No dia 15/12, 5ª feira, o Instituto Internacional de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sediou o Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC da Regional Nordeste & Espírito Santo. O evento anual organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) celebra a recepção dos cinco jovens cientistas da região, eleitos para integrar a ABC por um período de cinco anos.

Sob coordenação do vice-presidente da ABC para a Região de NE & ES, Anderson Stevens Leonidas Gomes, foram diplomados Domingos Benício Oliveira Silva Cardoso (UFBA/JBRJ), Elisama Vieira dos Santos (UFRN), Josiane Dantas Viana Barbosa (Senai-Cimatec), Pedro Pedrosa Rebouças Filho (IFCE) e Rafael Chaves Souto Araujo (UFRN).

José Renan de Medeiros (UFRN), Pedro Pedrosa Rebouças Filho (IFCE), Rafael Chaves Souto Araujo (UFRN), Josiane Dantas Viana Barbosa (Senai-Cimatec), Sylvio Canuto (USP), Anderson Stevens Leonidas Gomes (UFPE), Domingos Benício Oliveira Silva Cardoso (UFBA/JBRJ) e Elisama Vieira dos Santos (UFRN)

Abertura

O coordenador do evento, Anderson Gomes, chamou para compor a mesa autoridades científicas do estado: Maria Lúcia Sampaio, representante da Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (Fapern); Sibele Berenice Castella Pergher, pró-reitora de Pesquisa da UFRN; Paulo Gustavo da Silva, pró-reitor de Extensão de Pesquisa e Cultura da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa); e José Renan de Medeiros, membro titular da ABC e professor da UFRN.

José Renan de Medeiros, Maria Lúcia Sampaio, Anderson Gomes, Sibele Pergher e Paulo Gustavo da Silva

Os convidados deixaram seus votos de sucesso para os jovens afiliados, com discursos breves: “É muito importante ver essa passagem, acompanhar o legado sendo passado de uma geração de cientistas para outra”, comentou Sampaio, emocionada.

O representante da Ufersa enalteceu a  presença de tantos  físicos e também de instituições altamente tecnológicas como o Instituto Internacional de Física da UFRN, que hospedou o Simpósio:.“Sabemos da importância de um evento como esses, a importância da física e de departamentos cada vez mais bem equipados, como o IIF.”

Anderson Gomes destacou o papel da ABC ao longo de um século de existência, ressaltando todo o empenho das diretorias anteriores em fazer com que a importância da ciência básica fosse reconhecida. Para ele, o papel da ABC extrapola o trabalho de excelência dos Acadêmicos dentro dos laboratórios ao abodar outros tópicos, mais cotidianos, que demonstram a importância da ciência no dia-a-dia: “De certa forma, a ABC tem a missão de alertar a sociedade sobre assuntos que, apesar de importantes, muitas vezes passam batido. A ABC está sempre na luta pelas causas que impactam diretamente na sociedade, como a questão política”, disse o cientista, referindo-se ao documento com sugestões para os novos gestores da área de CT&I no âmbito federal e estadual.

Membro da nova Diretoria da ABC, empossada na Reunião Magna de 2022, Gomes compartilhou alguns dos compromissos que ele pretende assumir no próximo ano: “Esse ano foi atípico, com Copa do Mundo e eleições. Mas temos uma programação de visitar todos os estados do Nordeste e o Espírito Santo para firmar uma interação entre a ABC e as universidades.” 

O desenvolvimento da ciência no Brasil e o desenvolvimento sustentável

Sylvio Canuto.

Dentro do tema que escolheu para proferir a Conferência Temática do encontro, o Acadêmico Sylvio Canuto afirmou que, apesar de todos os percalços e inconstâncias, o Brasil ainda é o país que mais produz artigos científicos na América Latina. Em 2020, a produção científica brasileira foi igual a soma da produção de outros sete países vizinhos juntos, na casa dos 95 mil. “Quero enfatizar o enorme sucesso que o desenvolvimento científico teve no Brasil”, apontou. “Em um período relativamente curto, atingimos um patamar bem alto, com destaque para as colaborações internacionais, presentes em 33,4% dos nossos artigos produzidos hoje.”

Para Canuto, que é professor titular da Universidade de São Paulo (USP), é bastante evidente a necessidade de um projeto de ciência para o país. “A ciência brasileira atingiu um certo grau de maturidade, de estabilidade, não é o momento certo nem pra estabilizar, muito menos pra andar pra trás”, afirmou. Para ele, a universidade e a ciência não só reagem ao negacionismo, como exigem reconhecimento pelo seu trabalho de excelência. Ele destacou a incansável luta da Academia Brasileira de Ciências no Congresso e a luta pela liberação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), lutas essas que envolveram diversas entidades, muitas delas componentes da Iniciativa de Ciência e Tecnologia para o Parlamento (ICTP.Br).

