Um novo artigo de pesquisadores brasileiros – coordenados por Cláudia Figueiredo, afiliada da ABC entre 2014 e 2019 – foi publicado na edição de março do prestigioso periódico científico Cell Reports. O trabalho explora alguns dos efeitos de longo prazo da Covid-19 na memória, e ganhou destaque no jornal O Globo. Confira:
O pior da pandemia de Covid-19 ficou para trás, mas o coronavírus deixou um rastro de milhões de pessoas acometidas por problemas de memória. É um mal que se faz lembrar pelo esquecimento que provoca em suas vítimas. Estima-se que cerca da metade dos que tiveram a doença sofrem falhas cognitivas por dias, meses e, em alguns casos, anos. Agora, um estudo realizado por cientistas brasileiros revela que danos no cérebro associados à perda de memória podem ser provocados pela proteína spike do coronavírus.
A pesquisa abre caminho para desenvolver formas de evitar os efeitos de longo prazo da Covid-19. A spike é essencial para o Sars-CoV-2 penetrar nas células humanas e é alvo da maioria das vacinas.
Assinado por 25 cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), o estudo foi apoiado pela Faperj publicado na Cell Reports, uma das mais importantes revistas internacionais das ciências biológicas.
O Robot Dance é uma das ferramentas do ModCovid19, um grupo de pesquisa com trabalhos voltados para combater o coronavírus. A ferramenta matemática criou um modelo para planejar o isolamento intermitente no estado de São Paulo. O modelo sugeria a alternância das cidades em isolamento social, recurso que fazia com que a capacidade produtiva não entrasse em colapso e também que os transtornos do longo distanciamento pudessem ser reduzidos. A partir disso, as tomadas de decisões sobre o escalonamento das cidades poderiam ser feitas de maneira centralizada. Um exemplo era a variável da taxa de ocupação dos hospitais: a partir dela, poderia ser definido em que momento o isolamento social deveria ser decretado.
O artigo contou com a participação dos pesquisadores do CeMEAI Luis Gustavo Nonato, Claudia Sagastizábal, Paulo Silva e Silva e Tiago Pereira da Silva, além do professor do IME-USP Pedro Peixoto. Segundo Tiago, o reconhecimento é a demonstração da qualidade e relevância do trabalho realizado no CeMEAI. “É uma grande honra ter o trabalho reconhecido em meio a uma comunidade de pesquisadores de excelência mundial. Isso demonstra a qualidade e relevância do trabalho realizado e é uma prova do empenho e dedicação investidos na pesquisa. Além disso, receber esse tipo de reconhecimento pode servir como um incentivo para continuar a buscar a excelência em pesquisas futuras e a contribuir para o avanço do conhecimento”, afirmou.
O EURO Journal on Computational é publicado pela Elsevier, em colaboração com a Association of European Operational Research Societies. O jornal publica artigos de pesquisa explorando as muitas áreas em que a Pesquisa Operacional e a Ciência de Dados estão intimamente conectadas. O elemento comum em todas as contribuições escolhidas para publicação na revista é o uso de computadores para a solução de problemas de otimização. A cobertura inclui contribuições metodológicas e aplicativos inovadores, normalmente validados por meio de experimentos computacionais convincentes.
O prêmio, concedido anualmente, é homenagem para a pesquisadora Marguerite Josephine Straus Frank, que ofereceu diversas contribuições dentro da área de Otimização, incluindo o famoso artigo de Frank/Wolfe sobre otimização quadrática, o trabalho seminal sobre os métodos de primeira ordem, tão populares hoje em dia em aprendizado de máquinas. Segundo Cláudia, uma das autoras, o trabalho foi elogiado pelo Editor-Chefe da revista em virtude da sua excelência. Ela explicou também que a honraria é voltada para todos os artigos publicados pela EJCO no volume do ano, mas é direcionado principalmente aos artigos com pelo menos uma mulher entre os autores.
Já para Nonato, receber o prêmio foi o reconhecimento por um trabalho intenso. “Essa pesquisa reuniu uma equipe de pesquisadores altamente competentes, em um momento difícil com as restrições impostas pela pandemia, suspensão de direitos trabalhistas e adaptação às novas formas de ensino e pesquisa remotos”, detalhou.
