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Cinco capitais realizaram neste fim semana novas Marchas Pela Ciência no Brasil: Rio de Janeiro, Curitiba, Minas Gerais, Natal e São Luís fizeram manifestações para pressionar o governo e sensibilizar a população sobre a gravidade dos cortes orçamentários em C&T. “O momento é crítico. O orçamento previsto para 2018 traz um corte muito grande no financiamento para a área. A Marca Pela Ciência foi realizada para pressionar os parlamentares que estão para votar a Lei Orçamentária do próximo ano e para esclarecer a população que a situação da ciência brasileira está dramática”, comenta o presidente da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira.
As manifestações começaram na sexta-feira, 10, em São Luís, no Maranhão, no Centro Educacional Salim Braide. Com o mote “São Luís, olhe para o Céu!”, o evento, organizado pela Secretaria Regional da SBPC e pelo Laboratório de Divulgação Científica “Ilha da Ciência”, da Universidade Federal do Maranhão, teve sessões no planetário digital, mostra do acervo científico, palestras e atividades que alertaram a comunidade local para os riscos decorrentes do baixíssimo orçamento previsto para as áreas de ciência, tecnologia e inovação, assim como também para a educação e os reflexos disso no desenvolvimento do País.
Em Curitiba (PR), a manifestação realizada no sábado (11) pela manhã teve a participação de cerca de 300 pessoas, além do público que passava pelo calçadão da Rua XV, no centro da cidade. Aldo Zarbin, presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), que participou da Marcha na capital paranaense, conta que entre os manifestantes, um grande número eram docentes e discentes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), bem como pessoas de fora de Curitiba, como representantes da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Participaram também pesquisadores da Fiocruz, e associações científicas como a SBPC (Regional PR), SBQ, Sociedade Brasileira de Física (SBF) e a Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR).
A Marcha em Curitiba se concentrou em frente ao Prédio Histórico da UFPR, onde as entidades participantes falaram ao público sobre o impacto dos cortes orçamentários, e, a seguir, partiram em marcha pelo calçadão da Rua XV, até a Boca Maldita, local tradicional de manifestações politicas na cidade, onde foi feita uma grande roda para um “abraçaço” pela C&T.
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“Distribuímos mais de 1000 panfletos à população, e durante a caminhada fomos ganhando adesões, apoio da população, dos artistas de rua que estavam pelo caminho. Considero que foi extremamente positivo, deu visibilidade e mais uma vez nos mostrou que a causa tem total simpatia da população”, diz Zarbin.
“Nos sentimos bastante apoiados. Tivemos participações de peso, reitores, pró-reitores, acadêmicos, estudantes das principais universidades do Estado, pesquisadores. As pessoas na rua participaram, paravam para nos ver passar, ouviram nossas mensagens, aplaudiram”, acrescenta Elizabeth De Araujo Schwarz, secretária regional da SBPC no Paraná.
Chuva e abraço à Uerj no Rio de Janeiro
“O fim de semana foi intenso no Rio de Janeiro”, conta a conselheira da SBPC e pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Ana Tereza de Vasconcelos. Debaixo de uma chuva torrencial, cientistas, professores e estudantes realizaram a Marcha Pela Ciência no Rio de Janeiro, no sábado, 11 de novembro. Mais de uma centena de pessoas enfrentaram o mau tempo e foram protestar em frente ao Museu do Amanhã, onde tendas foram montadas e a Ciclofônica chamou a atenção do público. E no domingo, 12, professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) realizaram um abraço à Universidade em frente ao Copacabana Palace. No Museu Nacional também foram realizadas atividades de conscientização sobre a crise orçamentária da área durante todo o dia.
Além da SBPC, representantes de diversas associações científicas e acadêmicas participaram da Marcha carioca no sábado, como a Associação de Docentes do Ensino Superior da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Ades-Faetec), Associação Nacional dos Pesquisadores do Cnpq (Anpesq), Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Federal do Rio de Janeiro (Sintifrj), Associação Nacional de Pós-graduandos (Anpg), Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Adufrj), Associação de Docentes da Universidade do Estado do Rio Janeiro (Asduerj) e Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN).
Tanto na Marcha de sábado, quanto no ato da Uerj no domingo, os pesquisadores distribuíram panfletos para o público que passava – curioso – pelas manifestações. A mensagem era simples e direta: ciência não é gasto, ciência é investimento. E sem ciência, não teríamos educação de qualidade, medicamentos, transporte inteligente, alimentos para todos. Sem ciência, nem teremos amanhã. “As pessoas paravam para querer saber mais”, conta a pesquisadora.
Vasconcelos avalia que esse tipo de manifestação na qual os cientistas conversam diretamente com a população são muito positivas. “As pessoas não sabem sobre a crise na ciência do Brasil. Elas também ficaram surpresas de verem o quanto a ciência é presente no cotidiano. Temos que fazer mais contato com a população”, comenta.
Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, a Marcha Pela Ciência começou às 16h do sábado. Participaram aproximadamente 50 pessoas, entre estudantes, professores e até algumas crianças (filhos de professores). “Um número relativamente pequeno para uma manifestação de rua, mas bem participativo e animado”, comenta Cleanto Fernandes, secretário regional adjunto da SBPC no Rio Grande do Norte.
A manifestação se concentrou em um cruzamento importante da cidade. Faixas e cartazes alertavam os pedestres e motoristas para o desmonte do sistema nacional de C&T, resultado dos cortes orçamentários, e chamavam a atenção para a importância da ciência, reivindicando respeito e valorização para a área. Também foram distribuídos mais de 500 panfletos explicando a importância da ciência e alertando para os cortes. Um grupo de capoeira, com batuques e berimbau, animou o ato. Após o evento, que durou cerca de três horas, os organizadores se reuniram para conversar sobre novas estratégias de manifestações.
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Na manhã de domingo, 12 de outubro, foi a vez de Belo Horizonte, Minas Gerais, marchar pela ciência. A manifestação foi realizada na Praça da Liberdade, em frente ao antigo Palácio do Governo, no centro da cidade. Conforme conta Maria José Campagnole, presidente da Sociedade Brasileira de Fisiologia (SBFis), o movimento teve a participação de cerca de 150 pessoas, mas conseguiu mobilizar muitos pedestres que passavam por ali. Os manifestantes fizeram paradas nos sinais de trânsito, onde distribuíram panfletos e, também, conversaram com a população local. “É uma forma muito eficiente de sensibilizar as pessoas. Não podemos esperar que elas adivinhem o que está acontecendo. Nós, cientistas, é que temos que ir até a população, para despertar para a importância que a ciência tem no dia-a-dia delas. A Marcha conseguiu fazer uma divulgação muito boa”, comenta a pesquisadora.
Segundo Campagnole, a relação ciência e sociedade precisa ser intensificada. “A gente precisa falar para essa população que o que estamos pedindo é pouco e que não sobreviveremos com mais cortes. Sem a verba adequada, tudo o que fizemos até aqui se perderá, e, no futuro, teremos que recomeçar a partir do alicerce. A formação de cientistas também está comprometida”, alerta. “Temos que continuar a lutar. Não podemos esmorecer”.
O presidente da SBPC acrescenta que as manifestações demonstram o grande descontentamento no País com o desmonte das instituições científicas por consequência dos cortes drásticos no orçamento. Segundo ele, a pressão popular deve continuar até que esse cenário seja revertido.