O Irã está há um mês passando por um período de enorme convulsão social, com multidões ocupando as ruas para denunciar os abusos perpetrados pelo regime teocrático da República Islâmica. Os protestos começaram por conta do assassinato de Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro. A jovem foi morta pela polícia da moralidade do país, três dias após ser levada a força para um “centro de reeducação” por supostamente não utilizar o véu de maneira correta.
As mobilizações já entraram em sua quarta semana e são lideradas sobretudo por mulheres e jovens que afirmam não se sentir representadas pelo governo dos Aiatolás. Centenas de universidades e escolas se tornaram palcos de manifestações que foram recebidas com brutalidade pelas forças armadas. De acordo com a organização Iran Human Rights, mais de 201 pessoas já foram mortas na repressão ao movimento.
Mais de cem professores universitários de todo o país já assinaram um manifesto contra a prisão arbitrária de estudantes e o clima de terror instaurado dentro dos ambientes acadêmicos. Nesse contexto, a International Human Rights Network (IHRN) of Academies & Scholarly Societies, da qual a Academia Brasileira de Ciências (ABC) faz parte, divulgou um comunicado pedindo o imediato cessar da repressão.
Representante brasileira na entidade, a Acadêmica Belita Koiller, classificou como “atrocidade” o que está acontecendo no país, reafirmando que a ABC endossa o posicionamento da IHRN e irá encaminhar a missiva ao embaixador do Irã no Brasil e à Embaixada Brasileira em Teerã.
Confira a declaração traduzida, na íntegra:
“10 de Outubro de 2022
O Comitê Executivo da International Human Rights Network of Academies & Scholarly Societies (IHRN) é formado por mais de 90 sociedades honorárias que defendem os direitos fundamentais de acadêmicos e apoiam instituições acadêmicas sob ameaça no mundo inteiro. Nós, os membros da Comitê Executivo do IHRN, estamos alarmados com os avanços sobre os direitos humanos no Irã, incluindo ataques recentes a universidades por forças de segurança e paramilitares, juntamente com a prisão de estudantes universitários envolvidos em manifestações pacíficas. À medida que os protestos continuam, nos campi universitários e em outros lugares, estamos profundamente preocupados com a escalada repressiva do governo contra estudantes, professores e outros setores no país.
Manifestações generalizadas eclodiram no Irã após a morte de Mahsa (Jina) Amini, de 22 anos, em 16 de setembro, que havia sido presa pela polícia da moralidade do Irã dias antes. Os protestos foram marcados por graves violações de direitos humanos por parte das forças de segurança. A ONU e outras autoridades em direitos humanos denunciaram o uso de violência pelo governo iraniano contra manifestantes pacíficos que buscam a responsabilização pela morte de Amini, o fim da discriminação contra mulheres e outras reformas. Estas manifestações, que resultaram em dezenas de mortos e detenções em massa, estenderam-se a mais de 100 universidades em todo o país, com vários estudantes presos. Centenas de professores universitários no Irã assinaram uma declaração condenando a prisão de estudantes por protestos pacíficos em defesa da “liberdade, justiça e dignidade humana”, e chamaram a atenção para o clima de medo e ansiedade que se instaurou nas universidades iranianas como resultado das prisões.
Forças de segurança e paramilitares invadiram vários campi universitários, incluindo a Universidade de Tecnologia Sharif em Teerã. Reportagem extensas de veículos de comunicação e organizações de direitos humanos indicam que, em 2 de outubro, um estudante foi violentamente reprimido pelas forças de segurança em protesto no campus da universidade, que utilizaram de espancamentos, gás lacrimogêneo e pelotas de metal. Vários estudantes ficaram feridos, juntamente com o corpo docente que procurou garantir a segurança destes, enquanto as forças de segurança supostamente prenderam dezenas de estudantes que protestavam.
Apelamos às autoridades iranianas, de acordo com as obrigações do Irã como Estado parte do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, para cessar o uso da força em resposta a manifestações populares e para garantir a libertação de estudantes e outros que foram arbitrariamente detidos. Apelamos ainda às autoridades para que defendam os direitos à liberdade de expressão e reunião no país e a abstenham-se de novos ataques às instituições de ensino.
Comitê Executivo
International Human Rights Network of Academies and Scholarly Societies”