Os pais de Camila Indiani de Oliveira são professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), das áreas de Economia e Letras. Sempre trabalharam fora e no meio acadêmico. Ela tem um irmão mais novo e ambos estudaram no Colégio de Aplicação (CAp) da UFRJ. Ela gostava de geografia, história e de ciências em geral. Dos 14 aos 16 anos, estudou na Grã-Bretanha, em função dos estágios de pós-doutoramento dos seus pais. “As aulas práticas na escola de lá, nos laboratórios de química e de biologia, despertaram meu interesse pela pesquisa, pela redação científica e pela procura de resultados. Com certeza aqueles professores tinham vocação e preparo para ensinar e despertar o interesse dos alunos”, conta Camila.
Ao voltar para o Brasil, escolheu cursar biologia e passou para a Universidade de São Paulo (USP). A mudança do Rio para São Paulo, saindo da casa dos pais, foi uma mudança importante, além do início da faculdade e o contato com o mundo da biologia. Camila observa que embora sua graduação tenha sido voltada para a zoologia, botânica e ecologia, foi fazendo a iniciação científica (IC) na parasitologia, com a professora Célia Garcia como orientadora, que descobriu seu interesse pelos microorganismos. “Meu pai sempre perguntava quando eu ia começar a estagiar. Um amigo me disse, então, que estavam procurando estagiários naquele laboratório e eu me candidatei. Foi a oferta certa na hora certa, exatamente quando os questionamentos apareceram.”
Daí para frente, os colegas do departamento de Parasitologia, os professores e, sobretudo, seu orientador do doutorado em Ciências (Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro), Hernando del Portillo, foram fundamentais na sua formação. Durante o doutorado, realizado também na USP, Portillo insistiu e incentivou que Camila fizesse o modelo sanduíche, com parte do doutorado, no caso dela, feito nos EUA. “Meu orientador lá, Moriya Tsuji, e os inúmeros amigos que adquiri contribuíram para que eu pudesse conhecer a ciência feita no mundo desenvolvido e me decidisse pela carreira acadêmica.”
Camila Indiani realmente gosta muito de trabalhar com ciência, pela possibilidade de descobrir, de confirmar, de conversar sobre ideias novas o tempo todo e de estar tanto com os jovens quanto com os mais velhos. “Acho que um bom cientista tem que ter paciência, organização e interesse, muito interesse”. Ela trabalha com leishmaniose, uma doença grave transmitida pela picada de um inseto. É uma doença comum em áreas rurais, onde ainda há florestas, habitat do transmissor. “Agora a situação está mais complicada, porque a doença está chegando na cidade, uma vez que o inseto está migrando e se adaptando, como as pessoas.”
A leishmania é um parasita que fica instalado dentro das células, se alimentando e crescendo. A leishmaniose é uma doença crônica cujo tratamento é bem desagradável, pois o paciente tem que tomar muitas injeções e, em função do medicamento, muitas vezes fica ainda mais debilitado. “O que eu venho pesquisando é uma maneira de gerar vacinas contra a doença e, mais recentemente, novas moléculas que possam combater a leishmania, o parasita que causa a leishmaniose. Outra coisa que eu pesquiso é como o parasita é reconhecido pelo nosso corpo ou como as células do sistema imune reagem na infecção. Essa parte eu gosto muito, porque descubro como o parasita se relaciona com as nossas células.”
Camila saiu de São Paulo, onde se formou, e foi para Salvador, onde lhe foram dadas oportunidades fantásticas e toda uma área nova para explorar. Atualmente é pesquisadora do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz/Fiocruz, professora do curso de pós-graduação em Patologia e da Fundação Bahiana Para o Desenvolvimento das Ciências. Depois de dez anos na Bahia, foi indicada para a ABC. Ela diz que concilia bem a carreira e a vida pessoal e observa que atualmente as mulheres são maioria na iniciação científica, no mestrado e no doutorado. “Mas depois, os homens acabam assumindo as chefias. Também são maioria entre os palestrantes de congressos internacionais, por exemplo. As mulheres tem ainda alguns bons passos a andar nesse sentido”.
Entre os Titulares, o percentual de mulheres na ABC é de 12,6% – índice mais alto do que nas Academias dos Estados Unidos, reino Unido e Françca, por exemplo. Mas entre os Membros Afiliados da ABC, o índice é mais alto: atualmente, elas são 26% do total. A pesquisadora se diz grata aos seus alunos e mestres, que colaboraram para que ela recebesse essa honraria. “Acho que o maior benefício será a interação com os outros Acadêmicos, especialmente os da minha Regional.”