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Ciências Biomédicas | MEMBRO TITULAR

Carlos Eduardo Guinle da Rocha Miranda

(ROCHA-MIRANDA, C. E.)

01/01/1934
Brasileira
18/04/1972
05/01/2016

Matriculou-se na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, em 1953, em busca de uma formação científica. Nesse mesmo ano, iniciou carreira de neurofisiologista no Instituto de Biofísica, auxiliando Denise Albe-Fessard e Carlos Chagas Filho nos estudos sobre a sincronização da descarga em Electrophorus eletricus. Durante o curso médico, empreendeu, com Eduardo Oswaldo Cruz, estudos neuroanatômicos e eletrofisiológicos da somestesia e dos gânglios da base de mamíferos, sob a orientação de Albe-Fessard. Para sua tese de Doutor em Medicina, defendida em 1961, e durante seu primeiro estágio de pós-doutoramento com Wade Marshall, no National Institute of Mental Health, dedicou-se a estudos eletrofisiológicos do núcleo caudado. De volta dos Estados Unidos, em 1963, passou a trabalhar, com Eduardo Oswaldo-Cruz, em circuitos neurais mais simples, que permitissem estabelecer correlações robustas entre forma e função. Adotaram, então, como modelo experimental, um marsupial, Didelphis marsupialis, um gambá, atraídos pelos numerosos estudos neuroanatômicos existentes, pela abundância de caracteres gerais de mamíferos nessa espécie e pela imaturidade do seu sistema nervoso por ocasião do nascimento. Os trabalhos publicados durante a década de sessenta refletem esforços que visavam a atualizar o modelo, como o desenvolvimento de um atlas estereotáxico do cérebro de Didelphis, publicado em 1968, assim como a busca de preparações mais adequadas visando estabelecer relações entre a organização neural e o comportamento. Em 1967, quando foi trabalhar com Charles G. Gross, no Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Harvard, se apercebeu das contribuições inerentes aos estudos de campos receptores visuais, como as decorrentes das pesquisas de Hubel & Wiesel, para a correlação entre forma e função. Dirigiu, então, suas atividades nesse sentido, alicerçando seu trabalho experimental sobre o sistema visual, agora com dois modelos, o de mamífero não-primata, o gambá, e o de primata com Macaca mulata. O estudo das propriedades de campos receptores visuais no córtex ínfero-temporal (IT) do macaco vieram a contribuir para a compreensão da agnosia visual subsequente à lesão dessa região. Campos receptores de grandes dimensões, que incluem a fóvea e podem compreender grande parte do hemicampo ipsolateral, expressando propriedades complexas através de toda a sua extensão, como respostas robustas à imagem da mão ou da face, forneceram o substrato para hipóteses sobre o fenômeno de generalização de estímulos, reconhecimento de formas e integração inter-hemisférica. Por outro lado, seus trabalhos no marsupial, baseados na descrição do Atlas, permitiram o estudo da visuotopia em vários centros visuais e da organização de reflexos estabilizadores da imagem visual, demonstrando o valor dessa espécie como modelo alternativo no estudo do sistema visual de mamíferos. A relação entre a area centralis e os eixos visuais, a segregação das disparidades horizontais nas camadas ópticas do colículo superior, e o rearranjo ordenado das projeções retinotectais, após enucleação monocular precoce, são exemplos de problemas mais facilmente abordados nessa espécie do que nos outros mamíferos não-primatas usualmente utilizados para estudos do sistema visual. As diversas linhas e pesquisa que foram iniciadas para a análise dessa espécie atraíram numerosos estudantes de pós-graduação para o Laboratório de Neurobiologia II, sob a sua chefia, cinco dos quais lideram, atualmente, grupos de neurocientistas no Centro de Ciências da Saúde da UFRJ. Desde a sua aposentadoria, em 1991, vem dedicando mais tempo à administração de Ciência participando de Diretorias da Academia Brasileira de Ciências, mas algumas linhas de pesquisa que ajudou a criar no Instituto de Biofísica, permanecem contribuindo para o conhecimento do sistema visual de mamíferos, agora sob a responsabilidade de pesquisadores que foram seus alunos.