Leia matéria de Richard Garcia para a edição da América Latina e Caribe do SciDev.Net, publicada em 17 de abril, com depoimento da presidente da ABC:

[SANTIAGO, CHILE] As constantes mudanças de ministros da Ciência e Tecnologia são um fator adicional que contribui para a instabilidade das políticas científicas e gera incerteza nos setores envolvidos, segundo especialistas latino-americanos em gestão pública da ciência consultados pela SciDev.Net.

Por exemplo, no Chile, em pouco mais de 400 dias de regime do presidente Gabriel Boric, três ministros da Ciência, Tecnologia, Conhecimento e Inovação foram alterados.

A última ocorreu em 10 de março, quando nomeou o advogado Aisén Etcheverry, que até então atuava como presidente do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Conhecimento e Inovação, cargo que foi assumido pela ministra afastada Silvia Díaz.

“É preocupante que cada pessoa que ocupa esse cargo implemente novas medidas, o que necessariamente implica grande instabilidade no sistema. Ainda mais considerando que com cada ministro se estabelece um diálogo, se chegam a acordos com a comunidade científica, mas tudo dá em nada quando a autoridade muda”, diz Cecilia Hidalgo, presidente da Academia Chilena de Ciências, SciDev.Net.

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Para Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências, a alta rotatividade ministerial influencia o setor, mas é apenas parte do problema e não só do Brasil, mas de toda a região.

Em seu país, desde a criação do ministério em 1985, 24 ministros estão no cargo, uma média de um ministro a cada 1,5 ano. Pouquíssimos titulares permaneceram nessa pasta por mais de três anos, enquanto 18 não conseguiram permanecer por um ano. No caso da Costa Rica, o ministério foi criado em 1990 e, desde então, 16 ministros estão no cargo. A média no cargo é de 2 anos.

Para Nader, o verdadeiro problema é que, além da alta rotatividade, os cientistas “ainda não estão sendo considerados por aqueles que estão no poder. Eles não veem a ciência como relevante.”

“Muitas vezes o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é um dos últimos a eleger seu ministro. Não é considerado importante”, diz Renato Janine Ribeiro, que foi ministro da Educação do Brasil em 2015 e atualmente preside a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Ele admite que ser cientista ou não não define necessariamente se um ministro será bom ou ruim, como houve políticos que foram muito bons ministros da ciência.

Nader insiste que, além do desempenho de um ministério, o que importa é que os representantes da ciência sejam bem considerados e comenta que os Estados Unidos não têm um ministro da ciência, mas um conselheiro de alto nível do presidente, e instituições sólidas, como a Academia Nacional de Ciências ou a Academia Nacional de Engenharia. com mais de 1.000 funcionários cada um apoiando o Congresso e a Presidência.

“Ninguém pensa lá que a ciência não é relevante, o mesmo no Reino Unido ou na União Europeia. Aqui temos ministros, mas eles não têm o apoio necessário”, diz.

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