pt_BR

A Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências vem aí!

Entre os dias 6 e 8 de maio, no Museu do Amanhã (RJ), especialistas brasileiros e convidados estrangeiros vão debater o tema “Amazônia já! Sem tempo a perder”, em evento coordenado pelo vice-presidente da ABC para a região Norte, Adalberto Val.

A entrada é gratuita, mediante inscrições, cuja data de início será informada em breve.

Veja os temas e os coordenadores das sessões plenárias, que terão três palestrantes cada, com nomes ainda a confirmar:

AMAZÔNIA URBANA
Prof. Saint Clair Cordeiro da Trindade Jr.
Professor titular do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado em Políticas Urbanas no Instituto de Altos Estudos da América Latina da Universidade Paris III/ Sorbonne Nouvelle, na França.

AMAZÔNIA NO FUTURO
Profa. Ima Vieira
Doutora em Ecologia pela Universidade de Stirling, na Escócia. Pesquisadora titular do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e professora do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal do Pará (UFPA). Assessora científica da Presidência da Finep.

INFRAESTRUTURA FÍSICA (CIENTÍFICA, TECNOLÓGICA E EDUCACIONAL)
Profa. Maria Olivia Simão
Doutora em Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). 

SAÚDE ÚNICA NA AMAZÔNIA
Prof. Marcus Lacerda
Médico da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado e especialista em Saúde Pública da Fiocruz-Amazônia. Professor do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e professor adjunto da Universidade do Texas – Braço Médico (UTMB).

DIVERSIDADE CULTURAL NA AMAZÔNIA
Prof. André Baniwa
Líder indígena, empreendedor social.
Graduado em Gestão Ambiental (Uninter) e mestrando em Sustentabilidade Profissional junto a Povos Tradicionais (UnB).

Professores de ensino médio e início de graduação que levarem suas turmas ganham três exemplares do livro da ABC “Evolução é fato” para si e para sua escola!

Fique de olho nas atualizações no site e redes sociais da Academia Brasileira de Ciências!

ABC e SBPC repudiam ataques do Conselho Federal de Medicina a pesquisadora

NOTA DE REPÚDIO

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) vêm a público manifestar seu apoio à professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Conselho da SBPC, Ligia Bahia, diante das acusações feitas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

O processo movido pelo CFM exige retratação e indenização por declarações dadas por ela no canal de YouTube “O Conhecimento Liberta (ICL)”, onde criticou a postura do Conselho em relação à vacinação contra a COVID-19 durante a pandemia e o apoio ao uso da cloroquina no tratamento. Além disso, ela contestou o posicionamento do CFM contrário à legislação que permite o aborto em crianças vítimas de estupro.

As declarações da professora Ligia Bahia refletem consensos científicos amplamente reconhecidos, tanto no Brasil quanto internacionalmente. Ao buscar puni-la por defender estratégias baseadas em evidências científicas, o CFM se afasta dos princípios básicos da ciência e da liberdade de expressão, que fundamentam a vida acadêmica e as sociedades democráticas.

A SBPC e a ABC expressam sua firme solidariedade a Ligia Bahia, destacando sua trajetória exemplar na defesa da ciência e na luta incansável pela melhoria das condições de saúde da população brasileira.

 

São Paulo e Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 2025.

 

HELENA BONCIANI NADER, Presidente da ABC

RENATO JANINE RIBEIRO, Presidente da SBPC

 

Baixe o PDF da nota.


SAIBA MAIS:

04/02/2025
Mais de 50 entidades científicas subscrevem nota de repúdio da SBPC e da ABC por ataques do CFM a pesquisadora

Conselho da Aliança de Organizações Científicas Internacionais se reúne em Bangkok

No dia 11 de dezembro ocorreu a 9ª Reunião do Conselho Governante da Aliança de Organizações Científicas Internacionais (ANSO), realizada em Bangkok, Tailândia. Estiveram presentes representantes da Academia Chinesa de Ciências (CAS), da Agência Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia (NSTDA) da Tailândia, da Academia Brasileira de Ciências (ABC), do Conselho de Pesquisa Científica e Tecnológica da Turquia (TÜBİTAK), da Academia Sérvia de Ciências e Artes (SASA), da Academia de Ciências da Mongólia (MAS), da Academia Nacional de Ciência e Técnicas do Senegal (ANSTS), da Comissão de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável no Sul (COMSATS) e do Centro Nacional de Pesquisa (NRC) do Egito.

