As 16 unidades de pesquisa ligadas ao MCTI (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação) podem fechar as portas por falta de recursos. Algumas já paralisaram ações, desligaram
maquinário básico e serviços, e reduziram equipes. O alerta foi soado pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e pela ABC (Academia Brasileira de Ciências). Algumas ações, como o monitoramento de desastres climáticos, correm risco de interrupção, e equipes inteiras estão em aviso prévio, alertaram as entidades. “Não se vislumbra a paralisação das atividades de qualquer vinculada”, diz o MCTI em nota, afirmando também acompanhar o orçamento diariamente.
Mas as suspensões já estão em curso, segundo apurou a Folha. Já há instituições paralisando atividades e reduzindo equipes. Levantamento feito pela SBPC e pela ABC constatou que estão ameaçados as infraestruturas de dados e conectividade, a preservação de acervos científicos e culturais, a manutenção de laboratórios, a operação de relógios atômicos, os
telescópios internacionais e o cumprimento de compromissos externos.
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“Estamos com dificuldade para pagar a conta de luz”, diz o pesquisador e vice-diretor da CBPF, João Paulo Sinnecker. “Se tiver interrupção severa de energia, pode afetar o parque de equipamentos, que foi conquistado com investimento do ministério e vale mais de R$ 100 milhões. As pesquisas serão afetadas”, diz Sinnecker. Isso sem falar dos laboratórios que
são disponibilizados para o uso por outras entidades. “Se são paralisadas as atividades de equipes de apoio, prejudica o ecossistema de pesquisa em física do país inteiro”, afirma.
A dívida com a provedora de luz Light está acumulada em R$ 540 mil. Questionado pela Folha, o MCTI declarou que “atua para sanear a pendência com a maior brevidade possível”.
Dados das unidades de pesquisa apontam que o esgotamento de recursos poderia ocorrer já em agosto para duas instituições (Mast e Inpa), em setembro para 11 (CPF, Insa, CTI, Cetem, Cemaden, ON, MPEG, IBICT, Inpe, Inma e LNCC), em outubro para uma (LNA) e em novembro para outras duas (INT e Cetene). Para o cálculo, foi considerado apenas o mínimo para a manutenção em funcionamento das instituições.
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O cenário para 2026 preocupa ainda mais. O PLOA (Projeto de Lei Orçamentária) prevê R$ 150 milhões a menos do que o necessário para a execução de tarefas, segundo avaliação das unidades de pesquisa. À Folha, a assessoria do MCTI afirmou desconhecer a cifra. “Cumpre ressaltar que o MCTI tem conhecimento das demandas das Unidades de Pesquisa e atua
visando o atendimento dentro das regras e limites fiscais do governo, tanto no que se refere ao orçamento do presente exercício quanto ao PLOA 2026.”
Em nota, a SBPC e a ABC recomendaram a concessão de créditos adicionais e suplementares em 2025, execução prioritária e não-contingenciada do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para apoio emergencial, articulação interministerial entre MCTI, Planejamento, Fazenda e Casa Civil, planejamento plurianual de financiamento e criação de mecanismos de estabilidade. As organizações também solicitaram a revisão do PLOA.
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