As práticas acadêmicas predatórias estão aumentando ao redor do globo. É o que revela uma pesquisa feita pela Parceria InterAcademias (IAP), que analisou em profundidade as muitas formas que esse problema assume, e como a comunidade científica internacional acaba contribuindo para que ele se perpetue.
O grupo de trabalho responsável pela análise entrevistou mais de 1.800 cientistas do mundo inteiro, e 80% dizem já enxergar os impactos negativos dessas práticas em suas áreas de estudo. Estima-se que mais de um milhão de pesquisadores já publicaram em revistas ou participaram de conferências predatórias e, ao contrário da percepção geral, não são apenas os pesquisadores em início de carreira que são afetados.
São consideradas predatórias publicações e eventos de pouco ou nenhum rigor científico, motivados apenas pela arrecadação de taxas de inscrição e que exploram a pressão existente sobre cientistas para publicar e apresentar seus trabalhos. A pesquisa distingue os diferentes tipos de práticas em um gradiente, que vão desde fraudes explícitas – quando se mente sobre conselho editorial, revisão por pares e métricas – até eventos ou revistas de baixa qualidade, que desperdiçam o potencial dos trabalhos submetidos.
Todos os tipos de publicações e organizações, até mesmo as mais estabelecidas e respeitadas, podem eventualmente atuar de forma predatória. O modelo pagar-para-publicar é particularmente suscetível ao problema, que se agrava com o crescimento do acesso aberto, que joga ainda mais os custos de publicação nas costas dos autores. Outro ponto é o pouco incentivo e treinamento para que cientistas atuem como revisores. O processo de avaliação por pares está no cerne da ciência, mas ainda é feito de modo pouco transparente e estruturado.
O relatório conclui que o problema das práticas predatórias é urgente e a solução passa por reformas institucionais – nos incentivos, formas de financiamento e treinamento de pessoal – e mudanças culturais da própria comunidade científica. O documento também sugere algumas plataformas que compilam publicações e eventos de qualidade. Por fim, argumenta também que editoras devem pensar em alternativas ao modelo pago pelo autor e considerar subsídios para a publicação por pesquisadores do terceiro mundo.