Muitos alunos acham que não precisam aprender matemática, mas o que eles não sabem é que o mercado de trabalho está de olho nos profissionais qualificados nessa área. O pesquisador Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, acredita que o país está compreendendo finalmente a importância da disciplina.
“As olimpíadas de matemática têm ajudado a difundir o interesse pela área. A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) mobiliza cerca de 20 milhões de crianças em dois testes por ano. A matemática, junto com a língua portuguesa, é a base do conhecimento. Vemos avanços consideráveis a curto, médio e longo prazo. Com isso, as oportunidades crescem. As universidades estão abrindo mais vagas para matemáticos e o professor do ensino médio começa a ser mais valorizado. Atualmente, ele pode participar de diversos programas de aperfeiçoamento. Existe uma demanda grande nas áreas de computação e petróleo, e no setor financeiro. Matemáticos que fazem projeção de risco são disputados por bancos”, explica Palis, que dirigiu o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) entre 1993 e 2003.
Segundo Palis, a oferta de emprego é maior para quem tem mestrado e doutorado. Existem mais vagas do que profissionais qualificados, e até estrangeiros estão vindo para o Brasil disputar uma oportunidade. Mas, o mercado aquecido não significa necessariamente dinheiro no bolso. “No que diz respeito aos salários, na área universitária os professores não ganham mal, porém, já ganharam mais. Acho que o salário deveria acompanhar a inflação. No entanto, quando chega no Ensino Básico e Médio, os salários são pouco atrativos. A baixa remuneração é um gargalo de que o governo precisa cuidar com urgência”, ressalta.
Matemática: a linguagem de Deus
Vivemos na era da globalização, possível principalmente por conta do avanço da tecnologia, e claro, por trás (e por dentro) dos sistemas mais modernos está a matemática. O professor Luiz Velho, pesquisador do IMPA e coordenador do laboratório Visão e Computação Gráfica (Visgraf), ligado ao instituto, brinca com a filosofia, dizendo que a matemática é a linguagem de Deus, pois ao matemático cabe tentar entender os princípios básicos do universo.
“Nós não inventamos coisas, descobrimos como elas funcionam. Com o advento da computação, a matemática saiu do campo teórico e tornou-se mais concreta. A matemática computacional está diretamente ligada ao estudo e a aplicação dos algoritmos. Quando apertamos o botão do teclado, estamos usando a matemática. Por que o Google faz tanto sucesso? Porque o sistema de busca deles dá o que o usuário está procurando em 99,9% das vezes. O site conseguiu usar o algoritmo para fazer a busca certa. Os donos do Google eram alunos de matemática da Universidade de Stanford, na Califórnia. Eles descobriram uma aplicação importante para os algoritmos e se destacaram no mundo”, explica.
No Visgraf, Luiz e sua equipe fazem pesquisas de ponta, explorando, segundo ele, o limite da tecnologia. Inteligência artificial, realidade virtual aumentada e teletransporte, que parecem termos de filmes de ficção científica, já são discutidos no laboratório.
“A demanda por profissionais que mergulhem nesse universo é grande. Existem vários centros de pesquisa sendo instalados no Brasil e especialmente no Rio de Janeiro, por conta de grandes eventos como as Olimpíadas. Esse é o momento para quem tem uma formação sólida em matemática aplicada e computacional”, avisa.