No workshop sobre comunicação científica realizado no Fórum Mundial de Mulheres para Ciência, promovido pela ABC nos dias 10 e 11 de fevereiro, a jornalista especializada em ciência Meghie Rodrigues deu dicas básicas para a boa comunicação entre cientistas e jornalistas e entre cientistas e a sociedade. Ela já escreveu para a SciDev.Net, Chemical & Engineering News, Scientific American e outras mídias especializadas sobre astronomia, mudanças climáticas, tecnologia e política científica. Atua como roteirista de vídeos de astronomia no Giant Magellan Telescope Brazil Office (GMTBrO), em São Paulo.
Comunicação científica: como, por que e para quem?
Tratando da escrita científica para o grande público, Meghie ressaltou sua importância para ampliar o alcance da ciência. Apontou que, além da interação com os pares, a comunicação científica é importante “para ajudar no combate a informação falsa, conquistar a confiança das pessoas e informá-las, de modo que elas possam tomar decisões melhores, e dar retorno aos apoiadores e patrocinadores.”
Para contar uma boa história, ela disse que é preciso ter boas ideias e envolver emocionalmente as pessoas. Mas, em ciência, muitas vezes as ideias que precisam ser explicadas são difíceis. Por isso, Meghie destaca que é fundamental ter em mente o público-alvo. “Explicar um conceito científico para um estudante de ensino médio é diferente de explicar para uma criança de sete anos. É diferente também de explicar para um idoso com baixa escolaridade, por exemplo. A linguagem muda, a profundidade também”, apontou.
A ideia de que seu ouvinte ou interlocutor é uma tábula rasa deve ser evitada, de acordo com Meghie. Para falar sobre sua pesquisa para alguém, é bom que o cientista faça perguntas, para entender qual o conhecimento prévio daquele grupo ou indivíduo sobre o assunto. “Cada pessoa ou grupo tem ideias e um corpo de conhecimentos próprios. Isso deve ser sempre levado em conta”, alertou a palestrante.
Ela deu algumas dicas para ajudar na comunicação. Simplificar conceitos, por exemplo, é uma boa tarefa para o cientista, para que o conteúdo esteja correto, mas compreensível. E para facilitar essa compreensão, boas comparações são um ótimo caminho. Meghie deu como exemplo uma informação sobre o alcance de um determinado telescópio, para explicar o que seria uma resolução angular de 20 micro-arcseconds. “Você pode dizer que é o suficiente para ler um jornal em Nova Iorque estando num café de rua em Paris. Para um determinado público, dá visualizar isso com facilidade”, argumentou. Metáforas também são muito úteis, mas requerem cuidado na escolha das palavras. “Falar sobre ‘a guerra da ciência’ não é uma boa ideia, por exemplo, porque provoca uma associação com a existência de um ‘inimigo’, um sentimento negativo”, disse a especialista.
O uso de vocabulário simples, familiar, é outra dica, pois estimula o ouvinte ou leitor a continuar atento. A dica é: evite o uso de jargões. Exagerar um pouco também pode ajudar a compreensão, mas é arriscado. Meghie confessou que reconhece que esse recurso é o que causa mais ruído entre cientistas e jornalistas, porque muitas vezes, para “vender” um conteúdo, o jornalista exagera demais e isso é negativo para a credibilidade científica.
Usar números e curiosidades é um ótimo recurso, “Por exemplo, para ajudar na compreensão da ideia de que um humano médio tem em torno de 39 trilhões de células bacterianas vivendo entre 30 trilhões de células humanas, você pode optar por dizer que nosso corpo tem partes iguais de células humanas e micróbios”, ponderou.
E o que é que torna uma notícia interessante? De acordo com Meghie, há algumas referências básicas: ser algo que é próximo da realidade do leitor ou ouvinte, ser relevante, provocar emoção ou ser uma emergência. “Pense na sua área de pesquisa. O que você acha que daria uma boa história? Para quem a história teria interesse potencial? O que poderia ser a chamada? Escreva!”
Para guiar essa escrita, Meghie deu o roteiro básico da informação: deve conter “o que”, “quem”, “quando”, “onde”, “como” e “porque”. “Normalmente, o ‘como’ e o ‘porque’ vem depois, ao longo do texto. As outras informações devem estar logo no início, chamando para a leitura”, apontou.
Mas atenção: cada mídia tem uma determinada audiência e, com isso, uma abordagem própria, inclusive na seleção de temas e conteúdos. “Lembrem-se de que conhecer seu público é o que vai definir sua abordagem”, reiterou a jornalista. “E conhecer mais sobre as diferentes mídias sociais também.”
Jornalistas e cientistas juntos
A palestrante apontou algumas diferenças entre as duas profissões. O tempo do jornalista é sempre de urgência e o do cientista, mais lento. A linguagem do jornalista é mais objetiva e direta, diferente da linguagem do cientista. E as prioridades, também. “Os valores, para a mídia, são diferentes dos valores para a ciência”, ressaltou Meghie.
Ela mostrou em imagens a diferença entre os processos. “A pirâmide invertida, tão cara ao jornalismo, prioriza o conteúdo que, num discurso científico, não viria em primeiro lugar: os resultados e a discussão”, explicou. O que seria a primeira parte de um processo narrativo para um cientista, a introdução, para o jornalista é o que fica na base da pirâmide.
No entanto, segundo Meghie, as duas profissões compartilham uma premissa importante: tanto o trabalho do jornalista quanto do cientista envolve investigar coisas novas e dar-lhes visibilidade.
Arrematando, a palestrante reforçou: “Escrevam de forma clara, concisa e estruturada, com parágrafos que contenham sempre uma ideia central. Fiquem atentos à gramática. Usem frases curtas e apenas as necessárias. Prefiram afirmações positivas. Expliquem apenas o bastante e evitem opinar. Mas, principalmente, escrevam”.
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