Pedro Pedrosa Rebouças Filho tinha tudo para trabalhar com engenharia, matemática ou física. Por ter facilidade com números e raciocínio lógico, era natural que seus parentes e professores o incentivassem a seguir por essas áreas. No entanto, toda a pressão acabou afastando o jovem dessas carreiras, que acabou descobrindo outra paixão: consertar coisas.

“Me distanciei das áreas que me recomendavam, pois comecei a achá-las entediantes. Nunca gostei de uma área específica, sempre achei que as profissões nas quais se faz sempre a mesma coisa são enfadonhas”, comentou. “Ao mesmo tempo, eu gostava de analisar o porquê de as coisas funcionarem e porque quebravam, por exemplo. Consertei muitos eletrodomésticos na adolescência, até mesmo televisores.”

Esse gosto o levou a procurar novos cursos e assim conheceu a mecatrônica, área na qual se formou e na qual se dedica principalmente ao desenvolvimento de software e inteligência artificial. A escolha por ciência e pesquisa ocorreu de forma natural, muito por conta de seu interesse em temas diversos e pela vontade de se manter em constante aprendizado. Rebouças lembra do preconceito que sofreu por contrariar as expectativas, não apenas em relação ao curso, mas também em relação à carreira. “Faziam com que eu parecesse um louco por querer me dedicar a fazer o que poucos faziam, que era pesquisa.” Ele confidenciou ter muitas histórias marcantes, todas relacionadas a pessoas o incentivando a seguir por outras áreas ou desistir de fazer ciência e ser apenas professor. “Talvez sejam as mesmas histórias diárias que todos que fazem pesquisa relevante no Brasil contem”, palpita.

Nascido em 1984, na capital cearense de Fortaleza, Pedro passou a infância na rua e nas praias, principalmente na Praia do Futuro, ponto turístico da cidade – quando não estava estudando. Hoje, aos 38, se considera um “nerd diferente”, pois é ativo em atividades físicas como futebol, jiu jitsu, crossfit e musculação. Trocou os muitos livros que lia na juventude por filmes e séries, e não dispensa a companhia dos amigos nas festas de forró. Pedrosa é casado há mais de 12 anos e tem uma filha de quatro anos, a quem dedica boa parte de seu tempo livre.

Com a morte do pai, aos 14 anos de Pedro, ele que era o filho caçula tornou-se o único homem da família, de forma precoce. “Estaria mentindo se dissesse que não mudou nada”, desabafou. “Comecei a me mudar muito, bem como ter mais foco nos estudos, sem deixar de me divertir e fazer coisas de adolescente.” As duas irmãs mais velhas seguiram o padrão familiar de trabalhar na área rural: uma ingressou na faculdade de agronomia, que não concluiu; a outra optou por cursar zootecnia, no que se formou.

Pedro Rebouças ingressou no Instituto Federal do Ceará (IFCE) em 2004, quando deu início à graduação em mecatrônica industrial. Na faculdade, sempre fez iniciação científica; no entanto, o valor da bolsa era muito baixo, então, ele buscou outras fontes de renda no mercado. “Mantive a rotina de estudar em um turno, fazer pesquisa em outro e aplicar em empresas em outro, o que com certeza construiu o perfil que tenho hoje após tantos anos”, comenta.

Após concluir a graduação em 2007, o cientista concluiu o mestrado (2009) e o doutorado (2013) em engenharia de teleinformática pela Universidade Federal do Ceará (UFC). “O mestrado e doutorado foram épocas de crescimento em diversos níveis, não só de conteúdo. Posso dizer que a coisa mais importante foram as dificuldades passadas pela imposição de pessoas e pelo sistema, pois me fizeram ver o que de fato queria fazer e seguir na minha carreira. Ser cearense e ver a vida com bom humor ajudam quase sempre, então acredito que isso seja importante também.”

O Acadêmico atua com o desenvolvimento de tecnologias, assim como o aprimoramento das já existentes, voltada para o auxílio à especialistas usando inteligência computacional aplicada à análise de dados (som, texto, vídeo, imagem, gráficos, tabelas, exames clínicos). “Percebi que tão importante quanto propor tecnologias, desenvolver produtos para melhoria do dia a dia dos especialistas possui às vezes mais impacto a curto prazo”, comentou. “Então, tenho focado no desenvolvimento de aplicações web, mobile e embarcadas para fechar o ciclo de tecnologias aplicadas ao auxílio aos especialistas.”

Alguns dos exemplos de áreas em que é possível aplicar seus estudos são os processos de diagnóstico médico por imagem, tema que o Acadêmico estudou em seu pós-doutorado realizado na Universidade do Porto (FEUP), em Portugal, entre 2015 e 2016.

Atualmente, Rebouças é professor associado do IFCE, onde leciona nos cursos de mestrado acadêmico em ciências da computação e nos cursos superiores de engenharia mecatrônica e engenharia da computação. também é pesquisador e líder do Laboratório de Processamento de Imagens, Sinais e Computação Aplicada (Lapisco), onde realiza suas pesquisas acadêmicas e de desenvolvimento tecnológico desde 2012, executando projetos junto a empresas e órgãos de fomento. É docente dos cursos de mestrado e doutorado acadêmico em engenharia de teleinformática e engenharia elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Um de seus objetivos no magistério é justamente quebrar os paradigmas de ensino que a área de exatas carrega, como ter professores menos comunicativos e focados em geral apenas no conteúdo, não no aluno.

Ainda hoje, meses após sua eleição, o pesquisador conta que ainda não conseguiu processar por completo o título de membro afiliado da ABC. “Ser eleito soa como incentivo, diz que estamos num caminho certo. Desejo me aproximar dos demais membros e traçar caminhos em conjunto, junto com a ABC”, refletiu.

Apaixonado pela sua área de atuação, Pedrosa afirma que o que o encanta na ciência é a discussão embasada em conceitos consolidados, onde cada especialista enxerga características distintas no objeto de estudo e descreve de maneira única o que a priori seria um conceito padronizado. “A mente aberta, a necessidade de colaboração e empatia nas discussões que geram muitas vezes tecnologias de alto nível, isso é o meu maior encanto”, afirmou. “Trabalho desenvolvendo robôs [físicos ou conceituais], mas saber que preciso desenvolver humanos para realizar isso com sucesso é uma narrativa ambígua e cativante.