Na China, a neurociência vem sendo usada para gerar melhorias no sistema educacional, a partir de estudos sobre o funcionamento do cérebro, cognição social, movimento e percepção, idiomas, entre outros. O pesquisador chinês Zongbao Liang, que atua nessa área, apresentou pesquisas sobre o tema durante a sessão sobre perspectivas internacionais no ensino de STEM do “Simpósio Internacional Desafios da Educação Técnico-Científica no Ensino Médio”, que aconteceu nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro.


Zongbao Liang (China); Russel Tytler (Austrália); o Acadêmico Luiz Bevilacqua, que coordenou a sessão; e Guillermo Fernandez de la Garza (México)

Liang apresentou o cenário do desenvolvimento da neurociência na China e do campo de estudo chamado de neuroeducação, que visa, justamente, a unir os conhecimentos sobre o cérebro ao desenvolvimento da educação. “O propósito é construir um nível de pesquisa translacional em educação”, afirmou. “A educação deve ser construída com base na evidência e em estudos empíricos. Devemos aproveitar resultados da pesquisa científica para melhorar a educação.”

Assim, pesquisas interdisciplinares vêm possibilitando novas prospecções sobre a educação chinesa. É dentro desse contexto que se insere a proposta do “learning by doing” – o aprendizado através de uma abordagem experimental, método que vem desempenhando um papel importante no rápido crescimento da produtividade da China. O Plano Nacional de Reforma e Desenvolvimento da Educação para Médio e Longo Prazo da China (2010-2020) também é baseado nessa nova proposta. “Buscamos um novo conceito de aprendizado”, disse Liang.

Educação científica baseada na investigação

O mexicano Guillermo Fernandez de la Garza, presidente da US-Mexico Foundation for Science, falou sobre a cooperação internacional para um método sistêmico de educação científica baseada na investigação. Este é um dos objetivos da sua fundação, uma parceria bilateral entre o México e os Estados Unidos.

Segundo Fernandez, os estudantes inseridos no método de educação científica baseada na investigação desenvolvem conceitos que lhes possibilitam entender os aspectos científicos do mundo em torno deles através do seu próprio pensamento, usando o raciocínio crítico e lógico sobre as evidências que eles observam. “Uma forma de isso ser feito, por exemplo, é a manipulação de objetos e materiais e a observação dos acontecimentos; eles também podem fazer uso de evidências obtidas a partir de uma variedade de fontes de informação, como livros, internet, professores e cientistas.”

Nesse método, professores levam os estudantes a desenvolver as capacidades de investigação e compreensão de conceitos científicos através de sua própria atividade. Isso inclui promover o trabalho em grupo, argumentação, diálogo e debate, bem como prover uma exploração e experimentação direta. “Observação é importante. Estamos acostumados a ver, mas não a observar; isso significa achar significado no que vemos”, destacou Fernandez.

Investigar, segundo o palestrante, é fazer perguntas, planejar experimentos, interpretar informações, sintetizar resultados e comunicá-los – enfim, fazer o que cientistas fazem. A ciência baseada na investigação, apontou Fernandez, é facilmente integrada a outras áreas do currículo, como linguagens, artes e matemática. “A investigação acomoda diferentes estilos de aprendizado, dando oportunidades de sucesso aos estudantes que não aprendem tão facilmente apenas como leitores ou ouvintes.” Um exemplo dado por Fernandez de instituição que trabalha com esse método é o Centro Smithsonian de Educação Científica, nos Estados Unidos.

Iniciativas da Academia de Ciências da Austrália

Russel Tytler, professor de educação científica da Universidade de Deaking, na Austrália, afirmou que vivemos uma “crise mundial de STEM” que está gerando, por exemplo, a falta de cientistas na Europa. “É preciso repensar o ensino de ciências, os seus verdadeiros propósitos e a forma como ela é apresentada no currículo.”

O mundo está mudando e é preciso problematizar pedagogia e aprendizado, comentou Tytler. “A maneira como eu aprendi ciência na escola não atende as necessidades dos estudantes de hoje.” Nesse tempo, a pesquisa científica passou a deixar de lado uma abordagem antes orientada para a individualização e focou no trabalho em equipe e na colaboração com outros pesquisadores. “Hoje, os cientistas precisam de habilidades diferentes. A ciência é um campo em constante evolução. Assim, grande parte do conhecimento que eu aprendi na escola e universidade não foi usada diretamente na minha carreira como cientista.”

Tytler deu o exemplo de iniciativas da Academia de Ciências da Austrália, que tem um forte compromisso com o ensino de ciências e matemática e um histórico de influência em decisões de políticas educacionais. Uma dessas iniciativas é o programa “Science by Doing“, voltado para crianças de 7 a 10 anos e com uma base profunda de ciência feita por investigação.

Outro programa é o “Primary Connections“, que trabalha a partir de uma integração entre ciência e alfabetização e foca, também, na investigação empírica. O projeto inclui formação de professores da educação primária, que são treinados para ensinar ciência.