Seguir carreira em tecnologia significa estar em aprendizado constante. O que hoje é revolucionário pode se tornar obsoleto amanhã, enquanto novas inovações aparecem e desaparecem na velocidade de um clique. Imagine como foi para um jovem que começou a se interessar por computadores na década de 90, se formou em ciências da computação em 2003 e desde então pôde acompanhar como essa tecnologia viraria o mundo de ponta-cabeça.
Mas as mudanças na história de Horácio Antonio Braga Fernandes de Oliveira, novo afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), não são apenas tecnológicas. Nascido em Rezende, RJ, o Acadêmico se mudou muito cedo para o outro lado do país e foi morar no Amazonas: primeiro em Tabatinga, até se fixar em Manaus. O pai militar estava sempre em movimento e a família o acompanhava. Tanto a mãe quanto o pai de Horácio eram médicos. Desde cedo, no entanto, o filho percebeu que trilharia um caminho bem diferente.
A maior inspiração profissional não vinha dos pais, mas sim do irmão mais velho, primeiro a cursar computação na família. Logo aos 12 anos o jovem Horácio começou a ter contato com o mundo digital, ainda em seus primórdios, e a curiosidade só cresceu. Antes mesmo de prestar vestibular, ele já havia frequentado alguns cursos para iniciantes e quando a hora chegou, não teve dúvidas sobre o que escolher: ciências da computação na Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Mas se o interesse por computadores veio naturalmente, o interesse por ciência só despertou mais tarde. Na busca por um tema para a monografia, Horácio conheceu o professor Antonio Loureiro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que se tornou seu orientador durante mestrado e doutorado. Nesse período, a vida do novo Acadêmico deu mais um salto geográfico, primeiro para Belo Horizonte, depois para Ottawa, Canadá, onde morou durante um ano.
Foi durante a pós-graduação, na primeira década do novo milênio, que Horácio começou a se especializar naquilo que se tornaria o principal foco de suas pesquisas: os sistemas de localização para dispositivos móveis. Naquela época, o uso de celulares ainda se difundia pela população e o potencial que o GPS teria de revolucionar nossa sociedade ainda não havia sido realizado. O pesquisador acompanharia atentamente esses desdobramentos e seus interesses de pesquisa incluiriam internet das coisas e redes sem fio ad hoc, veiculares e de sensores.
“O que mais me agrada na minha área é a possibilidade de propor soluções para problemas práticos das redes de computadores. É preciso lidar com conhecimentos muito técnicos e específicos, o que me permite sempre aprender e descobrir coisas novas”, contou. Ele ainda realizou um estágio de pós-doutorado na Universidade da Califórnia, Irvine, nos Estados Unidos.
Atualmente professor associado de ciência da computação na UFAM, Horácio busca tornar esse processo ainda melhor, nos possibilitando saber com exatidão em que ponto singular do espaço-tempo esquecemos nosso celular, por exemplo. “Estamos trabalhando agora em técnicas de localização para dispositivos móveis em espaços internos. Esperamos no futuro poder dizer em que andar e sala de um prédio está o aparelho, algo que o GPS ainda não consegue fazer com precisão”, explica o cientista.
Com relação ao ingresso na ABC, Horácio espera avançar não apenas em sua área, mas nos vários desafios que se apresentam para a Região Norte. “Certamente, como novo membro afiliado, este objetivo será ainda mais importante e poderei contar com outros pesquisadores brasileiros que trabalham em temas semelhantes”, afirmou.
Mas se nem só de ciência vive o cientista – embora, nas horas vagas, os computadores continuem em sua rotina. Apaixonado por histórias e narrativas, Horácio gosta muito de filmes e séries, além de ouvir música. Como bom nativo digital, o novo Acadêmico é um aficionado por jogos de computador, mas não qualquer um. “Tenho interesse especial por aqueles com histórias cativantes, é como acompanhar um filme do qual você participa ativamente, interferindo nos rumos da narrativa”.