SÃO CARLOS e CAMPINAS – Sem falar com a imprensa, o presidente Michel Temer (MDB) esteve nesta quinta-feira (15) em Campinas (SP) para visitar as obras do projeto Sirius, planejado para ser a maior instalação dedicada à pesquisa científica do Brasil e com orçamento previsto de R$ 1,8 bilhão até 2020.
Acompanhado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), do ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD), entre outros políticos, o presidente esteve no laboratório de luz síncroton de quarta geração em construção no Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais.
Temer fez um pronunciamento de menos de dois minutos e não respondeu a perguntas. “Há poucos dias, eu lia um livro em que o autor dizia que, daqui a algum tempo, o homem vai viver 140 anos por causa do avanço tecnológico. E eu disse: acabei de acreditar no que o autor disse referentemente a você viver 130, 140 anos exata e precisamente em função desse avanço tecnológico estupendo”, afirmou o presidente.
Apesar de elogiar o projeto e defender a sua divulgação se possível no exterior, Temer foi sucinto ao descrevê-lo.
“Só para dar o exemplo a vocês, a espécie de tomografia, vamos dizer assim, que serão ímpares, praticamente não há no mundo todo. E o Brasil está caminhando para isso”, resumiu.
Projetado para ocupar 68 mil metros quadrados, o Sirius será a maior instalação dedicada à pesquisa no Brasil quando ficar pronto. É possível compará-lo a um gigantesco microscópio, que usará feixes de radiação para examinar detalhes da estrutura de diversos tipos de material.
Para conseguir colocar parte do Sirius em operação já em agosto de 2018, a equipe tem requisitado um crédito suplementar para a obra, explica Antonio José Roque da Silva, diretor do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron).
“Nos últimos anos, conseguimos readequar nosso cronograma, fazendo uma reavaliação mês a mês, mas não será possível fazer a inauguração neste ano sem isso”, disse.
Durante a visita, Alckmin também não falou com os jornalistas. Pré-candidato a presidente, ele teve um breve momento a sós com Temer em um trajeto de carro, segundo sua assessoria.
Aliados de Temer dizem que a aproximação com Alckmin não avançou, mesmo com a pauta eleitoral se aquecendo. Interlocutores do presidente ainda mencionam o nome de João Doria como potencial candidato tucano à Presidência.
Nas outras quase duas horas de visita, os dois estiveram em uma reunião técnica.
Um dos principais aliados de Temer na Câmara, o deputado Beto Mansur (SP) admitiu a possibilidade de trocar o PRB pelo MDB. O líder do PRB, Celso Russomanno (SP), com quem rompeu, também foi ao evento.
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SIRIUS
O projeto consiste na construção de uma fonte de luz síncrotron, que funciona como um grande carrossel de partículas subatômicas carregadas (em geral, elétrons). Essas partículas são aceleradas a velocidades próximas à da luz (300 mil km/s) e ficam girando numa trajetória aproximadamente circular por meio da aplicação precisa de campos magnéticos.
O processo leva à produção da luz síncrotron propriamente dita, que é direcionada para as chamadas linhas de luz estações de pesquisa distribuídas ao longo do anel da instalação.
Os pesquisadores brasileiros já dispõem de um síncrotron que opera há décadas em Campinas, mas um dos grandes diferenciais do Sirius será o brilho da luz produzida por ele, até 1 bilhão de vezes maior do que o obtido hoje dependendo da frequência luminosa (como raios X, infravermelho etc.). Na prática, isso significa uma capacidade muito maior de enxergar detalhes microscópicos das estruturas estudadas, atravessando vários centímetros de espessura de amostras de minerais, por exemplo. Além da precisão, o brilho intenso também favorece a velocidade da análise.
Tais características permitem estudar, por exemplo, a estrutura molecular de possíveis novos medicamentos (conhecer essa estrutura é essencial para entender como uma droga interage com as células), ligas metálicas e outros materiais inovadores para uso industrial, minérios como as terras raras, essenciais para a fabricação de smartphones, ou mesmo o interior de fósseis sem correr o risco de destruí-los.