A reunião foi presidida por Sukit Limpijumnong, Presidente da ANSO e da NSTDA, e co-presidida por He Hongping, Vice-Presidente da CAS. A Acadêmica Helena Bonciani Nader, Vice-Presidente da ANSO e Presidente da ABC, enviou suas considerações por meio de uma mensagem de vídeo. Em sua fala, Nader reforçou a importância da ANSO no contexto da América Latina e Caribe e convidou a Aliança para se envolver na reunião de 2025 da Academia Mundial de Ciências (TWAS), que será realizada no Brasil.

Durante a reunião, diversos documentos-chave foram analisados e discutidos, incluindo o Relatório de Progresso da ANSO 2024, a Lista de Candidaturas para Membros da ANSO, a Proposta de Emendas aos Estatutos da ANSO, a Proposta de Modificação da Visão e Missão da ANSO e o Projeto de Regulamento sobre o Uso e Gestão do Nome, Logotipo e Domínio de Internet da ANSO. Como resultado principal da reunião, nove candidaturas para novos membros foram aprovadas e serão submetidas à próxima Assembleia Geral (GA) para validação. Além disso, as emendas aos Estatutos da ANSO e as modificações na Visão e Missão da organização foram endossadas e passarão por refinamento antes da submissão à GA. O regulamento sobre o uso do nome, logotipo e domínio da ANSO foi aprovado, com o objetivo de fortalecer a marca global da organização e proteger seus ativos de propriedade intelectual.

As discussões destacaram os avanços da ANSO em 2024, incluindo a ampliação do número de membros para 77 organizações de 52 países, a participação bem-sucedida em 15 eventos internacionais e o foco contínuo na cooperação Sul-Sul e na segurança alimentar global por meio de programas como o CropWatch-ICP. Também foram apresentados resultados significativos em bolsas de estudo, programas de pesquisa financiados e iniciativas de conferências, reforçando o compromisso da ANSO com o fortalecimento de capacidades e parcerias globais. O Conselho Governante concordou que a 4ª Assembleia Geral será realizada em Pequim no final de outubro de 2025.

Um bom ano para os Anais da ABC!

O ano que está se encerrado foi muito bom para os Anais da Academia Brasileira de Ciências (AABC) – a única revista multidisciplinar editada no Brasil! O fato mais importante que sustenta essa afirmação é que conseguimos, depois de muito trabalho, zerar a fila de artigos que aguardavam publicação. Esse “backlog” de manuscritos aceitos, mas que demoravam a sair, se devia não apenas a questões orçamentárias, mas estava, também, atrelado à falta de recursos humanos. Porém, agora estamos com tudo resolvido e empenhados em conseguir publicar artigos com mais agilidade.

Entre os maiores desafios da revista, a questão financeira continua sendo o principal. Recebemos um apoio para 2025 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que aportou recursos para a edição da revista. No que pese que foi um dos maiores valores aportados para revistas cientificas, o montante está bem mais baixo do que a revista recebeu em outros anos. Desta forma, para que não tenhamos que diminuir o número de artigos publicados, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) terá que custear a maior parte das despesas. Nestes últimos anos publicamos anualmente sete fascículos, o que deverá se repetir em 2025.

Falando nos fascículos, gostaria de chamar a atenção para o terceiro volume publicado sobre a pesquisa antártica (96 Suplemento 2) – está muito interessante! Para o ano que entra, novos fascículos especiais estão sendo planejados com temáticas variadas. Um destes é dedicado a contribuições dos membros afiliados da ABC, e será o segundo do gênero. Com certeza, teremos um bom retorno, como foi o primeiro, publicado em 2019 (91 Suplemento 1).

Outro ponto de atenção é a mudança de avaliação da produção científica que será implementada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – agência do governo que avalia os programas de pós-graduação do país. Como tem sido divulgado, haverá uma maior ênfase nos artigos em si e menos nas revistas nos quais estes são publicados. Com certeza haverá a necessidade de adaptação e mudanças nas diretrizes e ações em diversos periódicos científicos brasileiros. Não será diferente para os AABC, que terão que se adaptar a uma nova realidade. Importante destacar que a maior parcela de submissões de manuscritos na nossa revista é proveniente de pesquisadores que atuam nas universidades brasileiras, para os quais a avaliação da CAPES é fundamental.

