O Acadêmico Adalberto Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e co-coordenador do evento, proferiu a palestra especial do terceiro dia do Simpósio Brasil-França sobre Biodiversidade. Ele abordou a capacidade adaptativa dos peixes amazônicos aos ambientes heterogêneos e dinâmicos da bacia amazônica e como eles estão ameaçados por mudanças antrópicas, ou seja, provocadas pelo homem.
Val destacou a importância do conhecimento de tais adaptações para o entendimento dos efeitos das mudanças climáticas sobre esses animais.
Mostrou também que a Amazônia apresenta a maior biodiversidade de peixes da água doce do planeta e que essa diversidade é acompanhada por outros grupos animais e vegetais, tanto no ambiente aquático como no terrestre.
Ele apresentou a heterogeneidade dos ecossistemas aquáticos, que apresentam diversas origens e, por isso, têm características diferentes, tais como temperatura, pH (acidez) e oxigênio. “Pode haver falta de oxigênio durante a noite até excesso de oxigênio durante o dia”, explicou Val, destacando que tais características foram moldadas durante a formação da bacia amazônica e estão refletidas na diversidade de peixes.
O Acadêmico mostrou que os peixes podem servir de indicadores na busca de estratégias adaptativas aos ambientes mutáveis, motivo pelo qual é importante compreender como esses animais conseguem conviver com mudanças de curto, médio e longo prazos. Para tanto, são desenvolvidos estudos que visam entender como os peixes sobreviveram a processos geológicos durante a formação da bacia; como estão sobrevivendo a processos gradativos, tais como o aumento progressivo da temperatura média do ambiente e sua acidificação (aquecimento global); a resiliência das diferentes espécies a processos agudos de modificações na qualidade da água, como aqueles provocados pelo homem por meio da poluição urbana e industrial. “Isso é importante para a segurança alimentar, que precisamos garantir, ressaltou o biólogo.
Para tanto, é necessário garantir a variabilidade genética original das populações em seu ambiente natural, bem como garantir que a qualidade da água não se altere a ponto dos animais perderem sua habilidade em diversos processos, tais como respiração, balanço iônico, alimentação, dentre outros. “Ao estudarmos as alterações que ocorrem nos peixes simulando os cenários futuros, como os previstos pelo IPCC [sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] para o ano de 2100, podemos entender o quanto a biodiversidade será afetada e tentar proteger as espécies mais sensíveis a esses cenários”, informou Val. E acrescentou:“Estamos interessados nesses estudos para adotar medidas de manejo do sistema, com vistas à qualidade do ambiente, que é extremamente importante para o bem estar do homem”.
O Acadêmico também demonstrou que algumas espécies têm capacidade de habitar os diferentes ambientes e, para tal, mudar suas características genéticas por meio de alterações na expressão de alguns genes. “Algumas espécies apresentam plasticidade fenotípica, o que é muito favorável ao estabelecimento das principais estratégias naturais que se pode esperar dos organismos. Esse conhecimento pode ser utilizado, futuramente, na proteção dos organismos atingidos por poluentes ou outros agentes danosos, como alta temperatura e acidez no meio celular”, esclareceu o Acadêmico. “É necessário compreender como a natureza evolui para protegê-la de futuras ameaças”, observou.
Ao finalizar sua palestra, Val ressaltou a importância da reunião das Academias e como o encontro estava sendo produtivo: “Hoje não fazemos mais ciência sozinhos, precisamos de cooperação científica, construída a partir de discussões entre vários grupos de pesquisas. Esses grupos foram se especializando nas mais variadas vertentes da ciência; agora, precisamos interagir para explorar suas interfaces. A biodiversidade é a questão chave para isso, não é um elemento único, é multidimensional e interdisciplinar”, concluiu.