Com Richard Leakey, Stephen Hawking e diversas edições da National Geographic na estante da sala, para Gustavo Silva Wiederhecker o fascínio pela ciência veio de berço. Agora, o físico assume o papel de autor e publica suas próprias descobertas científicas, por meio das quais busca compreender a propagação da luz na escala nanométrica, utilizando a nanofotônica.

Natural de Goiânia, capital de Goiás, Gustavo nasceu em 1981. Cresceu brincando de pique-pega e bandeirinha, sempre acompanhado das duas irmãs e dos vizinhos da rua. “Não me lembro de dar muita bola para a escola antes do ginásio, mas me recordo do frio na barriga nas competições de tabuada que ocorriam na segunda série”, ele confessa. Foi só no ensino médio que descobriu o amor pela matemática, física e química.

Na família, Gustavo já tinha alguns exemplos que o faziam acreditar que a carreira em medicina seria a escolha certa. Mas, ironicamente, foi quando conheceu a profissão de perto que optou de vez pela física: “Certo dia, meu primo levou-me para um de seus plantões, justo no hospital de doenças tropicais em Goiânia. Foi o empurrão que precisava para desistir da ideia”.

Depois dessa experiência, mudou-se então para São Paulo para cursar o bacharelado em física na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de 2000 a 2003. Graças ao amigo Andrés, que conheceu ainda no início da faculdade, ficou sabendo do trabalho com fenômenos não-lineares em fibras ópticas do professor Hugo Fragnito e, já no terceiro semestre, começou a iniciação científica na área. No laboratório do professor Fragnito, pode pesquisar em parceria com Thiago Alegre, seu colega também de afiliação na Academia Brasileira de Ciências (ABC).

De 2004 a 2008, Gustavo realizou o doutorado sanduíche em física pela Unicamp e pelo Max Planck Institute for the Science of Light, na Alemanha. Antes de chegar ao seu destino, o físico ainda passou um mês na Universidade de Bath, no Reino Unido, sob a orientação do professor Jonathan Knight. Além dos professores Knight e Fragnito, ele lembra os professores Hugo Hernandez-Figueroa e Philip Russell como grandes inspirações durante o período de doutorado.

Em 2008, Wiederhecker fez estágio de pós-doutorado nos Estados Unidos, na Universidade de Cornell, onde ficou até 2011, quando passou a dar aulas no Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp. E lá continua, fazendo pesquisas na área de nanofotônica, utilizando a escala manométrica – cerca de mil vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo.

“Nestas dimensões, o comprimento de onda da luz é comparável ao tamanho da estrutura que a confina. Uma consequência importante de aprisionarmos a luz em um espaço tão pequeno, é que o campo eletromagnético associado a ela pode se tornar extremamente intenso. Esta alta intensidade modifica a interação da luz com a matéria: é como tentar entender o movimento de uma canoa em mar tempestuoso”, explica.

O físico complementa ainda que com o desenvolvimento dos computadores, tablets e celulares, se torna cada vez mais necessária a integração de luz nos chips eletrônicos, estando aí a importância tecnológica da nanofotônica.

Sobre o título de membro afiliado da ABC para o período de 2019 a 2023, Wiederhecker declara: “É uma grande honra. Naturalmente, o vejo com um reconhecimento dos pares pelo trabalho que venho fazendo – e também uma cobrança. A ciência brasileira enfrenta diversos desafios, desde sua divulgação e reconhecimento pela nossa sociedade – que padece de educação de qualidade – até a luta por financiamento e desburocratização dos processos”.

Pai de dois filhos, o cientista tem buscado equilibrar o trabalho na universidade com a vida familiar. Em casa, estimula as crianças a serem criativas e a questionarem sempre. E é isso que deseja também para os jovens brasileiros, pretendendo assim utilizar o espaço na ABC para a divulgação científica, visando estimular a juventude do país a fazer ciência.