Ainda sobre 2024, ficamos com sentimentos divididos com relação a aposentadoria da nossa querida assistente editorial, Maria Lucia Paixão, que por décadas atuou na revista. Se por um lado estamos tristes de perder o convívio com uma pessoa muito bacana, sempre disposta a ajudar e orientar a todos que passaram pelo periódico, por outro, ficamos felizes em saber que Maria Lucia vai poder descansar um pouco e fazer outras atividades com a família.

Também vale a pena registrar a contratação de Maria Eduarda Caffaro como nova assistente editorial que, juntamente com Daniel e os estagiários Yasmim e Fellipe, se une à equipe que toca a edição da revista.

Outro ponto importante são as conversas com a diretoria da ABC sobre melhorias para o primeiro centenário dos AABC, a ser completado em 2029. Nunca é demais relembrar que estamos falando do periódico científico de circulação contínua mais antigo do Brasil, uma marca que merece destaque.

Neste final de ano gostaria de agradecer a todos – estagiários, assistentes editoriais, editores (somos 91 – devendo chegar a 100 muito em breve!), revisores e, sobretudo, aos autores por enviarem os seus artigos. Almejamos receber ainda mais manuscritos com estudos relevantes em 2025 e contamos com a comunidade acadêmica para tal!

Boas festas!

STF reúne representantes da comunidade científica para debater o Marco Temporal

No dia 16 de dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) realizou uma audiência de conciliação com representantes de sociedades científicas, entre elas a Academia Brasileira de Ciências (ABC), para debater a tese do Marco Temporal para a demarcação de terras indígenas. De acordo com essa interpretação, os povos indígenas brasileiros só teriam direito às terras que ocupavam na data da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988, ignorando processos históricos de exclusão e expulsão infligidos a esses povos pré-1988.

Em setembro de 2023, o STF declarou, por maioria, a inconstitucionalidade da tese. Mesmo assim, em outubro daquele ano, foi aprovada uma lei sobre a demarcação de terras indígenas, a Lei nº 14.701, com a adoção do Marco Temporal. Os artigos que introduzem o marco chegaram a ser vetados pelo presidente da República, mas os vetos foram derrubados e a lei entrou em vigor. Após a aprovação, alguns senadores foram além e tentaram emplacar uma Proposta de Emenda à Constituição, a PEC 48/2023, para incluir o marco temporal ao artigo 231 da própria Carta Magna, uma cláusula pétrea que reconhece os direitos originários dos povos indígenas às terras e estabelece a demarcação como um dever do Estado.

Desde então, partidos e organizações apoiadoras da causa indígenas apresentaram quatro ações diretas de inconstitucionalidade no STF – ADIs 7582, 7583, 7586 e ADO 86 – contra a Lei 14.701/2023. Em meio a todo esse imbróglio, o ministro Gilmar Mendes determinou as audiências de conciliação com representantes de todas as partes envolvidas. A audiência em questão faz parte dessas discussões.

Três membros titulares da ABC participaram da reunião. Os antropólogos Maria Manuela Ligeti Carneiro e Ruben George Oliven, ambos ex-presidentes da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e, este último, vice-presidente da ABC para a região Sul; e a ecóloga Mercedes Maria da Cunha Bustamante.

Os participantes da audiência. Da esquerda para a direita: Paulo José Brando Santilli (Unesp); Bruna Franchetto (UFRJ); Ruben Oliven (ABC); Andréa Luisa Laschefski (ABA); Mercedes Bustamante (ABC); Fernanda Sobral (SBPC); Manuela Carneiro (ABC) e Maria Janete Albuquerque (Funai)

Em defesa dos antropólogos brasileiros

Em suas falas, Ruben Oliven e Maria Manuela Carneiro defenderam o papel dos antropólogos no assessoramento científico ao judiciário em questões indígenas. Esse movimento é importante pois parte da estratégia de setores favoráveis ao Marco Temporal tem sido tentar descredibilizar esses cientistas, sob o argumento de que o convívio com os indígenas nos trabalhos de campo tira a imparcialidade necessária para cumprir o papel.