Silva, por sua vez, destacou que a EJCO é uma importante revista da área de otimização com enfoque nos aspectos computacionais da área. “Nosso artigo foi escolhido como destaque do ano de 2022, comprovando a qualidade da pesquisa feita em nosso grupo e no CeMEAI que está em linha com o que é feito nos melhores centros do mundo”, concluiu o pesquisador.
O Governo Federal acaba de lançar oficialmente o Movimento Nacional pela Vacinação, com o objetivo de reconstruir uma cultura de vacinação no país. Em cerimônia no Distrito Federal, o presidente da República foi vacinado com a dose de reforço bivalente contra a Covid-19 por seu vice, que é médico, numa clara mensagem de mudança da postura oficial do país em relação às vacinas. O evento também contou com a presença da ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
A vacina bivalente protege contra as variantes originais do vírus Sars-Cov-2 e contra a variante ômicron, e serão voltadas, neste primeiro momento, aos idosos acima dos 70 anos, pessoas imunocomprometidas, indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Na segunda fase, prevista para começar em março, será a vez de idosos entre 60 e 69 anos, pessoas com deficiência, trabalhadores da saúde, gestantes e puerpéras e a população em regime de detenção.
Apesar das prioridades, o governo reforçou que qualquer pessoa com o esquema de vacinação incompleto deve procurar um posto de saúde, pois estão disponíveis vacinas para todas as faixas etárias a partir dos 6 meses. Também foi reforçada a autonomia dos estados e municípios para que administrem a campanha de acordo com o cenário local, e o pedido por bom-senso para que se evitem desperdícios, uma vez que cada frasco de vacina contém várias doses que devem ser usadas assim que abertas.
“Temos que lembrar que todas as vacinas para Covid são seguras e protegem, inclusive contra novas variantes”, disse o diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Imunopreviníveis do Ministério, Eder Gatti, “Não podemos perder nenhuma oportunidade de vacinar”, reforçou.
Retomada da cultura vacinal
Até bem pouco tempo atrás, o Brasil era um modelo bem-sucedido em imunização, com uma taxa de cobertura vacinal infantil de 93%. De acordo com dados da Unicef, esse número é agora de apenas 74%, uma queda brusca após um período de negacionismo científico oficial contra imunizantes. Doenças antes consideradas erradicadas, como poliomielite e sarampo, voltaram ao radar do nosso sistema de saúde.
Com o intuito de reverter esse cenário, o Movimento Nacional pela Vacinação prevê etapas futuras focadas na atualização de toda a caderneta de vacinação, além de campanhas de conscientização e promoção dos imunizantes como a melhor forma de prevenir epidemias e mortes evitáveis. Vacine-se!
O membro titular da Academia Brasileira de Ciências Ricardo Gazzinelli concedeu entrevista para O Globo. Confira:
Desde novembro do ano passado, uma vacina contra a Covid-19 desenvolvida inteiramente no Brasil está em testes em humanos. É a SpiN-Tec, imunizante criado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que, se demonstrada a eficácia, pode se tornar mais uma importante arma na luta contra a doença em cerca de dois anos.
Mas o ineditismo não é apenas para o combate ao coronavírus. Se receber o aval da Anvisa, a vacina também será a primeira desenvolvida 100% em solo brasileiro, abrindo uma nova porta na autonomia do país em garantir os seus próprios imunizantes – sem depender de transferência de tecnologia externa ou de importação.
Isso porque, embora lugares como a Fiocruz e o Instituto Butantan sejam referência na produção de vacinas, quando o assunto é a criação de uma formulação do zero, a história é outra. Para avançar nesse setor, em dezembro, começaram as obras do futuro Centro Nacional de Vacinas (CNVacinas), expansão do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG (CTVacinas) que promete transpor essa barreira.
Em entrevista ao GLOBO, o coordenador do CTVacinas, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e pesquisador da Fiocruz, Ricardo Gazzinelli, explica como andam os testes com a SpiN-Tec, os desafios na criação de imunizantes no Brasil e como a pandemia impulsionou os investimentos na área.
Confira a matéria do Jornal da Ciência sobre a pesquisa brasileira no tratamento da Covid-19 publicada na Nature Communications. Entre os autores estão o ex-afiliado Thiago Moreno; a afiliada Vivian Vasconcelos; e os membros titulares da ABC João Calixto, Patrícia Bozza e Mauro Teixeira.
Artigo publicado na Nature (Communications), uma das mais conceituadas revistas científicas no mundo, revela a descoberta de um novo antiviral com grande potencial para tratamento da covid-19. O estudo é assinado por um grupo de pesquisadores brasileiros, entre eles Jaime Rabi, presidente da Microbiológica, empresa associada à ABIFINA.
