligenciadas, que precisam ser consideradas em estudos ambientais e toxicológicos para o melhor entendimento dos mecanismos de incidência de câncer de pulmão na população de grandes centros urbanos.

Apesar da grande importância dessas substâncias, visto o potencial carcinogênico das mesmas, não há ainda estudos científicos em nível mundial que relatem a ocorrência inequívoca da 3-NBA e 2-NBA na atmosfera ou em outros compartimentos ambientais.

No trabalho publicado em 9 de janeiro de 2019 na Scientific Reports, do grupo Nature, pelos cientistas baianos Aldenor G. Santos, Gisele O. da Rocha e Jailson B. de Andrade, foram identificados e quantificados (3-NBA) e (2-NBA) no material particulado fino (PM2,5) do ambiente atmosférico de Salvador, na Bahia.

O estudo baiano contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), Petrobras e Marinha do Brasil.

Sobre os autores

Aldenor G. Santos é doutor em química, professor do Centro Universitário Unijorge. O presente estudo fez parte da sua tese de doutorado. Gisele O. da Rocha é doutora em química, professora associada do IQ-UFBA e pesquisadora ínvel 2 no CNPq; e Jailson B. de Andrade, professor titular de química aposentado na UFBA, professor titular do Centro Universitário Senai-Cimatec, pesquisador 1A no CNPq, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e presidente da Academia de Ciências da Bahia.