“A antropologia moderna, nascida no final do século 19 na Alemanha, se baseia no contato direto. A novidade trazida por essas primeiras gerações foi justamente o trabalho de campo, já que anteriormente os antropólogos trabalhavam a partir de relatos de viajantes não especializados. Foi a Escola de Göttingen que colocou a pesquisa de campo como método”, explicou a Acadêmica Manuela Carneiro. “O Marco Temporal se tornou uma queda de braço e um pretexto para que o Congresso atual desafie o STF. O ataque aos antropólogos foi incorporado à própria Lei 14.701. A situação toda é péssima”, resumiu.

Ruben Oliven lembrou que durante sua gestão na ABA foi assinado um convênio com a Procuradoria-Geral da União estipulando que, sempre que o órgão precisasse de laudos técnicos, a ABA indicaria os especialistas. “Os laudos são elaborados com base em critérios estritamente científicos e já tivemos diversos marcos importantes que atestam isso. Nos anos 2000, a Carta de Ponta das Canas trouxe recomendações e parâmetros para balizar a elaboração de laudos. Em 2015, o Protocolo de Brasília da ABA aprofundou ainda mais as orientações para o trabalho do antropólogo em perícias. Tudo isso para que possamos fornecer laudos técnicos que permitam ao Judiciário tomar decisões com base em evidências”, explicou Oliven.

“O que está acontecendo agora – e isso apareceu na fala do senador autor da PEC 48/2023 – é que os ruralistas estão questionando a isenção dos antropólogos por terem trabalhado junto aos indígenas. Isso é uma grande bobagem, é como questionar a capacidade de um médico para tratar de uma doença pelo fato de ele ter estudado a vida inteira sobre ela”, argumentou o Acadêmico.

Maria Manuela Carneiro e Ruben Oliven

Territórios indígenas são os que mais preservam a Amazônia

Em sua fala, a ecóloga Mercedes Bustamante lembrou da estreita relação entre os territórios indígenas e a conservação, chamando atenção para a crescente literatura científica, nacional e internacional, que atesta a significativa diminuição do desmatamento dentro das regiões legalmente reconhecidas. Segundo a pesquisadora, portanto, a demarcação de terras indígenas é uma forma eficiente, barata e justa de o país avançar em direção ao cumprimento de suas metas ambientais e climáticas.

“Entre 2001 e 2021, áreas da Amazônia administradas por povos indígenas removeram um total líquido de 340 milhões de toneladas métricas de CO2 da atmosfera – equivalente às emissões anuais de combustíveis fósseis do Reino Unido. Esses territórios também mostraram um crescimento 23% maior na restauração do que terras adjacentes. Outro estudo inovador mostrou que 80% das lavouras e pastagens no Brasil dependem das chuvas geradas pelas florestas mantidas de pé nas terras indígenas da Amazônia”, exemplificou a Acadêmica.

Bustamante lembrou também da conexão fundamental entre a preservação do território e da cultura desses povos, cujos conhecimentos guardam aplicações preciosas da biodiversidade.

“Um trabalho recente mapeou os usos de plantas medicinais e as línguas indígenas em três regiões: América do Norte, noroeste da Amazônia e Nova Guiné. O estudo encontrou cerca de 12 mil usos medicinais para mais de 3 mil plantas, conhecidos por pessoas que falam 230 idiomas indígenas nessas regiões. Porém, mais de 75% desse conhecimento está em apenas um desses idiomas. Ou seja, a maior parte desse conhecimento é única. Idiomas indígenas e seus territórios são inseparáveis e, por esse motivo, é importante que o aprendizado e a transmissão ocorram no território, na comunidade de origem”, defendeu a pesquisadora.

Próximos passos

Originalmente previstas para terminar em dezembro, as audiências de conciliação no STF foram prorrogadas até fevereiro. Considerada a mais importante representação indígena do país, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) se retirou da mesa de negociações em agosto, alegando não haver conciliação possível que colocasse em cheque direitos estabelecidos pela Constituição. Em resposta, o Ministério dos Povos Indígenas indicou outros representantes para ocupar o lugar, o que não foi bem recebido pela Apib. A expectativa é de que as discussões sirvam de base para que o STF tome uma decisão final sobre o tema em 2025.

