Palestras Magnas da Diplomação NE&ES 2025 abordaram IA e desinformação científica

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No dia 10 de setembro, a Academia Brasileira de Ciências realizou o Simpósio e Diplomação dos Novos Membros Afiliados da Regional Nordeste e Espírito Santo 2025, no Instituto de Pesquisa em Petróleo e Energia (LITPEG) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Durante a cerimônia, dois membros titulares da Academia foram convidados a ministrar palestras magnas.

Inteligência Artificial: Benefícios, Riscos e como está o Brasil

André Ponce de Leon Carvalho

O engenheiro eletrônico André Ponce de Leon Carvalho trouxe um panorama do desenvolvimento da inteligência artificial nos últimos cinquenta anos, desde os primeiros chatbots e máquinas de jogar xadrez até a revolução atual com ferramentas que alcançaram uso comercial disruptivo. Em 2024, o ChatGPT conseguiu passar no Teste de Turing, quando uma pessoa já não consegue diferenciá-lo de um ser humano. “Mas a IA não é uma ciência ainda, a gente vê o que ela pode fazer, mas sabemos pouco sobre o que está acontecendo por trás”, afirmou André.

Assistimos a uma explosão de investimento na capacidade de processamento para treinar inteligências artificiais, que causaram uma corrida tecnológica na qual só conseguem participar as maiores empresas e os países mais desenvolvidos do mundo. Nesse cenário, o aumento das desigualdades globais é um processo que já está em curso. Outros riscos são a proliferação de  armas cada vez mais automatizadas, a criação de golpes cibernéticos cada vez mais complexos e a proliferação de notícias falsas muito mais convincentes. Existem também os riscos sistêmicos, como o impacto da IA no mercado de trabalho e nos direitos autorais, e o crescimento no uso de água e energia, elevando emissões num momento de crise climática. “O pior risco é a sociedade perder o controle sobre a tecnologia”, refletiu o Acadêmico.

A situação do Brasil em IA não é animadora. Apesar de ser a 10ª economia do mundo e o 13º maior produtor de ciência, o país ocupa apenas a 30ª colocação em IA, muito por conta da nossa histórica baixa capacidade em inovação. Temos talentos em potencial, mas a falta de capacidade de investimento faz com que muitos procurem melhores oportunidades no exterior. Segundo o Acadêmico, nosso Plano Nacional em IA é pouco ambicioso quando comparado com o de outros países. “O Brasil não será competitivo, não está trabalhando para ser protagonista”, lamentou.

Desafios na luta contra a Desinformação Científica

Glaucius Oliva

O físico Glaucius Oliva, vice-presidente da ABC para a regional São Paulo, abordou a questão da desinformação através do relatório Desafios e Estratégias na Luta Contra a Desinformação Científica, publicado pela ABC em junho de 2024. Fruto do trabalho de um grupo de cientistas liderados pela afiliada Thaiane Moreira, o documento traz um panorama de como se dá a difusão da desinformação de ciência no Brasil, assim como estratégias para combatê-la.

As redes sociais e plataformas digitais são as maiores responsáveis pela explosão na desinformação científica nos últimos anos. Estas criam um ecossistema altamente lucrativo para que agentes desinformadores e pseudoespecialistas espalhem seus conteúdos impunemente. Os algoritmos de recomendação tendem a preferir conteúdos sensacionalistas e criam bolhas que retroalimentam os usuários com suas próprias crenças. “São verdadeiras câmaras de eco que servem para reforçar as convicções daquele grupo”, resumiu Oliva.

O Acadêmico também diferenciou os diferentes tipos de informação falsa. Há aquelas produzidas com o intuito de desinformar e há aquelas difundidas sem intenção. Existem também informações que são mal formuladas ou tiradas de contexto. Quanto às estratégias, existem aqueles que se apropriam da estética e da reputação de grandes jornais ou periódicos científicos, no que chamamos de fake news e fake science. Há ainda a proliferação da pseudociência, quando simplesmente não há formas de falsear uma informação; da anticiência, a negação completa dos métodos da ciência; e dos muitos negacionismos, geralmente impulsionados por lobbys que buscam criar discordâncias artificiais em pontos pacíficos, como a ocorrência da evolução biológica ou das mudanças climáticas.

Por fim, Oliva listou diferentes formas de enfrentamento do problema. É preciso preparar a sociedade para lidar com a desinformação, através do letramento científico e digital. Também é necessário investir em checagem dos fatos adaptada ao ambiente virtual. “Precisamos de projetos comunitários de ciência cidadã que nos ajudem a superar os desertos de informação que existem no país. As universidades precisam investir cada vez mais em jornalismo científico, levando o que fazemos para além de seus muros. Alguma forma de regulação também é necessária”, concluiu.

Assista às palestras de André Ponce de Leon, a partir dos 35m; e de Glaucius Oliva, a partir de 2h21m:

(Marcos Torres para ABC | Fotos: Duda Coutinho. 15/09/2025)