Uma pesquisa do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) utilizou dados de gravidade de satélite para revelar a extensão da crosta terrestre formada há bilhões de anos na Amazônia. O estudo, realizado na Província Mineral dos Carajás, teve o objetivo de compreender o contexto em que certos tipos de depósitos se formaram e tem implicações importantes para a prospecção de depósitos de cobre, metal considerado estratégico devido à sua aplicação na indústria atual e futura de carros elétricos.

Imagem de satélite de alta resolução espacial e em cores reais, mostrando a região de Carajás.

O estudo faz parte da tese de doutorado do aluno João Gabriel Motta, bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), num projeto coordenado pelo Acadêmico Carlos Roberto de Souza Filho, financiado também pelo CNPq. O trabalho evidenciou que as áreas favoráveis para a existência de depósitos minerais naquela região são mais amplas do que se imaginava, o que significa uma expansão dos terrenos que podem conter depósitos de cobre ainda desconhecidos.

O artigo com os resultados obtidos foi publicado em 22 de fevereiro no periódico Scientific Reports, pertencente ao grupo Nature, e contou ainda com a autoria dos professores Emmanuel John M. Carranza e Carla Braitenberg, respectivamente da Universidade de KwaZulu-Natal (África do Sul) e Universidade de Trieste (Itália).

Para realização da análise, os cientistas utilizaram dados de duas missões de satélites que foram disponibilizados gratuitamente pelo Gravity Observation Combination Version 05 – um modelo de representação da gravidade terrestre composto por informações obtidas pela Agência Espacial Europeia (dados GOCE) e pela NASA e Agencia Espacial alemã (dados GRACE).

Esses dados foram processados para a obtenção da Anomalia Bouguer Completa – um produto que possibilita a interpretação da estrutura da Terra a respeito da possível densidade dos materiais presentes e sua disposição na crosta. Posteriormente, os resultados foram validados com a interpretação conjunta de dados de magnetismo e gravidade adquiridos por plataformas aerotransportadas e de estudos sismológicos terrestres, além de informações sobre a idade de cristalização das rochas e do material dos quais são formadas.

Mapa ilustrando anomalias gravitacionais em profundidade.

Resultados

A pesquisa revelou que a macro-estrutura geológica da região estudada é mais complexa do que se antecipava. Por exemplo, os terrenos localizados ao norte de Carajás, embora apresentem características distintas de terrenos vizinhos na perspectiva de superfície, compartilham atributos em maior profundidade ao longo da crosta e no manto litosférico. Com base nessas observações, os autores propõem novos limites para os terrenos da região de Carajás, confrontando 40 anos de geologia isotópica desenvolvida naquela área.

Mapa com variação da topografia superficial da região de Carajás. Vermelho indica as áreas mais altas (~760m); azul mais baixas (~2m).

“Em uma ótica prática, as nossas evidências e interpretações possibilitaram estender as áreas favoráveis para a existência de depósitos de cobre na Província Mineral de Carajás”, afirma João Motta.

Ineditismo

Os autores explicam que a inovação do trabalho foi integrar dados gravimétricos e magnetométricos de várias fontes e validar observações extraídas de dados geofísicos orbitais, que são distribuídos gratuitamente e têm cobertura global. A gravimetria orbital, em particular, revelou informações geológicas inéditas desde a superfície até grandes profundidades da crosta terrestre.

“A gravimetria é uma ferramenta geralmente utilizada para a exploração geológica, mas com dados terrestres ou adquiridos por plataformas aerotransportadas. Embora já tenha sido utilizada para análise de regiões que hospedam depósitos minerais, os resultados até então eram limitados e restritos a análises em escala continental. Nosso estudo, expandiu essa noção, focando, talvez pela primeira vez, na associação entre estruturas profundas e depósitos minerais, que têm seus traços em várias escalas”, afirma o professor Carlos Roberto.