ABC e Academias Médicas de Brasil e Reino Unido organizam workshop em pesquisa clínica

A Academia de Ciências Médicas do Reino Unido (AMS-UK), em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Academia Nacional de Medicina (ANM), organizou, nos dias 10 e 11 de dezembro, a etapa latino-americana do workshop “Global Clinical Research Pathways”, que tem como objetivo reunir dados e experiências sobre a progressão de carreira de cientistas na área clínica e trazer recomendações de boas-práticas em financiamento à esse tipo de pesquisa.

A sessão de abertura, moderada pelos titulares da ABC Marcello Barcinski, coordenador do workshop, e Eliete Bouskela, presidente da ANM, trouxe um panorama geral do ecossistema latino-americano de pesquisas clínicas. Segundo a professora da Escola de Saúde Pública da Universidad Peruana Cayetano Heredia, Patricia Garcia, ex-ministra da Saúde do Peru, a pesquisa clínica vem sendo escanteada nos países em desenvolvimento. “Tive a oportunidade de participar da edição africana deste workshop e pude perceber que temos muitos problemas parecidos na América Latina. Nem tudo é sobre financiamento, mas financiamento é crucial”

Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisa Nutricional do Peru Claudio Lanata de las Casas, Brasil e México são exemplos regionais de financiamento governamental continuado. “Fora desses dois países, é muito difícil fazer pesquisa clínica de ponta na América Latina. A maior parte dos institutos se financia a partir de grants, a maioria de instituições estrangeiras. É muito difícil atrair pessoas com um financiamento cuja continuidade não é garantida e que, em sua maioria, não oferecem verbas específicas para mentoria de alunos ou mesmo encargos administrativos. Precisamos de políticas que permitam uma base de seguridade para os pesquisadores e incentivos a dedicação exclusiva à pesquisa”, resumiu os desafios.

Esses problemas são particularmente graves quando consideramos que pesquisas locais têm mais valor para o estabelecimento de políticas e diretrizes em saúde do que pesquisas feitas em outros lugares. Segundo o professor Francisco Becerra-Posada, ex-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), os orçamentos nacionais voltados para pesquisas clínicas vêm caindo, ao mesmo tempo em que a região se tornou mais atraente para trials clínicos das grandes indústrias farmacêuticas internacionais. Portanto, a colaboração se tornou mais fundamental do que nunca. “A pesquisa em câncer no Brasil cresceu significativamente nas últimas décadas justamente pela entrada de atores privados. É um bom exemplo de como a cooperação internacional pode induzir o desenvolvimento nesses campos”, afirmou.

Após delimitarem os problemas na queda do financiamento público e na falta de incentivos e estruturação de carreira para pesquisadores clínicos que sejam competitivos com a carreira na atuação médica, os participantes foram divididos em quatro grupos que se aprofundaram nos aspectos de infraestrutura; treinamento e oportunidades; financiamento e estruturação da carreira; e governança de pesquisa. Os quatro grupos tiveram a oportunidade de discutir suas áreas em separados e trazer sugestões para o plenário no segundo dia.

Os coordenadores do workshop: Jimmy Whitworth (London School of Hygiene & Tropical Medicine) e o Acadêmico Marcello Barcinski (UFRJ)

O grupo de infraestrutura destacou, além da falta de recursos e condições materiais precárias, a falta de digitalização e de bancos de dados integrados que auxiliem nas pesquisas, a falta de suporte administrativo e operacional das instituições, excessiva burocratização dos processos e uma falta de padronização regulatória entre os países da região, o que dificulta colaborações em redes. Segundo apontam, intervenções exitosas devem atacar esses problemas, facilitando ao máximo a colaboração entre os países e a continuidade do know-how adquirido por grupos de pesquisa existentes.

O grupo sobre treinamento lembrou que a pesquisa não está inclusa na maioria dos currículos de treinamento clínico e nem existe a ideia de um tempo separado para que os profissionais se dediquem a ela. Dessa forma, não há incentivos para a mentoria e acompanhamento de alunos em investigação ou um caminho profissional estruturado para o pesquisador clínico. Por isso, o grupo sugere que as instituições de ensino médico solidifiquem a carreira e ofereçam mapeamentos de programas e grants existentes específicos para a pesquisa, pede também o estabelecimento de departamentos voltados à pesquisa dentro das instituições médicas, que otimizem o tempo dos cientistas e possuam métricas de avaliação qualitativa, para além da quantidade de papers.

