Nos dias 17 e 18 de abril, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) sediou o Workshop Gerenciamento de Dados Científicos na América Latina e Caribe, uma parceria com o Museu do Amanhã e o Sistema Mundial de Dados do Conselho Internacional da Ciência (ICSU-WDS, na sigla em inglês). Para a realização da atividade, os organizadores tiveram o apoio da Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS), do Escritório Regional do Conselho Internacional da Ciência (ICSU-ROLAC), do Instituto Interamericano para Pesquisa em Mudanças Globais (IAI) e do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Membro do Comitê Científico do WDS-ICSU e co-coordenador do evento, Alfredo Tolmasquim destacou que “atualmente, a ciência, em suas mais diversas áreas, está produzindo uma quantidade enorme de dados e a gestão deles é um desafio muito grande para os próximos anos”. Segundo ele, o papel do WDS-ICSU é promover e garantir um padrão de excelência na gestão destes dados. Como exemplo de alguns dos padrões estabelecidos pelo WDS estão a necessidade de um backup para que os dados não se percam, a garantia de um sistema adequado de metadados e a promoção de projetos institucionais, mirando em pesquisas de longo prazo. Dessa forma, a instituição visa trazer maior validade e confiabilidade aos dados que venham a ser compartilhados.
O mapeamento das iniciativas de gestão de dados no Brasil e na América Latina e a aproximação dessas iniciativas locais com as redes internacionais foram os dois objetivos principais do evento, visto que já há, no mundo, cerca de 80 bases de dados credenciadas pelo WDS-ICSU e nenhuma delas está na América Latina.
Tolmasquim também apontou que o compartilhamento de dados de forma mundial é algo benéfico, porque promove o acesso a um número maior de informações sobre determinado tema e aumenta a visibilidade do próprio cientista, já que seus dados estarão disponíveis para serem utilizados e citados por pesquisadores que atuem em áreas e projetos afins.
Para o Acadêmico Alberto Laender, coordenador de uma das sessões do evento, o Brasil precisa urgentemente se posicionar no mercado de gerenciamento de dados. Ele lembra que o petróleo, por exemplo, é um forte produtor de riqueza nacional e que é necessário proteger os dados referentes à essa área.
Laender lembra ainda que o Brasil tem competência e capacidade para competir na área com potências internacionais. A pesquisa conduzida por seu laboratório e que deu origem à Akwan Information Technologies, empresa de tecnologia de busca adquirida, rendeu resultados tão promissores que caiu na rede de interesse da Google Inc.. A Google comprou a Akwan em julho de 2005, para tornar-se o primeiro centro de desenvolvimento da empresa na América Latina. “Para efetivar o potencial que o Brasil tem nesse âmbito, é primordial haver cooperação e integração. É impossível controlar tudo, mas tendo braços em diferentes regiões do Brasil, que é um país continental, vai facilitar.”
Como assinalado pela Acadêmica Iscia Lopes Cendes em palestra no evento, é primordial para a medicina de precisão, linha de pesquisa à qual se dedica, ter disponível um banco de dados com as informações genéticas de todos os brasileiros. Esse tipo de informação permite e enriquece a pesquisa de novos medicamentos e tratamentos especializados para as condições de nossa população. Porém, a Acadêmica reforçou que não basta apenas que os dados estejam disponíveis, eles também precisam ser localizados – e é por essa razão que a discussão em torno do tema é importante. Para ela, “conectar o mundo da ciência através da ligação de esforços locais com iniciativas internacionais“ é a principal mensagem do evento.
Já para Ulisses Barres de Almeida, novo membro afiliado da ABC na regional Rio, o Brasil tem características de dados muito únicas e é essencial haver uma base de dados que contemple as peculiaridades do país. Dois exemplos que comprovam o argumento são a imensa biodiversidade da fauna e flora brasileira e os aspectos ricos da genética da nossa população. “Os dados produzidos na Europa, por exemplo, podem ser úteis, mas não serão tão precisos e aplicáveis para casos brasileiros quanto nossos próprios dados”, reforça. “É essencial que haja uma base de dados completa e aberta, principalmente nestes casos, para que as pesquisas possam ser efetivas.”
Por fim, o Acadêmico Mauricio Lima Barreto destacou a importância da ABC sediar um evento de temática tão atual e relatou que, após reunião com os membros da Academia presentes no encontro, será proposta à Presidência a criação de um Grupo de Trabalho sobre dados para que a ABC reflita e direcione discussões sobre o tema no Brasil.