Os resultados publicados derivam de um projeto de pesquisa focado na inibição da RNA polimerase viral, essencial para a reprodução do vírus da covid-19 (SARS-CoV-2). O projeto é possível graças à integração interdisciplinar da Microbiológica com o Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP) e o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), a grande experiência das três instituições e o profundo conhecimento sobre o metabolismo dos ácidos nucleicos.
A estratégia foi pesquisar pro-drogas, bases purínicas, de fácil acesso sintético que, in vivo, pudessem ser transformadas nas espécies ativas: os correspondentes nucleosídeos trifosfatos.
A pesquisa identificou que a cinetina, N6-furfuril adenina (entre outras de um extenso pipeline), é capaz de inibir a replicação in vitro do vírus em células hepáticas e pulmonares humanas, além de conjugar ação anti-inflamatória.
A substância se mostrou segura, não sendo mutagênica nem cardiotóxica em tratamentos agudos e crônicos.
Os testes em animais infectados mostraram que a cinetina levou à sobrevida e à diminuição da replicação viral, da necrose pulmonar, da hemorragia e da inflamação.
Estudos clínicos já em andamento com a mesma substância para outra doença sugerem que é possível fazer rapidamente o desenvolvimento clínico para uso preventivo e curativo da covid-19.
Os pesquisadores já submeteram à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) um dossiê (DDCM) para obterem a autorização para o início dos ensaios clínicos em seres humanos.
Parte do trabalho publicado deriva de uma encomenda tecnológica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI/CNPq) com objetivo de descobrir antivirais de ação direta contra o vírus da covid-19. O projeto tem apoio também da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
Em nova postagem no seu canal do YouTube, o membro titular da ABC Luiz Carlos Dias esclarece a recente informação falsa de que crianças e adolescentes não morrem em decorrência da covid-19. A fake news teria sido disseminada pelo presidente da República em uma entrevista.
No vídeo, divulgado em 14/10, Dias apresentou os dados oficiais divulgados pelo Ministério da Saúde, que somam 3380 vítimas da doença com idades entre 0 e 19 anos no período entre março de 2020 e outubro de 2022. O número pode ser ainda maior, uma vez que há uma grande disparidade entre o total de óbitos apresentados pelo Governo Federal (619.143) e o apresentado pelo consórcio de veículos de imprensa (687.120).
Os dados vacinais também preocupam o Acadêmico: apenas 54,33% das crianças entre 3 e 11 anos tomaram a primeira dose do imunizante contra a covid-19, número que representa cerca de 14 milhões. Os números de imunizados com a segunda dose são bem inferiores – apenas 37,24% tomaram a segunda dose. “Nossa bandeira verde e amarela está manchada com o vermelho do sangue dos inocentes”, apontou o Acadêmico. “Precisamos vacinar nossas crianças para evitar mais mortes de inocentes.”
A Global Young Academy convida seus parceiros ao redor do mundo para o evento de lançamento do relatório “De volta ao básico: a percepção dos cientistas sobre o estado global do financiamento para pesquisa fundamental“, que ocorrerá na terça-feira, 11/10/2022, das 7h às 8h30 (GMT-3).
Esse documento relata os resultados de um levantamento com cientistas de todo o mundo sobre o sistema de pesquisa, especificamente sobre o financiamento para ciência básica e aplicada. A ciência básica é aquela conduzida sem um foco em produto ou problema aplicado em mente e transformou a sociedade em inúmeras ocasiões. No entanto, recentemente, muitos cientistas de países de renda alta e baixa/média notaram que o financiamento para esse tipo de pesquisa se tornou menos acessível, necessitando mudar o rumo de seus trabalhos para campos com resultados mais imediatos e aplicados.
O objetivo central deste relatório é convocar os cientistas para uma grande ação coletiva, visando garantir que o valor desta fonte crucial de inovação seja reconhecido e preservado.
No dia 21 de junho, terça-feira, aconteceu a quarta e última edição da série de webinários “A Contribuição dos INCTs para a Sociedade”, organizada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A segunda mesa desta edição abordou os INCTs que realizam pesquisa de fronteira, ou seja, aquela focada em tecnologias inovadoras de última geração, com potencial de revolucionar setores inteiros da economia e da sociedade.
