A interação entre academia e empresa foi uma das questões mais debatidas durante o workshop Grand Challenges Scholars Program (GSCP). Promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), em parceria com as Academias Nacionais de Engenharia do Brasil (ANE) e dos Estados Unidos (NAE), o evento aconteceu entre 5 a 8 de agosto, na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo o Acadêmico Alvaro Prata, ex-secretário nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTIC, as empresas não têm absorvido os doutores no Brasil. Com grande parte desses pesquisadores se concentrando nas universidades, é necessária uma maior interação entre academia e empresa para que haja inovação: “Os engenheiros são protagonistas na inovação e o capital é fundamental nesse processo.”

O diretor de operações da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Carlos Eduardo Pereira, reforçou essa visão em sua fala e declarou que antes de vender sua ideia para uma empresa, o pesquisador e seu grupo precisam entender as demandas da mesma.

Palestrantes durante o painel “O valor do GCSP para os empregadores”. Foto: Foca Lisboa

Nesse sentido, algumas empresas têm desenvolvido projetos para que os novos engenheiros atendam às suas necessidades e desenvolvam competências essenciais para a inserção no mercado de trabalho.

O diretor do Desenvolvimento de Tecnologia da Embraer, André Gasparotti, apresentou o Programa de Especialização em Engenharia (PEE). O PEE é um programa de mestrado da Embraer que tem o objetivo de capacitar engenheiros recém-formados para atuarem nas áreas de engenharia de desenvolvimento do produto e processos da empresa.

João Irineu Medeiros Neto, diretor de Assuntos Regulatórios na FCA Fiat-Chrysler Automobiles, abordou as principais capacidades exigidas dos estudantes de engenharia na empresa: multidisciplinaridade, pensamento crítico, visão global e empreendedora.

O diretor explicou que a promoção dessas capacidades acontecem por meio da parceria entre a empresa e universidades, com foco em vocações e habilidades; de grupos de pesquisa, que identificam a tecnologia necessária dentro da empresa e buscam nas universidades a mão-de-obra necessária para a projeção dessas tecnologias; e do programa de residência tecnológica, em que novos mestrandos ou doutorando trabalham com outros já estabelecidos na empresa para solucionar novos problemas.

Por outro lado, o vice-reitor da UFMG, Alessandro Moreira, apresentou os passos dados pela Escola de Engenharia em direção a parceria academia-empresa. Com a renovação do currículo do curso de engenharia, e sem deixar de lado o conteúdo e a formação técnica, eles focaram não em disciplinas, mas sim em atividades pedagógicas. Segundo Moreira, a reformulação ocorreu como tentativa de alinhar o currículo ao contexto em que a escola está situada.

Ainda que o Brasil não tenha implementado o GCSP, essas iniciativas evidenciam que muitos dos objetivos estabelecidos pela NAE já estão sendo trabalhados por pesquisadores, universidades e empresas no país.