A Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Academia Nacional de Medicina (ANM) e a UK Academy of Medical Sciences (UKAMS) organizaram, entre os dias 9 e 10 de março, na sede da ANM, no Rio, o evento Research and Policy to Improve Urban Health Across Latin America. O workshop, que contou com a presença de participantes de diversos países da América Latina, tratou sobre políticas de saúde urbana em três áreas – transporte, poluição atmosférica e epidemias emergentes.

Paulo Saldiva e Marcello Barcinski

Segundo dados apresentados no evento, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas: são cerca de 3,5 bilhões de pessoas. A América Latina, em particular, vive um ritmo de urbanização ainda mais acelerado do que outras regiões, além de apresentar altos índices de desigualdade social, com 19 das 30 cidades mais desiguais do mundo. Visando reunir esses conhecimentos, o workshop teve como foco estabelecer o papel que o ambiente urbano desempenha na desigualdade da saúde pública e identificar que tipos de melhorias devem ser priorizadas.

“A ideia era trazer programas bem sucedidos, ou não, para que as pessoas pudessem tomar como exemplo de políticas de saúde urbana. Foram discutidas eventuais soluções já praticadas nas cidades, como as ciclovias e o fechamento de vias para a prática de esportes e para o lazer. Tudo isso é importante e gera impacto na saúde da cidade”, contou o Acadêmico Marcello Barcinski, que participou do evento e mediou uma sessão.

Ao todo, o evento contou com 13 conferências e três grupos de trabalho, com mediadores e palestrantes de diferentes origens, que dividiram conhecimento e experiências sobre a saúde em suas cidades. Foram relatadas evidências científicas e elaboradas propostas que pudessem ser direcionadas para governos locais.

“O grande desafio não é produzir a ciência, mas fazer com que ela atinja as esferas de decisão, principalmente os prefeitos, que vivem com as várias demandas de suas cidades. A gente sabe quanto custa mudar as cidades, mas não sabemos o quanto custa mantê-las dessa forma tão ineficiente e desigual”, disse o Acadêmico Paulo Saldiva, que coordenou e abriu o evento. “A saúde urbana demanda ciência, mas também demanda diálogo com a comunidade porque, no momento em que se toma uma decisão, ela tem que ser adotada pela comunidade”, completou.

Grupo de Acadêmicos e pesquisadores que participaram do evento.

O workshop contou com a participação de estudiosos de diversos países, como os pesquisadores Francesco Forastiere e Ana Diez-Roux, do Reino Unido e dos Estados Unidos, respectivamente, que abriram a sessão de encontros com um panorama sobre os contextos de saúde urbana e desigualdades na saúde pelo mundo e pela América Latina. No segundo dia do evento, Olga Dueñas, Gary O’Donovan e Rodrigo Guerrero, da Colombia; Adrián Montalvo, do Peru; e Juan Castillo, pela Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), apresentaram exemplos de intervenções urbanas bem sucedidas pelas lentes de suas pesquisas. Por fim, ainda no segundo dia, Pedro de Paula e Maira Caleffi, do Brasil, Gerry Eijkemans e Katia Campos, ambas pela OPAS, discutiram as principais conclusões desenvolvidas no workshop.

As informações reunidas durante o workshop estão sendo utilizadas para a redação de um documento, discutido na última sessão do evento, que deverá elencar evidências e propostas para a promoção da saúde a serem encaminhadas para diversas esferas governamentais.