No dia 10 de outubro, o Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), localizado em frente à Redenção em Porto Alegre, foi palco da diplomação dos cinco novos Membros Afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para a Região Sul. Os jovens e destacados cientistas se juntam à ABC por um período de quatro anos, e tiveram a oportunidade de compartilhar um pouco do trabalho que os trouxe até aqui.

A categoria de afiliados foi criada em 2007 para trazer à Academia pesquisadores em meio de carreira com significativas contribuições à ciência nacional. Todos os anos, são eleitos cinco novos membros para cada uma das seis regiões administrativas da ABC. Na Região Sul, passam a integrar o corpo de Acadêmicos os seguintes nomes: Amurabi Pereira de Oliveira, José Rafael Bordin, Tiago Elias Allievi Frizon, Vinicius Farias Campos e Markus Berger Oliveira (que participou on-line por estar residindo nos EUA).

José Rafael Bordin, Vinicius Farias Campos, Tiago Elias Frizon e Amurabi Pereira de Oliveira (Foto: Rochele Zandavalli/UFRGS)


Conheça o trabalho e a trajetória dos novos Acadêmicos:


Exemplos para as novas gerações

Os novos afiliados foram recepcionados por uma mesa de abertura liderada pelo vice-presidente da Regional Sul, Ruben George Oliven. Completavam a mesa o diretor da ABC Alvaro Toubes Prata; o Acadêmico e diretor-presidente da Fapergs, Odir Antônio Dellagostin; os Pró-Reitores de Pesquisa e de Extensão da UFRGS, José Antônio Poli de Figueiredo e Adelina Mezzari; e o Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Flávio Fernando Demarco.

Adelina Mezzari, Ruben Oliven, Odir Dellagostin, José Antônio Figueiredo e FlávioDemarco (Foto: Rochele Zandavalli/UFRGS)

A mesa ressaltou a importância de reconhecer o trabalho de pesquisadores em ascensão, num momento em que a ciência brasileira enfrenta uma das mais graves crises de sua história. Nas palavras de Alvaro Prata, “a pesquisa nacional vive um processo de constante afirmação, e que isso só se dá pelo trabalho da comunidade científica”. Na mesma linha, Flávio Demarco destacou que “é crucial lembrar a importância do conhecimento em um período que se valoriza tanto a ignorância”.

O papel dos novos afiliados no estímulo às novas gerações de pesquisadores foi enfatizado durante toda a abertura, assim como a necessidade de o Brasil ter uma verdadeira política de Estado para CT&I. Por fim, Odir Dellagostin classificou a entrada na ABC como a “coroação de uma trajetória de sucesso”.

Os simpósios dos novos afiliados foram intercalados com duas palestras magnas, dos membros titulares Carlos Alexandre Netto e Thaisa Storchi Bergmann.


Neuroproteção pelo ambiente

Carlos Alexandre Netto (Foto: Rochele Zandavalli/UFRGS)

O médico Carlos Alexandre Netto destacou em sua apresentação a importância do ambiente para a saúde do nosso sistema nervoso. O cérebro é um órgão com alta plasticidade, ou seja, com muita capacidade de se transformar e se adaptar. A incidência de patologias como paralisia cerebral, autismo, epilepsia e Parkinson pode aumentar ou diminuir de acordo com nosso estilo de vida – ou de nossas mães, durante a gravidez.

Testes em modelos animais já mostraram, de forma contundente, a importância de atividades físicas e outros estímulos para a melhora cognitiva de camundongos com lesões cerebrais. Outros trabalhos evidenciaram que ninhadas cujas mães foram colocadas para nadar durante a gestação apresentaram resultados bem melhores em resposta e aprendizado. Apesar da maioria dos experimentos serem com camundongos, a proximidade evolutiva dos mamíferos nos permite supor que os mesmos mecanismos acontecem também em seres humanos, e isso cada vez mais se comprova por observações clínicas.

Netto finalizou a palestra com as célebres palavras do cientista espanhol Santiago Ramón y Cajal: “Todo homem pode ser escultor de seu próprio cérebro”.


Buracos negros supermassivos e a astrofísica atual

Thaisa Bergmann (Foto: Rochele Zandavalli/UFRGS)

Poucas coisas colocam nossa existência na Terra tão em perspectiva quando dimensionar o tamanho do universo. Só na Via Láctea existem cerca de 200 bilhões de estrelas como o nosso Sol, e a própria Via Láctea é apenas uma dentre 200 bilhões de galáxias no universo observável. No centro desses grandes conglomerados de astros, geralmente se encontram estruturas singulares e instigantes: buracos negros supermassivos, cujo tamanho pode chegar a um bilhão de massas solares!

Thaisa Bergmann mostrou em sua palestra um pouco sobre como é estudar esses objetos. Nossa capacidade de entender o espaço sideral dá saltos à medida que novos telescópios são colocados em órbita. O último foi o James Webb, que nos permitiu enxergar mais fundo do que jamais sonhamos, e a partir do qual os cientistas esperam ver o momento em que surgiram as primeiras estrelas. “Na astrofísica, temos o privilégio de poder ver toda a história do universo, quanto mais longe olhamos, mais no passado enxergamos”, resumiu a Acadêmica.

Encerrando com esperança

Eduardo Zimmer (Foto: Rochele Zandavalli/UFRGS)

Para completar a recepção, o membro afiliado Eduardo Zimmer foi convidado a discursar para os novos Acadêmicos. Ele recitou o poema “Por que cantamos”, do uruguaio Mário Benedetti, da qual destacam-se abaixo alguns trechos:

“(…)

se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos 
antes mesmo de explodir a vergonha

você perguntará por que cantamos

(…)

cantamos pela infância e porque tudo
e porque algum futuro e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos

cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota

(…)

cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.”

Após a bela homenagem, Amurabi de Oliveira discursou em nome dos novos membros. Ele destacou que essa nova geração já viveu momentos de altos e baixos da ciência nacional e que, por isso, devem mostrar para as próximas que nada dura para sempre, e que sempre há esperança no horizonte.

“Ser diplomado hoje é uma honra pois é um reconhecimento de nossos pares, é olhar para trás e ver que todo o sacrifício valeu a pena”, declarou. Por fim, agradeceu àqueles que o antecederam e lembrou aos alunos e jovens cientistas da plateia: “Amanhã serão vocês a ocuparem esse espaço”.

Para encerrar, o vice-presidente regional da ABC Ruben Oliven deixou uma mensagem: “O esforço não é, e nunca será, em vão. Os tempos são difíceis, mas tenham a certeza de que trilhamos o caminho certo”.

 

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