Leia artigo do Acadêmico Wanderley de Souza, em que discorre sobre a necessidade de dar importância a campos como biotecnologia, engenharia de petróleo e nanotecnologia.

”Em artigo anterior analisamos a participação de algumas áreas aonde a Ciência brasileira vem ocupando posições de destaque, apesar de um investimento relativamente pequeno por parte das instituições responsáveis pelo fomento à pesquisa científica e tecnológica. Cabe ressaltar, no entanto, que estas áreas vêm sendo apoiadas no que se refere à formação de recursos humanos.

Consideramos como áreas de expressiva produção científica, levando em consideração o número de artigos publicado em revistas internacionais, aquelas em que a Ciência brasileira ocupa as primeiras cinco posições no mundo. Cabe sempre lembrar que a Ciência brasileira ocupa hoje, na média para todas as áreas do conhecimento, a 13ª ou 14ª posições (varia de acordo com a base de dados analisada).

Por este critério, vamos considerar como áreas onde estamos em uma situação crítica aquelas em que nossa participação esteja em torno ou abaixo da média geral. Como o número de áreas e subáreas é muito grande, optei por considerar, neste artigo, as que têm impacto significativo no desenvolvimento tecnológico e que são fundamentais para que o país passe por um ciclo de desenvolvimento industrial.

Nesta análise vou enfatizar, para efeitos comparativos, a contribuição dos países que ocupam as duas primeiras posições, bem como as de outros países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e dois países cuja Ciência vem avançando rapidamente nos últimos anos, como o Irã e a Turquia.

Inicio por duas áreas que, por sua importância estratégica, vêm sendo considerada por todos os países como ”portadoras do futuro”, ou seja, aquelas que os países precisam dominar para que tenham maiores chances de estarem entre os líderes do desenvolvimento tecnológico. São elas, a Biotecnologia e as Nanociências e Nanotecnologia.

A primeira vem se impondo: (a) na produção de proteínas recombinantes e anticorpos monoclonais para um tratamento mais efetivo de doenças de grande importância epidemiológica; (b) na produção de enzimas para fins industriais variados; e (c) no aumento da quantidade e qualidade de produtos de origem animal e vegetal, entre outras. Já a nanotecnologia vem se impondo na produção de materiais diversos, como semicondutores, tintas, cosméticos, tecidos mais resistentes, entre outros.

No campo da Biotecnologia e Microbiologia Aplicada, as bases de dados indicam que foram publicados 816.665 artigos no período de 2009 a 2013, sendo que 23,8% e 16,6 % deles por pesquisadores dos Estados Unidos e da China, respectivamente. A Índia ocupa a sexta posição, a Turquia, a 12ª, o Irã, a 15ª, o Brasil, a 16ª (com 1,9% das publicações), seguido de perto pela Rússia.

No que se refere às Nanociências e Nanotecnologia, foram publicados 116.160 artigos sendo que as duas primeiras posições são ocupadas pelos Estados Unidos e pela China com 25,6% e 23% das publicações, respectivamente. A Índia ocupa a sexta posição, o Irã, a 15ª, o Brasil, a 16ª, e a Rússia, a 17ª.

Apesar de todos reconhecerem a importância da Biotecnologia e das Nanociências para o desenvolvimento tecnológico nacional, as ações são ainda tímidas, se comparadas aos investimentos que vêm sendo feitos no exterior. Na área das Nanociências, o investimento tem sido ”nano” e decepcionante para os colegas que atuam na área. Cabe ressaltar que a qualidade do que vem sendo produzido é alta a julgar pelo impacto das publicações brasileiras.

A Física e a Química são duas áreas fundamentais e que impactam outras áreas. No caso da Física, a China e os Estados Unidos são responsáveis por 26,8% e 18% da produção científica mundial, respectivamente. Nesta área, cabe ressaltar que o impacto da contribuição norte americana é cerca de três vezes superior à da China. A Rússia ocupa a quarta posição, a Índia, a décima, o Brasil, a 15ª.

No caso da Química, China e Estados Unidos ocupam a primeira e a segunda posições, contribuindo com 23,4% e 19,7% da produção científica, respectivamente. A Índia ocupa a sexta, a Rússia, a décima, o Irã, a 11ª, e o Brasil, a 16ª.

A situação brasileira melhora na área da Química Medicinal, onde ocupa a nona posição, contribuindo com 3,5% da produção científica mundial. A riqueza de novas moléculas em componentes da biodiversidade brasileira é a responsável por esta posição, sendo que esta área deveria merecer atenção e apoio especial pelo seu potencial de gerar novos produtos farmacêuticos de alto valor agregado.

Há um consenso quanto à importância das engenharias para o desenvolvimento tecnológico e industrial de um país. No que se refere à engenharia metalúrgica, a China e os Estados unidos são responsáveis por 35,16% e 9,22%, respectivamente, da produção científica mundial. A Índia ocupa a sexta colocação, a Rússia, a sétima, o Irã, a 11ª, e o Brasil, a 18ª posição.

Na área computacional, Estados Unidos e China contribuem com 35,16% e 9,22%, respectivamente. Índia e Brasil ocupam a 15ª e 17ª posições, respectivamente. Na área da Engenharia Química, China e Estados Unidos contribuem com 20,3% e 13,5% da produção científica mundial, respectivamente. A terceira, a nona, a 14ª e a 16ª posições são ocupadas por Índia, Irã, Turquia e Brasil, respectivamente.

No campo da engenharia de petróleo, Estados Unidos e China lideram com 23,5% e 23%, respectivamente, sendo que Irã, Rússia, Índia e Brasil ocupam a terceira, a quinta, a 12ª e 16ª posições, respectivamente. Por último, menciono a Engenharia Aeronáutica, onde Estados Unidos e China lideram com 36% e 15,8%, respectivamente, sendo que Rússia, Índia, Irã, Turquia e Brasil ocupam as décima, 12ª, 15ª, 19ª e 23ª posições, respectivamente.

Os dados apresentados acima deixam claro que: (a) em praticamente todas as áreas a China ocupa uma posição de destaque, disputando a liderança com os Estados Unidos; e (b) o Brasil encontra-se em posição desfavorável, mostrando uma produção menor do que seu desempenho médio (14ª posição), sendo suplantado em várias áreas estratégicas por países como a Índia, Rússia, Irã e Turquia.

Ao procurar ouvir colegas das áreas mencionadas, a opinião geral é a de que apenas a Capes vem estimulando a formação de pesquisadores nestas áreas, mas que faltam programas específicos de apoio pelas agências de fomento da área de Ciência e Tecnologia.”

Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ e diretor do Inmetro, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina.