Rafael Chaves Souto Araujo nasceu em 1982, no Rio de Janeiro. Residiu no bairro das Laranjeiras até os três anos de idade, quando sua família se mudou para Uberaba, interior de Minas Gerais. Na nova cidade, o Acadêmico teve uma infância de muita liberdade, numa casa com um enorme quintal, cheio de árvores.

“Quando não estava a dez metros de altura pegando jabuticabas, estava na rua jogando bola, andando de bicicleta ou pescando em um lago próximo”, contou Rafael. Ele também adorava jogar videogame, mexer nas quinquilharias eletrônicas na oficina do pai e alugar fitas na videolocadora. Em Uberaba, a família cresceu: o Acadêmico ganhou uma nova irmã, seis anos mais nova, que hoje é mestre em geologia.

A proximidade com a natureza, o gosto por documentários sobre a vida selvagem e pela divulgação científica despertaram o interesse do Acadêmico por ciência. Rafael era fascinado pelo documentário “Cosmos” (1980), de Carl Sagan. Durante a adolescência, o rapaz era muito interessado por computadores, chegando a fazer um curso técnico em informática industrial no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). Boa parte dessa paixão veio por conta das horas passadas na oficina eletrônica do pai, nos fundos da casa da família. No local, o jovem Rafael passava um bom tempo brincando com osciloscópios (instrumentos de medida de sinais elétricos/eletrônicos) e placas eletrônicas.

Seu futuro na ciência da computação já era esperado. No entanto, um ano antes de fazer o primeiro vestibular, seus planos mudaram. Rafael começou a ler vários livros de divulgação sobre física, em particular astronomia, cosmologia, buracos negros e física quântica. “A verdade é que eu nunca havia gostado de física na escola, mas lendo estes livros fiquei fascinado com a teoria quântica e decidi, para a surpresa de todos, fazer o curso de física”, contou Araujo, que cionfessa não ter sido um bom aluno no ensino básico, mas recorda uma certa preferência por português e matemática.

Ao longo de sua aventura entre os inúmeros livros de física, o Acadêmico acabou tendo surpresas que quase fizeram com que ele mudasse seus rumos mais uma vez. “Lembro que comprei um livro chamado ‘O Físico’, do autor Noah Gordon, imaginando que seria sobre os físicos da antiguidade, mas na verdade era um romance sobre um curandeiro que viaja para a Pérsia para aprender a moderna medicina oriental. Esse livro me marcou muito e eu quase desisti da física para tentar o vestibular em medicina. Coincidência ou não, o nome do meu primeiro filho é o mesmo do autor.”

Rafael Araujo ingressou no curso de física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com apenas 17 anos, em 2000. Seu primeiro contato com a rotina de cientista foi durante sua primeira iniciação científica, no Laboratório de Demonstrações. Segundo ele, essa experiência foi essencial para despertar seu interesse pela divulgação científica, mas crucial também para mostrar sua total falta de habilidade experimental. “Meu interesse real sempre fora a teoria quântica e foi quando comecei uma iniciação com o professor Reinaldo Vianna, em informação quântica, que minha vontade de fazer pesquisa realmente floresceu”, ressaltou.

Jovem e vivendo as muitas emoções da graduação, Araujo lembra de ter ouvido um professor dizer que seu histórico “parecia uma montanha russa, ou eu estava lá embaixo ou lá em cima”. “Nessa época, eu estava mais interessado em ‘curtir a vida’”, confessa o professor, relembrando as vivências de seus quatro anos como aluno da UFMG. “Eu sempre ia muito bem em disciplinas teóricas como quântica, termodinâmica e física estatístic, mas ficava no limiar nos cursos mais experimentais.”

Quando começou o mestrado, também na UFMG, ele abriu um bar com mais dois amigos, experiência descrita por ele como “uma combinação que academicamente não foi muito produtiva”. Contudo, sua fascinação com a quântica acabou falando mais alto e, assim, decidiu mudar de ares e fazer o mestrado em teoria quântica de campos, com o professor Sebastião Dias, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), do Rio de Janeiro.

Já no fim do mestrado, em 2006, Araujo conheceu o grupo de óptica quântica e informação quântica da UFRJ, onde fez seu doutorado sob orientação do professor Luiz Davidovich, ex-presidente da ABC. “Essa foi uma época incrível, onde fiz grandes amigos, que continuam colaboradores científicos até hoje”, lembra o pesquisador. Ele finalizou o doutorado em 2010 e trabalhou como pesquisador pós-doutor no Institute for Photonic Sciences de Barcelona, na Espanha, e nos institutos de física das Universidades de Freiburg e Colônia, ambas na Alemanha.

Atualmente, Rafael Araujo é líder do Grupo de Pesquisa em Informação Quântica do Instituto Internacional de Física (IIP-UFRN) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal. É grantee do Instituto Serrapilheira e foi selecionado em 2020 como “Outstanding Referee” pela American Physical Society. É também professor da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT-UFRN) e professor permanente da pós-graduação do Departamento de Física da UFRN.

A informação quântica, área de pesquisa de Rafael Araujo, é um campo multidisciplinar que busca entender como usar sistemas regidos pela mecânica quântica para armazenar, processar, comunicar e criptografar a informação. Apesar de ter um caráter muito fundamental, as aplicações práticas são inúmeras: sensores mais sensíveis, simulação de sistemas complexos, novas criptografias e computadores quânticos, para citar algumas das mais notáveis. Araujo explica que sua pesquisa tenta navegar entre dois extremos. “Buscamos entender como fenômenos quânticos e sua aleatoriedade nos forçam a reavaliar nossa intuição mais básica sobre relações de causa e efeito. Temos obtido resultados fundamentais que sempre nos levam a melhores protocolos de comunicação e criptografia e até mesmo novos algoritmos computacionais.”

Um dos motivos pelo qual escolheu trabalhar com a ciência é a liberdade acadêmica. “A ideia de explorar o limite do conhecimento e descobrir novos fenômenos me fascina”, destacou o pesquisador. Na informação quântica, em particular, teoria e experimento, fundamentos e aplicações práticas, andam de mãos dadas. “Apesar da minha inabilidade experimental, vários de nossos resultados teóricos tem sido implementados por diferentes laboratórios ao redor do mundo. Ver as nossas ideias e cálculos em um pedaço de papel tomarem forma em feixes de laser e fótons emaranhados é algo espetacular e muito gratificante”, acrescentou.

Rafael Araujo avalia que, diante do cenário de negacionismo científico e completa falta de investimento, a ABC tem tido um papel fundamental para evitar o colapso da ciência nacional. Feliz com o título de membro afiliado, seu objetivo inicial é aprender com os colegas mais experientes, criar laços com pesquisadores de outras áreas e regiões e, através desta de rede de colaborações, contribuir para o desenvolvimento científico do país.

Sobre sua vida pessoal, Araujo conta que a literatura e a música são muito presentes no seu dia-a-dia. “Leio muitas biografias, ficção científica e principalmente livros de divulgação científica, nos mais variados temas”. Recentemente, o Acadêmico começou a escrever artigos de divulgação científica para o blog Ciência Fundamental da Folha de São Paulo, a convite do Instituto Serrapilheira, além de ter finalizado de um livro de divulgação sobre informação quântica, que será publicado ainda este ano pela Zahar. Desde que se mudou com a esposa, Anne, e os dois filhos, Noah e Luise, para Natal, no Rio Grande do Norte, tornou-se um entusiasta do surfe, da vida na praia e dos pés descalços na areia.