Dellagostin destaca avanço científico dos BRICS e propõe nova agenda de cooperação Sul-Sul

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Nos dias 24 e 25 de junho, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) organizou e conduziu o Fórum de Academias de Ciências do BRICS 2025, no Palácio da Cidade do Rio de Janeiro. O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e do Conselho de Administração do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o Acadêmico Odir Dellagostin, professor titular da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), apresentou a segunda conferência especial do Fórum das Academias de Ciências dos BRICS, em 24 de junho.

Aspectos científicos da cooperação Sul-Sul e das parcerias BRICS para o desenvolvimento social, econômico e ambiental 

Na exposição, Dellagostin comparou a evolução do PIB global de 2000 a 2024 entre os países do G7 — Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão — e o bloco dos BRICS. Enquanto a participação do G7 mostra declínio constante, a dos BRICS cresce de forma sustentada. O conferencista relacionou esse movimento à produção científica, que apresenta uma trajetória muito semelhante. Em 2022, a soma de artigos dos BRICS superou, pela primeira vez, a do G7. Em 2024, o bloco respondeu por 41 % da produção científica mundial, frente a 34,7 % dos países do G7 — um marco que reposiciona o eixo global de conhecimento em direção ao Sul

Odir Dellagostin em palestra no Fórum de Academias do BRICS | Foto: Mario Marques

 

Dellagostin apresentou um raio-X das áreas científicas mais produtivas em cada país do BRICS-Plus, oferecendo um quadro útil para a definição de parcerias.

Brasil — perfil de saúde e bioeconomia. Medicina lidera (26 %), seguida por ciências biológicas e agrárias (17,3 %). Engenharias (12,5 %), ciências sociais (12,2 %) e bioquímica/genética (10 %) completam o top-5. “A pandemia atingiu fortemente a ciência brasileira; só agora começamos a retomar o ritmo”, observou.

Rússia — núcleo duro em física e tecnologia. Física e astronomia (21,3 %) e engenharias (19,8 %) encabeçam a lista. Na sequência: medicina (16,1 %), ciência da computação (12 %), ciências da terra (11,4 %), ciências sociais (10,8 %), matemática e química (ambas 10 %). A produção caiu a partir de 2021, reflexo direto da covid-19.

Índia — corrida tecnológica contínua. Engenharias (31,5 %) e computação (24,9 %) puxam o crescimento acelerado, seguidas por medicina (18,9 %), física & astronomia (13,9 %), materiais (13,3 %) e matemática (11,1 %).

China — escala e diversidade. Engenharias (30,4 %) vêm à frente, depois computação (18,9 %), medicina (17,2 %), materiais (16,6 %), física & astronomia (15,3 %), química (12,1 %), bioquímica/genética (11,5 %) e matemática (10,2 %).

África do Sul — saúde e sociedade. Medicina (23,4 %) e ciências sociais (22,5 %) lideram; engenharias (12,7 %), ciências biológicas/agrárias (11,7 %) e ciências ambientais (10,8 %) completam o quadro.

Egito — expansão veloz. Destaques em medicina (23,6 %) e engenharias (20,6 %); materiais (13,7 %), química (13,2 %), bioquímica/genética (12,4 %), computação (12,2 %), ciências biológicas/agrárias (11,5 %) e física & astronomia (10,9 %).

Emirados Árabes Unidos — foco high-tech. Engenharias (27,9 %) e computação (25,9 %) somam 53,8 % da produção; medicina (17,9 %), ciências sociais (12,8 %), energia (10,2 %) e matemática (10 %) vêm depois.

Etiópia — agenda de saúde e agro. Medicina domina (35,5 %); ciências biológicas/agrárias (14,3 %), ciências ambientais (12,9 %), engenharias (11,3 %), ciências sociais (10,3 %) e ciência multidisciplinar (10,2 %) completam o perfil.

Indonésia — salto pós-2015. Ciências ambientais (20,4 %) lideram, depois engenharias (17,4 %), ciências sociais (16,5 %), física & astronomia (16 %), computação (15,9 %), ciências da terra (14,5 %), medicina (13,6 %) e ciências biológicas/agrárias (10,2 %).

Irã — forte em saúde e engenharia. Medicina (27 %) e engenharias (22,5 %) respondem por metade do total, seguidas por materiais (12 %), bioquímica/genética (10,7 %), química (10,6 %) e física e astronomia (10,3 %).

Malásia — tecnologia e sustentabilidade. Engenharias (26,8 %), computação (18,4 %), medicina (14,5 %), ciências sociais (13,4 %), materiais (12,8 %), ciências ambientais (12,4 %) e física & astronomia (12,2 %).

Nigéria — prioridades em saúde e ambiente. Medicina (25,9 %), ciências sociais (16,3 %), engenharias (16,2 %), ciências ambientais (13,3 %) e ciências biológicas/agrárias (12,3 %).

A apresentação completa pode ser acessada aqui.

Dellagostin chamou atenção para o fato de que as colaborações internas do BRICS ainda são modestas. O maior índice é o dos Emirados Árabes Unidos, onde apenas 4 % da produção científica tem coautores de outro país do bloco; o menor é o da China, com irrisórios 0,2 %. Segundo ele, a coautoria funciona como um termômetro de confiança: quando pesquisadores dividem um artigo, também compartilham dados, laboratórios e métodos, formando a base para projetos mais ambiciosos.

Apesar dos números reduzidos, já despontam parcerias concretas em três frentes estratégicas. A primeira abrange energias limpas e soluções climáticas, voltadas à construção de uma matriz energética segura e de baixo carbono para todas as economias do BRICS-Plus. A segunda concentra-se em saúde, vacinas e sistemas alimentares, com a meta de elevar a autossuficiência regional em segurança sanitária e nutrição. A terceira envolve inteligência artificial e infraestrutura digital, buscando posicionar o bloco como competidor tecnológico relevante ao mesmo tempo que reduz a exclusão digital entre seus membros.

Para que esses esforços ganhem escala, o palestrante defendeu a importância da cooperação multilateral e indicou três caminhos de política. Em primeiro lugar, propôs ampliar os fundos conjuntos de pesquisa, com financiamento correspondente entre os países participantes. Em seguida, recomendou expandir os programas de mobilidade acadêmica, simplificando vistos e concedendo bolsas para que pessoas e ideias circulem com mais agilidade. Por fim, sugeriu o compartilhamento de grandes infraestruturas científicas — como síncrotrons, biobancos e supercomputadores — sob regras claras de acesso aberto, de modo a aprofundar as parcerias intrabloco e acelerar o progresso dos membros mais recentes.

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(Elisa Oswaldo-Cruz com IA para ABC)