Canuto lembrou que os recursos científicos são finitos, o que exige, portanto, que haja cooperação e uso consciente. Ele citou como exemplo o Centro de Inteligência Artificial da Universidade de São Paulo (USP) e algumas boas práticas da instituição, como a participação em editais internacionais e maior aproximação com a indústria. 

Segundo o cientista, o mundo caminha cada vez mais para um esforço multidisciplinar – esta é a perspectiva dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, cujos desafios são abrangentes e multidisciplinares, como a saúde planetária, a nutrição mundial e a economia azul, entre outros. “O mundo mudou rápido e nós precisamos investir em globalização e internacionalização da produção científica, ou ficaremos atrasados”, ressaltou o pesquisador.

Outro foco dos ODS é a igualdade de gênero –  um objetivo ainda muito distante dentro do campo científico. Canuto avaliou conforme sua percepção enquanto professor do curso de física: a participação de mulheres durante a iniciação científica, por exemplo, é bem maior do que a dos homens, mas decresce conforme evolui a carreira, especialmente a partir do doutorado – período em que, pela idade, as mulheres são pressionadas para ter filhos. “É uma situação injusta”, ressaltou o palestrante.

Para enfrentar todas essas questões e alcançar o desenvolvimento sustentável, Canuto afirma que é importante que a comunidade científica tenha apoio. Para demonstrar isso, sociedade e cientistas precisam unir forças para buscar o apoio governamental. Ao fim, Canuto deixou um alerta: “Se não construirmos escolas agora, construiremos presídios no futuro.”

Os novos membros afiliados

Então, passou-se às apresentações dos membros afiliados, seguidas da diplomação. Conheça um pouco das trajetórias e das pesquisas de cada um dos diplomados na ocasião:

Ciência e arte para expandir horizontes
Domingos Cardoso é pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), e atua na catalogação e evolução da rica flora brasileira.

Aplicações da química no meio ambiente
A professora da UFRN Elisama Vieira investiga processos eletroquímicos para o tratamento de água e solos contaminados.

Materiais para uma vida melhor
Professora do Senai-Cimatec, na Bahia, a engenheira Josiane Dantas Viana Barbosa é especialista no desenvolvimento de materiais utilizados em diversos tratamentos de saúde.

Desenvolvendo tecnologias à serviço dos especialistas
Professor e pesquisador do IFCE, no Ceará, Pedro Pedrosa Rebouças Filho pesquisa inteligência computacional aplicada à análise de dados, útil para o desenvolvimento de tecnologias, assim como para o aprimoramento das já existentes.

Da paixão pela eletrônica até a informação quântica
O físico Rafael Chaves Souto Araujo é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e trabalha com informação quântica.

Celebrando o futuro

Felipe Bohn.

O professor da UFRN Felipe Bohn, membro afiliado da ABC eleito para o período de 2019-2023, foi o responsável pela saudação aos novos membros. Ele avaliou que o evento, além de celebrar os novos membros, celebra também a ciência e a educação, consideradas por ele “a única forma de prover a transformação que o país precisa”.

O Acadêmico contou que um dia decidiu analisar as bulas das vacinas disponíveis no mercado e se deparou com um novo desafio para os cientistas: escrever um texto que esteja no limite entre o científico e o compreensível para a ampla população. “Hoje, o mundo vive permeado de informações ligadas à ciência. Algumas informações básicas são fundamentais para nos manter vivos”, completou Bohn.

Ele considera surpreendente e até perturbador pensar que, nas circunstâncias em que vivemos, o movimento negacionista ainda exista e pior, aparenta até mesmo mesmo estar crescendo. “Acredito no potencial dos membros afiliados para contribuir com medidas que evitem a proliferação de notícias falsas e negacionismo.  Precisamos nos tornar influenciadores digitais, na busca por um amanhã melhor para as próximas gerações.”

As expectativas dos afiliados

Elisama Vieira.

Representando os novos afiliados, Elisama Vieira afirmou ser gratificante receber o título após mais um ano difícil para os cientistas, destacando a escassez de recursos e a falta de investimento como os principais desafios enfrentados ao longo do ano. “Isso serviu como combustível para que todos os cinco brilhantes cientistas continuassem produzindo, trabalhando e buscando novos resultados”, apontou. 

Ela agradeceu a oportunidade dada aos jovens cientistas e manifestou o desejo dos diplomados em contribuir com a Academia. Ressaltou, ainda, seu interesse pessoal em inspirar mulheres e meninas, além de todos os seus alunos – passados e futuros – na universidade. “Que nós possamos cumprir com a nossa responsabilidade dentro da Academia e aproveitar cada uma das oportunidades que tivermos ao longo dos próximos anos.”

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