“As soluções que buscamos precisam ser colaborativas, guiadas pela ciência e enraizadas na solidariedade”

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Presidente da ABC, Helena Nader defendeu a cooperação científica entre países do Sul Global para enfrentar os desafios da atualidade em seu discurso na abertura da 17ª Conferência Geral da TWAS, que aconteceu essa semana no Rio de Janeiro.

Ciência, tecnologia e inovação só podem gerar transformações reais quando colocadas a serviço da cooperação internacional. A afirmação foi feita por Helena Bonciani Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), em seu discurso na cerimônia de abertura da 17ª Conferência Geral da Academia Mundial de Ciências (TWAS), realizada no Rio de Janeiro, no dia 29 de setembro.

Nader destacou a urgência de fortalecer a ciência, a tecnologia e a inovação como motores de um futuro sustentável, porém, como frisou, só haverá progresso real se o conhecimento for compartilhado de forma equitativa entre países e regiões. “Nenhuma nação, por mais rica ou avançada cientificamente que seja, pode enfrentar sozinha os problemas globais”, afirmou.

Ao se dirigir aos representantes de mais de 60 países presentes no evento, Nader disse que a humanidade atravessa um período marcado por desafios sem precedentes: mudanças climáticas aceleradas, ameaça à biodiversidade, insegurança alimentar e energética, pandemias e desigualdades crescentes. Para ela, não existe solução isolada. “Nenhuma nação, por mais rica ou avançada cientificamente que seja, pode enfrentar sozinha os problemas globais. As soluções que buscamos precisam ser colaborativas, guiadas pela ciência e enraizadas na solidariedade”, afirmou.

A presidente da ABC, e também presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) ressaltou o papel da TWAS, que há quatro décadas atua para fortalecer a ciência em países em desenvolvimento, fomentar excelência acadêmica e promover cooperação internacional. A cientista também se manifestou em defesa da cooperação Sul-Sul como um dos pilares estratégicos para enfrentar os desafios da atualidade. Segundo ela, países da África, da Ásia, da América Latina e do Caribe compartilham não apenas dificuldades semelhantes, mas também um patrimônio riquíssimo de conhecimento, criatividade e resiliência.

Nader enfatizou o papel social da ciência na redução das desigualdades. Nesse sentido, ela defendeu a importância da diplomacia científica como instrumento para superar divisões geopolíticas e consolidar uma agenda global em que a cooperação seja vista como um imperativo. “Diante das crises globais, cooperação não é uma opção, mas uma necessidade”, disse.

A cientista encerrou sua fala conclamando a comunidade científica a ampliar parcerias e a investir na formação das novas gerações. “Se abraçarmos a colaboração, especialmente no Sul Global, e mobilizarmos ciência, tecnologia e inovação para o bem comum, poderemos construir um mundo mais justo, resiliente e sustentável”, concluiu.

Leia o discurso na íntegra:

Discurso na Abertura da 17ª Conferência Geral da TWAS

“Construindo um Futuro Sustentável: O Papel da Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Global”

Excelências, distintos colegas, estimados membros da TWAS, senhoras e senhores,

É uma honra dirigir-me a vocês hoje na 17ª Conferência Geral da TWAS, sob o tema oportuno e urgente: “Construindo um Futuro Sustentável: O Papel da Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Global”.

Como presidente da Academia Brasileira de Ciências e vice-presidente da TWAS para a América Latina e o Caribe, tenho plena consciência da responsabilidade — e da oportunidade — que compartilhamos. Ciência, tecnologia e inovação são os motores capazes de impulsionar o desenvolvimento inclusivo, a justiça social e a sustentabilidade. Mas só poderão cumprir esse papel se o conhecimento e a capacidade forem compartilhados de forma equitativa entre fronteiras e regiões.

Vivemos em um mundo que enfrenta desafios sem precedentes: mudanças climáticas aceleradas, ameaças à biodiversidade, insegurança alimentar e energética, pandemias e desigualdades crescentes. Nenhuma nação, independentemente de sua riqueza ou força científica, pode resolver sozinha essas crises. As soluções que buscamos precisam ser colaborativas, guiadas pela ciência e enraizadas na solidariedade.

É aqui que a TWAS desempenha um papel vital. Há quatro décadas, a TWAS tem se dedicado a fortalecer a ciência nos países em desenvolvimento, promover a excelência e estimular a cooperação que transcende fronteiras. Hoje, essa missão é mais crítica do que nunca.

Em particular, a cooperação entre países do Sul Global deve ser um pilar central de nossa estratégia. Nações da África, da Ásia, da América Latina e do Caribe compartilham não apenas desafios semelhantes, mas também uma riqueza de conhecimento, criatividade e resiliência. A colaboração Sul-Sul nos permite reunir recursos, compartilhar experiências e desenhar soluções adaptadas às nossas realidades. Ela nos capacita a sermos não apenas consumidores de conhecimento, mas produtores ativos de ciência e inovação.

O Brasil, e a América Latina de forma mais ampla, estão prontos para contribuir com esse esforço — por meio de parcerias em energia renovável, agricultura sustentável, proteção da biodiversidade e educação inclusiva em ciência e tecnologia. É também particularmente significativo que esta Conferência Geral esteja sendo realizada no Brasil, um país que recentemente sediou o S20 e a Cúpula do BRICS, reafirmando seu forte compromisso com o multilateralismo, com a colaboração científica e com a construção de pontes entre os países do Sul Global e o mundo em geral.

Junto com colegas de todo o Sul, podemos construir redes de excelência que fortaleçam nossa capacidade coletiva e garantam que nenhum país seja deixado para trás.

Mas também devemos reconhecer que ciência não é apenas sobre tecnologias ou laboratórios; é também sobre valores. Um futuro sustentável exige que a ciência sirva à sociedade, promova a equidade e atue como uma ponte para o diálogo e para a paz. A diplomacia científica pode nos ajudar a superar divisões geopolíticas e reforçar a ideia de que, diante das crises globais, cooperação não é opcional — é imperativa.

Colegas, o caminho à frente é desafiador. Mas, se abraçarmos a colaboração, particularmente dentro do Sul Global, e se garantirmos que ciência, tecnologia e inovação sejam mobilizadas para o bem comum, poderemos construir um mundo mais justo, resiliente e sustentável.

Que esta conferência nos inspire a aprofundar parcerias, a fortalecer as novas gerações de cientistas e a reafirmar a missão duradoura da TWAS: fazer da ciência uma força para o desenvolvimento global, a solidariedade e a esperança.

Muito obrigada.

Helena Bonciani Nader
Presidente da ABC
Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2025

 

(Daniela Klebis para o Jornal da Ciência, 3/10)