Como é fazer pesquisa nos arquivos secretos do Vaticano?

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Leia coluna do Acadêmico Rodrigo Toniol, professor de antropologia da UFF, para a Folha de São Paulo, publicada em 8 de julho de 2025:

Em 2020 os Arquivos do Vaticano foram rebatizados. Saiu a palavra “secreto” e entrou o termo “apostólico”. O prédio do agora chamado Arquivo Apostólico do Vaticano não é aberto ao público e fica em um lugar de acesso restrito, protegido pela Guarda Suíça.

Naquelas salas estão documentos que remontam há pelo menos 13 séculos. Para acessar essa documentação, algumas etapas são necessárias: é preciso ser pesquisador reconhecido ou apresentar uma carta de recomendação e enviar um projeto de pesquisa que justifique as buscas.

Uma vez aprovado pelo funcionário que avalia as admissões, o pesquisador recebe um documento que, ao ser mostrado à Guarda Suíça na entrada da Porta Angélica, abre todos os caminhos seguintes.

Não se pode entrar com nada no interior das salas de consulta do arquivo além de papel, lápis e computador. Fotografias são proibidas, de modo que os pesquisadores estão autorizados apenas a anotar ou transcrever o que encontram.

(…)

O trabalho de pesquisa é mais estafante e fragmentado do que sugerem os romances de Dan Brown: nada de encontrar, em um feixe de luz dramática, um documento com a localização do Santo Graal.

O que há são prateleiras, fichas, livros-índice enormes, muita poeira e a paciência de quem pode passar horas tentando decifrar a letra tortuosa de uma troca de cartas entre cardeais e o papa.

Se há algo que realmente impressiona quem está dentro do arquivo não é o que ele esconde, mas sim o que sua existência demonstra: uma instituição de quase 20 séculos com altíssimo grau de centralização, registro e ordenamento.

Não surpreende que os grandes debates sobre dogmas ou decisões administrativas estejam nos arquivos do Vaticano. O que impressiona mesmo é constatar o registro de questões ordinárias, como a dúvida de uma secretária paroquial do interior do Rio de Janeiro sobre a cor da pintura da igreja. Não é por acaso: além da culpa, a Igreja também inventou a racionalidade burocrática.

Leia a coluna na íntegra no site da Folha de S. Paulo

(Rodrigo Toniol para Folha de São Paulo, 8 de julho de 2025)