No dia 25 de maio, a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Bonciani Nader, proferiu a Aula Magna do Programa de Iniciação Científica de 2023 do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM), que é membro institucional da ABC.

A atividade envolveu os alunos do Passaporte Universitário e os professores orientadores, e abriu a semana de comemoração dos 209 anos do município de Maricá. Na ocasião, Nader ofereceu ao presidente do ICTIM, o biólogo e administrador público Carlos Senna, o diploma de Membro Institucional.

“Receber a doutora Helena Nader para a cerimônia consolida a ação da Iniciação Científica na cidade. Maricá tem potencial e vem demonstrando capacidade de solucionar diversas questões a curto prazo. O respaldo da ABC, agora mais próxima da nossa gestão, garante o reforço desse trabalho”, afirmou o presidente do ICTIM, Carlos Senna.

Presidente da ABC e biomédica, Helena Nader, destacou a necessidade do país ter políticas públicas voltadas para a educação, ciência, tecnologia e inovação e elogiou o programa municipal de pesquisas, que está em sua segunda edição. “No Programa de Iniciação Científica, os alunos bolsistas que estão na universidade buscam, junto com os professores orientadores, soluções concretas para a cidade. É muito criativo e bem elaborado”, observou Nader.

Acompanharam a presidente da ABC membros da equipe técnico-administrativa: o gerente administrativo e chefe de gabinete Fernando Carlos Azeredo Verissimo; a secretária-executiva de Programas Nacionais, Gabriella Fialho de Mello; a gerente de Comunicação, Elisa Oswaldo Cruz Marinho, autora das fotos; e o secretário-executivo de Relações Internacionais, Marcos Cortesão Barnsley Scheuenstuhl. Além do presidente do ICTIM, receberam os visitantes os diretores Cláudio Gimenez (Inovação e Científica) e Marcio Campos (Tecnologia).

Marcio Campos, Fernando Verissimo, Marcos Cortesão, Carlos Senna, Helena Nader, Gabriella Mello e Claudio Gimenez

Aula Magna

O tema da aula de Helena Nader foram os desafios para a ciência e tecnologia hoje no Brasil. A presidente da ABC contou um pouco da história dessas áreas no país, relatando que as primeiras tentativas de estabelecer a ciência no Brasil foram feitas no século XVII, durante o domínio holandês em Pernambuco. “Na sede da colônia de Nova Holanda, Recife, foram instalados um observatório astronômico — o primeiro do Hemisfério Sul — e um jardim zoobotânico — o primeiro do continente americano, onde foi reunida uma grande variedade de exemplares da flora e da fauna dos trópicos”, ressaltou.

Em seguida, afirmou que os brasileiros deveriam agradecer a Napoleão, pois foi em função da sua ameação de invasão a Portugal que a família real veio para o Brasil, e nosso país começou a vislumbrar um início de desenvolvimento. Ela enfatizou que, até então, o Brasil não possuía universidades, mídias impressas, bibliotecas e museus, em contraste com as colônias da Espanha, que tiveram universidades desde o século XVI.

Chegando ao Rio de Janeiro, D. João VI criou o Jardim Botânico (1808), a Escola de Cirurgia da Bahia (1808), a Escola de Anatomia Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (1808) a Biblioteca Nacional (1810), a Academia Naval Real e a Academia Militar Real (escolas das forças armadas, 1810). 

Assim, pode-se dizer que o ecossistema da ciência brasileira foi semeado no século XIX, com a chegada da família imperial em 1808, plantando, assim, as primeiras sementes desta construção que cresceu, vindo a florescer ao longo do século XX e início do XXI.

No caminho para os dias de hoje, no entanto, o país teve a República proclamada por um golpe militar, passou por outro em 1964, quando foi instalada uma ditadura. Nader lembrou ainda que o país teve seu 31º presidente civil indicado por um colégio eleitoral e apenas em 1990 veio a ter um presidente eleito pelo voto direto, numa nova fase da República.

Hoje o Brasil está em 12º lugar entre os 15 países com maior PIB no mundo, de acordo com o Banco Mundial, e em 10º lugar, segundo o Austin Rating. De qualquer forma, a distância que separa seu PIB daqueles dos países desenvolvidos é abissal, como se pode ver nos gráficos abaixo. E a pobreza e desigualdade continuam se abatendo sobre a maior parte da população.

