Vozes da Amazônia na COP30: Instituições, Comunidades e a Ciência que Move o Futuro

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O estande da Universidade Federal do Pará na Zona Azul da COP30 recebeu, no dia 19 de novembro, o painel “Ciência, Sociedade e Sustentabilidade: a voz das instituições brasileiras na COP30”, reunindo lideranças acadêmicas, representantes da comunidade científica nacional e pesquisadores da diáspora brasileira. O debate partiu da necessidade de integrar o conhecimento científico, a inclusão social e a participação territorial em um momento decisivo para a região amazônica.

A sessão foi moderada pelo professor Leandro Juen (Cisam/UFPA), membro afiliado da ABC no período de 2018 a 2023, que destacou que a transição climática só será possível se envolvermos instituições públicas, redes de pesquisa, populações amazônicas e a cooperação internacional. Segundo ele, “para fazermos a diferença na Amazônia, precisamos de todos. A ciência, sozinha, não transforma o território; ela precisa caminhar junto com quem vive a realidade amazônica.”

Leandro Juen, Gilmar Pereira da Silva, Adalberto Luis Val e Bruno Eleres

O reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gilmar Pereira da Silva, destacou que a universidade assumiu, de forma intencional, o papel de território da COP30, abrindo todos os seus espaços, campus do Guamá, Mercedários, Fórum Landi, Instituto de Ciências da Arte, Museu da UFPA, Escola de Aplicação e o Pavilhão da Blue Zone para acolher comunidades, pesquisadores, movimentos sociais, gestores públicos e parceiros nacionais e internacionais. Segundo ele, transformar a UFPA em um território de múltiplas vozes significou garantir que povos indígenas, camponeses, quilombolas, juventudes, artistas, agricultores familiares, pesquisadores e diferentes organizações sociais pudessem participar ativamente do diálogo climático.

O reitor ressaltou que essa construção se consolidou por meio do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia, que percorreu diferentes regiões do Brasil e realizou ações também em Portugal e na França, levando a universidade a escolas, aldeias, institutos, fóruns internacionais e espaços comunitários. O movimento resultou em sete volumes publicados em quatro idiomas, com cerca de 50 artigos que articulam ciência, território e políticas públicas, reforçando a presença amazônica no debate global.

Ele destacou que a UFPA organizou mais de 80 painéis na Blue Zone, reunindo pesquisadores, lideranças tradicionais, ministros, gestores, universidades e organizações da sociedade civil, ampliando as oportunidades de diálogo e cooperação. Para o reitor, essa experiência reafirma que a UFPA é uma instituição plural, comprometida com a produção de conhecimento e com os problemas reais da Amazônia, e que para garantir ensino, pesquisa e extensão de qualidade é necessário reconhecer de forma explícita o custo amazônico, marcado por desafios logísticos, distâncias continentais, assimetrias históricas e condições estruturais que exigem políticas públicas permanentes e investimentos diferenciados para que a ciência, a educação e as comunidades da região possam exercer plenamente seu papel no enfrentamento das mudanças climáticas.

O professor Adalberto Luis Val, vice-presidente regional Norte da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), reforçou que a justiça climática depende da participação territorial e da presença efetiva da ciência no cotidiano da Amazônia. Ele afirmou que a ABC já atua de forma consistente na região, mas precisa ampliar ainda mais sua presença física e seus mecanismos de escuta. Para ele, “justiça climática só existe quando quem vive na Amazônia participa das decisões. A ABC pode ser a ponte que transforme essa participação em política pública.”

Adalberto explicou que fortalecer a ciência amazônica requer três mudanças estruturais: financiamento contínuo e blindado contra oscilações políticas; infraestrutura científica estável com laboratórios, logística, conectividade e redes de monitoramento permanentes; e valorização institucional, com reconhecimento explícito de que INPA, MPEG, Mamirauá e as universidades amazônicas são ativos estratégicos do país. Além disso, destacou a urgência de ampliar as oportunidades para jovens cientistas, mulheres, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, garantindo bolsas, programas de mobilidade e espaços de decisão para esses grupos. Ele defendeu que a ciência amazônica deve ser tratada como prioridade nacional e internacional, conectada a redes globais, mas liderada por pesquisadores do próprio território.

O pesquisador Bruno Eleres, egresso do curso de Ciências Biológicas da UFPA e atualmente docente da Universidade de Regina, no Canadá, trouxe a perspectiva da diáspora científica brasileira. Ele destacou que sua experiência no exterior reforçou sua percepção da importância de instituições fortes e estáveis para sustentar grandes redes de pesquisa. Segundo ele, sínteses científicas, bancos de dados e programas de formação só funcionam quando há estruturas permanentes, e afirmou que o Brasil já deu passos importantes com iniciativas como Amazônia+10, as redes de INCTs e sistemas de monitoramento. Bruno ressaltou também a relevância de políticas de indigenização do conhecimento, como ocorre em universidades canadenses, onde a centralidade de povos indígenas no processo de pesquisa transforma currículos, governança e prioridades acadêmicas. Para ele, o Brasil está preparado para avançar nesse sentido e a COP30 evidencia esse momento. Sobre a cooperação internacional, defendeu que “a diáspora não existe para representar o Norte Global, mas para fortalecer o protagonismo amazônico. Cooperação internacional não é caridade; é co-navegação”. Bruno também destacou o enorme potencial da juventude amazônida, que combina profundo enraizamento territorial, engajamento social e capacidade científica. Ele apontou que ampliar as oportunidades depende de programas de mobilidade, de formação interdisciplinar e de redes maduras que conectem estudantes da Amazônia ao Brasil e ao mundo, sem romper seus vínculos com o território.

O painel foi encerrado reforçando que a COP30 representa uma oportunidade histórica para reposicionar a Amazônia no centro da agenda climática global. Os participantes destacaram que o legado do evento deve incluir instituições fortalecidas, redes de pesquisa consolidadas e políticas públicas orientadas pela ciência, pela diversidade e pela participação social. Para o professor Leandro Juen, “a COP30 mostrou que ciência forte nasce de redes fortes, e redes fortes só existem quando a Amazônia é protagonista, não objeto da agenda climática.

 

(GCOM ABC/ Leandro Juen)