No grupo sobre financiamento as conclusões foram de que as agências públicas de fomento na América Latina convivem com instabilidades políticas que, em períodos de restrições, precisam ser suplantadas por instituições privadas, em sua maioria dos países ricos. Nesse quesito, Brasil, México e, em menor grau, Argentina concentram o financiamento público na região, mas mesmo dentro desses países existem distorções regionais significativas. O grupo sugeriu a criação de fundos regionais administrados coletivamente, de forma a tornar a região mais soberana em fomento. Para garantir financiamento público continuado, o grupo argumenta que é preciso comunicação com a sociedade e a política, levando os números e os impactos da ciência para que estes sejam receptivos, e não hostis, ao financiamento de ciência.

O grupo sobre governança, por sua vez, alertou para a fragmentação do ecossistema de pesquisa entre as muitas instituições e órgãos, sejam eles públicos ou privados. Muitos desses organismos convivem com burocracias inefetivas e impeditivas que prejudicam o avanço e continuidade das pesquisas. O grupo alerta que o papel principal das instituições deve ser gerar um ambiente amigável à pesquisa, estimulando integração entre os pesquisadores e respostas às urgências da sociedade. Para os cientistas, o orçamento dessas organizações deve ser elaborado em moedas estáveis, como o dólar, para evitar que flutuações no poder de compra afetem as pesquisas. Estas devem prover treinamento não só no currículo base, mas em networking e comunicação de resultados, e também incentivar seus alunos a buscarem intercâmbio com outros setores e países.

Um relatório completo sobre as discussões deverá ser disponibilizado em meados de 2025, e as soluções pensadas em conjunto deverão ser integradas aos trabalhos finais dos workshops, que buscarão trazer um panorama global.

ABC entrega medalha Henrique Morize ao Almirante Othon Pinheiro

Em 22 de agosto de 2024, a diretoria da Academia Brasileira de Ciências (ABC) decidiu, por unanimidade conceder ao engenheiro Othon Luiz Pinheiro da Silva a Medalha Henrique Morize “em reconhecimento aos inestimáveis serviços prestados à Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, especialmente no campo da energia nuclear”. Othon Luiz Pinheiro da Silva, engenheiro naval e nuclear formado pelo MIT, teve um papel crucial no desenvolvimento da tecnologia nuclear brasileira, desde coordenar projetos de construção naval até liderar inovações em propulsão e ciclo de combustível nuclear.

Othon é reconhecido por suas contribuições significativas à ciência e tecnologia do Brasil, o que levou à sua recente homenagem com a Medalha Henrique Morize pela Academia Brasileira de Ciências, entregue em homenagem realizada no dia 12 de dezembro de 2024. Durante sua carreira, ele trabalhou sobretudo na independência tecnológica do Brasil no setor nuclear, inclusive através da construção do primeiro reator nuclear projetado no país e o avanço no enriquecimento de urânio usando tecnologia nacional. Além disso, como presidente da Eletronuclear, Othon teve um impacto positivo na performance da central de Angra e apoiou a retomada da construção de Angra 3. Sua carreira é marcada por uma forte defesa do setor nuclear na matriz energética brasileira e colaborações valiosas no estabelecimento de uma política nuclear.

A medalha, que leva o nome do primeiro presidente da ABC, foi entregue pelas mãos da atual mandatária, Helena Bonciani Nader, que enalteceu o legado do premiado.

“Graças ao trabalho do Almirante Othon em acreditar que a ciência muda um país, o Brasil hoje domina toda a cadeia de enriquecimento de urânio. Conseguir isso sempre dependeu de materiais cuja venda é restrita, mas sua equipe conseguiu desenvolver aqui. Estamos falando de uma tecnologia cujo impacto vai muito além da área militar, contribuindo para geração de energia e para tratamentos de saúde. Gostaria de registrar aqui o meu agradecimento”, disse Nader.

Em seguida, foi dada a palavra a Joana Domingues Vargas, filha do ex-presidente da ABC José Israel Vargas, que falou em nome de seu pai.