Helena destacou que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, em comparação com os outros países da região, o coloca atrás de 15 nações: o Chile, que tem o maior IDH da região, além de Argentina, Bahamas, Trindade e Tobago, Costa Rica, Uruguai, Panamá, Granada, Barbados, Antígua e Barbuda, São Cristóvão e Névis, República Dominicana, Cuba, Peru e México.

Ainda assim, a expectativa de vida vem crescendo por aqui, em função dos avanços da ciência, especialmente na medicina. Mas os jovens, por outro lado, estão tendo cada vez menos filhos. “Isso significa que em 2050 o Brasil será um país velho, com uma carga enorme de aposentadorias para sustentar. E quem cuidará deles todos, se o número de pessoas jovens, em idade ativa, só está caindo?”, inquiriu Nader.

Por isso ela dá tanta importância à janela demográfica atual, reiterando que é preciso investir nos jovens agora, imediatamente, para que eles se tornem adultos bem formados, bem preparados, capazes de enfrentar e quem sabe driblar os desafios que se avizinham. Porém,  os índices educacionais do país não são nada animadores, com alta evasão do ensino médio já há alguns anos subsequntes e o desinteresse dos jovens pelo ensino universitário surgido nos últimos anos.

A pós-graduação de excelência, no entanto, na qual houve investimento contínuo por um tempo razoável, continua crescendo no país. E para onde vão esses poucos mestres e doutores? No momento, têm dado preferência a sair do país. Os que não conseguem ou que realmente têm um compromisso com a sociedade brasileira, ficam e lutam nas universidades e centros de pesquisa sucateados, conseguindo manter o país em 14º lugar no ranking internacional de número de publicações científicas. Mas o número de pesquisadores por milhão de habitantes no Brasil é muito pequeno, assim como a capacidade do país em de empregá-los. No ranking de inovação, como era de se esperar, o país está muito mal colocado. “Hoje, nossas três maiores exportações são soja (11,9%), minério de ferro (11,7%) e petróleo (8,1%), e somos reféns das altas e baixas nos preços desses produtos”, apontou Helena Nader.

E para mudar isso, na visão da biomédica, é preciso muito trabalho e vontade política. “É preciso que as indústrias voltem a crescer e oferecer empregos. E é preciso destinar ao menos 2% do PIB nacional para a ciência e a tecnologia. É o que todos os países desenvolvidos fazem quando enfrentam alguma crise”, enfatizou.

Mas 2023 está começando com algumas boas notícias, o que já mostra uma luz no fim do túnel. A aprovação da recomposição do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que vinha sendo contingenciado já há alguns anos, asfixiando a ciência brasileira, tem tudo para fazer a diferença. “E esse contingenciamento, diga-se de passagem, se deu repetidamente e de forma contrária à nossa Constituição, que diz claramente no artigo 218 do capítulo quarto: ‘A pesquisa científica básica e tecnológica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e inovação. A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional’”, argumentou a presidente da ABC.

E por isso, Helena está confiante que nos próximos anos o quadro vai mudar, com o resgate da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que foi ignorada e afrontada nos últimos quatro anos. Citando Philip Yang, em artigo de opinião publicado na Folha de S. Paulo em 2022, ela afirmou que não se produzem mudanças de paradigma sem o empuxo de políticas públicas e que o Brasil é uma potência ambiental, alimentar, energética, territorial e humana. “Nossos recursos de poder, que não são poucos, precisam ser articulados em torno da construção do que queremos ser: uma sociedade justa e próspera, diversificada, tolerante, antirracista e ecologicamente sustentável”.

Por fim, repetiu um trecho do Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2018, do Banco Mundial: “Os alunos de hoje serão os cidadãos, líderes, trabalhadores e pais do amanhã. Portanto, uma boa educação é um investimento com ‘benefícios duradouros’”. Nader declarou assertivamente que o Brasil precisa de Política de Estado para educação, ciência, tecnologia e inovação. “E repito meu bordão: nessas áreas não se gasta, se investe.” 

E é o que vem fazendo a cidade de Maricá, que se auto denomina “a cidade da utopia”.


Saiba mais sobrea visita e as atividades do nosso membro institucional, o ICTIM, na matéria a seguir: ICTIM: realizando sonhos no município de Maricá 

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