Participaram os Acadêmicos Virgílio Almeida, ex-coordenador do INCT de Pesquisa na Web; Mayana Zatz, coordenadora do INCT Envelhecimento e Doenças Genéticas: Genômica e Metagenômica; e Marcos Pimenta, coordenador do INCT de Nanomateriais de Carbono. Também participou o geneticista Gonçalo Pereira, ex-diretor do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE). As apresentações foram mediadas pelo vice-presidente da ABC, Jailson Bittencourt de Andrade.
INCTs e o Futuro Digital
“A segunda revolução industrial vai desvalorizar o cérebro humano como a primeira desvalorizou o braço”, afirmou o fundador da cibernética, Norbert Wiener, na década de 50. Naquela época, o mais potente computador pesava dez toneladas e tinha memória de 4 mil palavras. Desde então, o investimento contínuo em computação, robótica, softwares e neurociência trouxe inovações que revolucionaram o presente e nos permitiram vislumbrar futuros antes inimagináveis.
Mas para ter voz ativa nesse futuro é preciso investir na pesquisa nacional. Atualmente, o Brasil adota uma filosofia de importação de tecnologia que o relega a uma posição de dependência externa. Comprar os frutos da pesquisa de ponta do exterior significa pagar mais caro para ter apenas o resultado final, sem obter o conhecimento associado que é desenvolvido no processo. “Essa é a importância dos INCTs, não só na geração de inovação, mas de pessoal qualificado”, enfatizou.
Como exemplo, Virgílio Almeida trouxe o exemplo do INCT de Pesquisa na Web, que coordenou em 2009. Esse instituto foi responsável pela formação de 58 doutores, 311 mestres, além da criação de 3 start-ups nas áreas de inteligência artificial, big data e redes sociais. Outro destaque foi o Centro de Inovação em Inteligência Artificial e Saúde, que se utiliza de tecnologias de última geração para atuar em diagnóstico, prevenção, gestão de sistemas de saúde, medicina personalizada e modelagem de crises sanitárias.
“Grandes projetos geram conhecimento, resultados e retorno para a sociedade”, sumarizou o palestrante, que enfatizou a vantagem da criação de redes com objetivos ambiciosos, englobando os setores públicos e privados, e instituições nacionais e do exterior. “Precisamos trazer esses parceiros não apenas para o financiamento, mas para a definição de problemas a serem abordados, e também para o compartilhamento de bases de dados”.
Bases genéticas do envelhecimento
O Brasil hoje encontra-se num processo de transição demográfica com muitos paralelos no resto do mundo. Os avanços da urbanização e da medicina fizeram com que as pessoas tivessem cada vez menos filhos ao mesmo tempo em que vivem cada vez mais. Atualmente, já são mais brasileiros acima dos 60 anos do que abaixo dos 9, e a tendência é de que até 2060 mais de um quarto da população seja de idosos. Esse fenômeno desperta muitas questões sobre organização social e do trabalho, mas, acima de tudo, reacende a velha pergunta: como envelhecer com saúde e qualidade de vida?
O campo da genética tem muito a contribuir nessa questão, e avanços recentes só tornaram essas respostas mais promissoras. Para se ter uma ideia, o primeiro sequenciamento completo do genoma humano custou 3 bilhões de dólares e demorou 13 anos. Hoje, com as novas tecnologias em genômica, já é possível conhecer todo o material genético de um indivíduo em menos de duas horas e com um custo de 500 dólares. “Isso permite uma abordagem personalizada da medicina, estimando risco de doenças hereditárias e identificando mutações de interesse”, explicou Mayana Zatz.
Outra possibilidade é a criação de bancos de dados genéticos específicos para diferentes coortes da população. “Atualmente existe uma discrepância nos bancos genômicos internacionais, que tendem a super-representação de populações europeias”, afirmou Zatz, “nesse cenário, a diversidade étnica do Brasil é uma vantagem inestimável”. Como exemplo, a palestrante trouxe uma genotipagem feita de idosos brasileiros que revelou mais de 2 milhões de variantes genéticas desconhecidas. “Inclusive, identificamos algumas mutações cancerígenas em pessoas que nunca chegaram a desenvolver a doença. Talvez a diversidade possa ser um fator de proteção”, conjecturou.
