Apresentação de Maria Vargas durante o XIX Congresso Anual de Iniciação Científica (XIX),
com Eloiza Helena Tajara da Silva e Luiz Carlos de Mattos
A diretora da ABC Maria Vargas participou do XIX Congresso Anual de Iniciação Científica, organizado pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). O evento ocorreu de forma remota, em uma transmissão ao vivo que durou cerca de oito horas. Na ocasião, a cientista fez uma apresentação sobre as “Contribuições de Mulheres à Ciência”. Vargas é engajada na luta por ética e igualdade feminina dentro da universidade, sendo membro da Comissão Permanente de Equidade de Gênero da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Em sua apresentação, Vargas prestou uma homenagem às 60 mulheres vencedoras do Prêmio Nobel – um número pequeno, quando levado em conta o total de laureados (988). Mas esta realidade está mudando aos poucos. Nos últimos 22 anos, 30 mulheres foram premiadas – o dobro do número atingido nos 100 anos anteriores; um dos destaques dessa nova fase foram os laureados de 2009, quando dos 11 premiados, cinco foram mulheres.
A diretora da ABC citou os nomes de importantes vencedoras, como Marie Curie, a única mulher a ser laureada em duas categorias diferentes (física e química); Marie Goeppert Mayer, por seu trabalho com física nuclear; Donna Strickland, pelo aprimoramento das tecnologias do laser; e Andrea Ghez, responsável pela descoberta de objeto supermassivo no centro da galáxia. Além disso, Vargas também honrou as cientistas injustiçadas, como Johanna Döbereiner, membro titular da ABC. Considerada a cientista brasileira de maior projeção internacional até os dias de hoje, Döbereiner foi indicada na categoria de química em 1997, por conta de seu trabalho com a fixação biológica do nitrogênio. Ela demonstrou que era possível recorrer-se a certos tipos de bactérias que fixam o nitrogênio na sojicultura no Brasil, dispensando o uso de adubo mineral, caro e nocivo ao meio ambiente. Graças a sua descoberta, o país vem economizando, anualmente, cerca de U$S1 bilhão.
Mulheres no mercado científico
Apesar dos muitos progressos já feitos para incluir mulheres no mercado de pesquisa e desenvolvimento, o processo de mudança é lento: ainda hoje, há poucas mulheres no topo da carreira científica. O público feminino conta com pouca representação entre palestrantes de grandes conferências, revisores e editores de revistas e, principalmente, nos Ministérios. Vargas atribuiu essa desigualdade às características patriarcais sobre as quais o modelo científico se consolidou: a valorização da carreira em detrimento de si próprio e da família, a alta produtividade e o compromisso com o trabalho em tempo integral. Para ela, o fator-chave que demarca a diferença entre os gêneros é a maternidade.
“O que podemos fazer para mudar isso hoje? Não sei.”, disse a diretora, sincera. “Talvez o caminho seja educar os homens, de modo que participem igualmente dos cuidados com filhos e com o lar, além de ampliar o prazo para submissão de artigos para mulheres, especialmente para aquelas que são mães de mais de um filho”. Para ela, essas mudanças são essenciais dentro e fora da comunidade científica – que precisa buscar formas de abraçar não apenas mulheres, mas a diversidade em um todo: “Precisamos de mais modelos de carreira para que a sociedade seja mais igualitária no ponto de vista da participação da mulher. Um ambiente mais diverso é sinônimo de uma pesquisa mais aprimorada”, defendeu.
Assista à gravação do evento:
**A fala de Maria Vargas pode ser conferida a partir do minuto 00:14:13 do vídeo.