“A ciência brasileira conquistou uma posição internacional de destaque e alcançou um grau de maturidade que permite considerá-la como um recurso fundamental para o desenvolvimento econômico e social sustentável do país. Essa competência decorre de uma política de estado que promoveu investimento continuado por várias décadas na formação de recursos humanos e na geração de conhecimento. Esta política precisa ser consolidada e ampliada nos próximos mandatos presidenciais.”

Este é o início da carta entregue pelo presidentes da ABC Jacob Palis e da SBPC Marco Antônio Raupp à candidata Dilma Roussef, no primeiro debate com presidenciáveis realizado no dia 28 de julho durante a 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal, no Rio Grande do Norte. Eles compuseram a mesa junto com o candidato à vice Michel Temer e o reitor da UFRN José Ivonildo do Rêgo.

Dilma destacou o papel da SBPC, “entidade que além de forjar a ciência brasileira carregará a marca de lutar pela liberdade no país”. Ressaltou também a atuação dos estudantes, professores e pesquisadores em reuniões da SBPC no passado: “eles se deram as mãos pela construção e conquista da democracia num momento que tem um significado especial na nossa história”. Justificou sua presença afirmando que a elaboração de um projeto de desenvolvimento nacional com justiça social e sustentabilidade não pode ocorrer entre quatro paredes. “Um projeto de Nação deve passar pela comunidade científica, pela comunidade artística e por todos os segmentos que compõem a nossa cultura.”

Capitalizando resultados

Segundo Dilma, sua candidatura não se baseia em promessas, mas sim numa proposta de continuidade dos resultados do Governo Lula, que modificaram as condições de desenvolvimento do país. Deu como exemplos os programas sociais de modo geral, os de inclusão social rural e de agricultura familiar, além do estabelecimento de uma política econômica que garantiu um crescimento real do salário mínimo de US$100 para US$ 300. contrariando a tese de que elevar o salário mínimo não era compatível com a redução da inflação. “Acabamos c a submissão ao FMI, pagamos nossa conta e garantimos autonomia do país para fazer sua política de paz e colaboração com nossos vizinhos latino-americanos.”

Casamento entre educação e política de CT&I

Para ela, essa integração entre educação, ciência, tecnologia e inovação é essencial para que o país tenha uma sociedade inclusiva e seja uma nação soberana. “com esse incremento teremos plenas condições de deixarmos de ser um país emergente e alcançarmos outro patamar.”

Em sua avaliação, o Governo fez grandes gestões nessas duas áreas. “Abrimos caminho para um novo rumo com o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação. Através dele mudamos o referencial da quantidade de recursos dedicados à área. O MCT dobrou seu orçamento para mudar o padrão de desenvolvimento do país.”

Com relação especificamente à C&T, Dilma valorizou a pesquisa básica. “Sem ela não teremos inovação tecnológica sustentável”. Afirmou que fortalecerá os centros de excelência em pesquisa científica e também investirá na difusão desses conhecimentos de forma equilibrada por todo o país.

A candidata reforçou também a exigência feita às empresas estrangeiras que querem entrar no mercado brasileiro, relativa à transferência de tecnologia. “Para implementar as novas tecnologias e desenvolver as nossas próprias precisamos de mestres e doutores, atuando em institutos federais de tecnologia em parceria com empresas privadas”. Afirmou que essa foi a base do desenvolvimento da China, da Coreia e do Japão e que sua meta em termos de investimentos federais em CT&I é passar dos atuais 1,34% do PIB para 1,8 a 2% até 2014. “Esses números não surgiram à toa. Por trás deles estão valores, projetos de Brasil.”

Destacou ainda a proteção dos biomas brasileiros, em especial a Amazônia e o mar. Com relação a este, tema da Reunião, atentou para a importância de um desenvolvimento tecnológico adequado para a exploração do pré-sal, evitando desastres ambientais como os ocorridos recentemente em locais com condições similares. Para garantir a sustentabilidade ambiental, Dilma considera fundamental agregar inovação e valor aos produtos brasileiros. “O controle ambiental tem que ocorrer juntamente com alternativas produtivas.”

Desafios pela frente

A candidata afirmou que parte desse alicerce construído para elevar o Brasil a outra condição. Segundo ela, seu maior compromisso é com a erradicação da miséria no país. ” Hoje, conseguimos que 69% da população brasileira esteja acima da classe C. Agora precisamos resgatar os 31% que ainda estão na miséria.

Para isso, Dilma apontou que são necessárias novas características no trabalho e na forma de produzir. “Escolher entre investir na educação básica ou investir na educação superior só atravanca o progresso do país. Precisamos investir em ambas e voltar a investir no ensino técnico, principalmente nos estados e municípios menos ricos”. Ela reforçou que o ensino médio público tem que ter um conteúdo profissionalizante, que o Brasil precisa investir nas universidades federais e ampliar essa rede para o interior do país. “Temos que acabar com o sucateamento do ensino superior para formar recursos humanos qualificados.”

Dilma afirmou que o passo inicial para todo esse processo é a qualificação dos professores do ensino básico. “Temos que mudar o status social da categoria com salários dignos para alcançarmos nosso objetivo. Milagres não existem. Se queremos educação de qualidade temos que pagar bem e preparar o professor.”

Para ela, o grande ganho do Governo Lula foi criar condições para que hoje o Brasil tenha autonomia para planejar seu futuro. “Temos a percepção de que governamos para todos e que temos que olhar especialmente para os mais vulneráveis. Só distribuindo renda se faz crescer um país de 190 milhões de habitantes. Investimos na auto-estima e autoconfiança do povo brasileiro, avalio que hoje os homens e mulheres desse país se acreditam capazes. Chega de ser o país do futuro. Chegamos ao governo defendendo que a esperança tinha que vencer o medo. Hoje temos resultados suficientes para vencer o medo e construir a esperança, que é o que impulsiona para a frente.”

Respondendo ao público

Questionada sobre suas propostas de políticas especificas para as mulheres, Dilma afirmou que elas são as maiores beneficiárias das políticas sociais e de habitação. “Hoje inúmeras famílias são compostas pela mulher e seus filhos. Para cuidar desse segmento temos que promover a efetividade da Lei Maria da Penha do Oiapoque o Chuí. Temos que ter controle social sobre isso.”

Sobre o apoio às mães trabalhadoras, Dilma defendeu o oferecimento de creches de qualidade. “A mãe tem que saber que seu filho está bem cuidado, alimentado e devidamente estimulado para que nessa primeira infância adquira condições de aprendizado no futuro.”