Apesar desses dados serem promissores, o segredo da longevidade não está somente nos genes. “Diria que é 20% genética e 80% ambiente”, afirmou Zatz, lembrando que não existe uma única receita para se tornar um centenário. Entretanto, no que a genética pode contribuir as possibilidades são imensas, e a medicina do futuro tenderá a ser cada vez mais personalizada e preventiva. Além de conhecer nosso DNA, a pesquisa de fronteira possibilitou técnicas como a do CRISPR-Cas9 para edição gênica fina. “Combinando identificação de genótipos de interesse com edição gênica, podemos corrigir elementos deletérios e adicionar sequências protetoras para os mais diversos malefícios”, defendeu Zatz.
Potencial bioenergético brasileiro
A geração de energia é tema central para a economia e uma questão urgente para a ecologia. O petróleo hoje movimenta não apenas automóveis e máquinas, mas o próprio mercado financeiro. A dependência que a humanidade tem desse recurso é um dos maiores entraves para uma economia sustentável e ainda estamos distantes de uma solução. Mesmo o crescimento no uso de energias renováveis nos últimos anos não diminuiu a procura por petróleo, e isso nos obriga a considerar todas as alternativas. “Siga a energia e entenda a dinâmica da sociedade”, resumiu Gonçalo Pereira.
O palestrante fez uma enfática defesa dos biocombustíveis como a alternativa mais viável para substituir o petróleo, e também como uma área de potencial liderança brasileira. “O etanol é uma jabuticaba, por assim dizer, é uma grande oportunidade para o Brasil”, afirmou. Ele acredita que não existe um dilema de comida versus energia no país, como ocorria nos EUA na década de 80. “Temos imensas áreas de pasto improdutivas que poderiam facilmente ser adaptadas ao cultivo de biomassa”, defendeu.
O avanço brasileiro em biocombustíveis vai depender de investimento contínuo em pesquisa e inovação. O melhoramento genético pode aumentar ainda mais a produtividade da cana de açúcar. Outra possibilidade é o cultivo de agave, planta de semiárido que poderia ter muito sucesso no sertão brasileiro. “O sertão pode se tornar um pólo de biorrefinarias capaz de dobrar a produção de etanol brasileira”, sugeriu.
Para o palestrante, o fascínio atual com carros elétricos não se justifica pela sustentabilidade, uma vez que 85% da energia elétrica no mundo é produzida pela queima de combustíveis fósseis. “Emissões de carbono são um problema global e não local, não adianta nada reduzir em um lado para aumentar em outro”, explicou. Por fim, Pereira admitiu que motores elétricos tem maior eficiência energética que motores a combustão, mas defendeu que baterias movidas a etanol são mais eficazes e com menor risco ambiental e geopolítico do que bateriais de lítio. “A solução é bioeletrificar o etanol. Não é futuro, a tecnologia já existe”, finalizou.
Nanomateriais e aplicações
Nanomateriais são aqueles que estão na ordem de grandeza dos nanômetros, isto é, estão entre o tamanho de um vírus e o de uma molécula de DNA. São vários os exemplos de biomateriais utilizados hoje em dia, como transistrores (elemento mais básico de um chip), grafeno e nanotubos de carbono. O leque de aplicações desses compostos é imenso, e abrange a maioria dos setores econômicos, entre eles a indústria farmacêutica e eletrônica, o setor energético, telecomunicações e diversas engenharias.
Atualmente são cinco os INCTs trabalhando diretamente com nanomateriais. Pela própria diversidade de aplicações, esses institutos tendem a ser multidisciplinares e interagir fortemente com o setor privado. O Acadêmico Marcos Pimenta apresentou um pouco do INCT Nanomateriais de Carbono, que coordena. “A ideia central é que os compostos da eletrônica moderna, como os semicondutores, são majoritariamente a base de silício. Precisamos de alternativas para suceder o silício, e os nanomateriais de carbono tem propriedades muito promissoras”, explicou.
Conhecido como INCT NanoCarbono, o instituto aborda temas que vão desde problemas teóricos básicos, até soluções em sustentabilidade e aplicações industriais. “Participamos do desenvolvimento de cimentos mais resistentes com nanotubos, polímeros mais adaptados à extração mineral e de petróleo, e também de pesquisas com monitoramento e nanotoxicologia”, exemplificou Pimenta. Desde que foi fundado, o INCT se faz presente em 12 estados brasileiros, e auxiliou na formação de mais de 900 mestres e 500 doutores, e na publicação de mais de 1.200 artigos com impacto internacional. “Os recursos mais valiosos de qualquer país são as pessoas”, finalizou.