Dentre os animais terrestres vertebrados, as salamandras são os únicos que podem regenerar braços e pernas. E, por muito tempo, a origem evolutiva dessa capacidade permaneceu um mistério: teriam esses anfíbios evoluído a regeneração recentemente, ou esta seria uma herança de seus ancestrais – tetrápodes, os primeiros animais de quatro patas?
Liderada pelo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e chefe do Laboratório de Evolução e Desenvolvimento (LED) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Igor Schneider, a pesquisa “Origem evolutiva profunda da regeneração de membros e barbatanas” mostrou que a regeneração de membros em salamandras pode ser mais antiga ainda, tendo surgido no ancestral de todos os peixes, antes mesmo da origem dos tetrápodes.
Sabe-se que os membros dos tetrápodes surgiram a partir da modificação das nadadeiras dianteiras e traseiras dos peixes. Segundo os pesquisadores do LED/UFPA, diversas espécies de peixes possuem, ainda hoje, a capacidade de regenerar completamente suas nadadeiras.
E, analisando a atividade de genes durante a regeneração de nadadeiras no peixe africano Polypterus, os cientistas notaram que o programa genético responsável por este processo é muito semelhante ao utilizado pelas salamandras na regeneração de seus membros.
O peixe africano Polypterus.
Como resultado do trabalho, os pesquisadores apontam que o programa genético para regeneração de membros é muito antigo e, apesar de ainda presente em peixes e alguns anfíbios, foi de alguma maneira desativado na linhagem que deu origem a répteis, aves e mamíferos. Além disso, eles identificaram um grupo de genes que são ativados logo no começo da regeneração em salamandras e peixes, que podem ser fundamentais para dar início a este processo.
“Acreditamos que esta abordagem evolutiva pode nos ajudar a identificar um programa genético essencial para a regeneração e, eventualmente, facilitar a ativação deste programa em mamíferos, que são incapazes de regenerar membros”, afirmou Schneider.
Além dos demais cientistas do LED/UFPA, a pesquisa contou também com a participação do Instituto Tecnológico Vale; do Museu Paraense Emilio Goeldi; do Museu de História Natural de Berlim, na Alemanha; da James Madison University e Michigan State University, nos Estados Unidos. Para conferir a publicação na revista oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, clique aqui.