“O vice-almirante e engenheiro Othon Pinheiro desenvolveu o enriquecimento isotópico do urânio para a centrifugação, uma contribuição extraordinariamente valiosa que ensejou a independência nuclear do Brasil. Ainda com base nas ligas magnéticas especiais utilizadas na ultracentrifugação, ele projetou uma mini turbina a fio d’água capaz de permitir a autonomia energética de pequenas comunidades. Trata-se de um método muito original e proveitoso que permite, por exemplo, gerar energia elétrica nos leitos dos cursos d’água da Amazônia, onde as pequenas cidades são dependentes de diesel”, explicou Vargas, “Registro que me detive apenas nas suas maiores contribuições à ciência e à tecnologia brasileira. Haveria muito mais o que falar em sua homenagem”.

Visivelmente emocionado, o homenageado compartilhou a honra com a equipe que comandou no programa nuclear.

“Os cientistas são os faróis, eles alargam as fronteiras do conhecimento. Depois vêm os engenheiros, os físicos, os técnicos, que, iluminados pelos cientistas, transformam esse conhecimento em tecnologia. Naquele programa, tive a honra de ter sido designado pelo grande Almirante Márcio Vianna da Fonseca. Costumo dizer que os almirantados são como vinhos, algumas safras são melhores que as outras, e esta era, sem dúvida, uma excelente safra. Na vida, eu nada mais fui do que um dedicado cumpridor de missões, que deu a sorte de conseguir juntar uma equipe fantástica de engenheiros, físicos, técnicos, que, iluminados pelos cientistas que estavam no sistema universitário, fizeram com que nós caminhássemos com as próprias pernas por caminhos que muitos países do mundo não conseguem caminhar. Muitos daquela equipe já se foram e eu me lembro deles com saudade, foram anos de muito trabalho mas, quando o ambiente é bom, isso traz grande satisfação. Sozinho ninguém faz nada, portanto, posso dizer que fui iluminado pelos cientistas com quem tive o prazer de conviver e agora recebo mais esta dádiva por eles”, agradeceu o Almirante Othon Pinheiro.

Estiveram presentes na cerimônia os membros da diretoria da ABC e os Acadêmicos Aldo Zarbin, Débora Foguel, Jorge Almeida Guimarães, e Renato Cotta. O atual comandante da Marinha, Almirante Marcos Olsen, o presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian e a vice-presidente, Olga Simbalista, também participaram.

Os presentes na cerimônia. Ao centro, de máscara, o Almirante Othon Pinheiro

CLUBE DE ENGENHARIA, 30/11/2023
Depoimento do Almirante Othon ao Memória Oral lança luzes sobre episódios da vida científica e política do país

CLUBE DE ENGENHARIA, 10/10/2023
Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva revê sua trajetória no Memória Oral

PÁTRIA LATINA, 14/12/2024

Almirante Othon recebe principal comenda da Academia Brasileiras de Ciências

DEFESANET, 9/12/2024

Academia Brasileira de Ciências entregará a maior comenda ao Almirante Othon

IPEN, 9/12/2024

Academia Brasileira de Ciências entregará a maior comenda ao Almirante Othon

Sobre a Medalha Henrique Morize

A Medalha Henrique Morize foi criada em 2014 com o propósito de homenagear indivíduos ou instituições que realizem ou tenham realizado contribuições expressivas para a Academia Brasileira de Ciências, bem como para o desenvolvimento da ciência brasileira. Os agraciados são selecionados pela Diretoria da ABC.

Até então, receberam a medalha Jorge Almeida Guimarães (2014), Américo Fialdini Jr. (2016), Helena Nader (2017), Jacob Palis Jr., (2018), Ildeu de Castro Moreira (2021), Eduardo Moacyr Krieger (2023), José israel Vargas (2023) e Luiz Davidovich (2023).

Saiba mais sobre o prêmio e sobre os recipientes da homenagem aqui.

Saudação de Ano Novo

Como presidente e em nome da Diretoria da Academia Brasileira de Ciências, desejo a todos boas festas. Que o ano de 2025 reforce ainda mais a esperança de alcançarmos o Brasil que desejamos: justo, que reconheça as diferenças e trate a todos com equidade, e igualitário, que garanta que todos tenham as mesmas oportunidades e direitos.

Desejamos a todos Esperança, nas palavras de Mário Quintana:

“Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
– Ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…

E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…”

Helena Bonciani Nader


A ABC estará em recesso entre os dias 21 de dezembro e 5 de janeiro. Voltamos no dia 6. 

teste